SÃO PAULO - A toalha branca e o paramento continuam sobre o altar. Os castiçais permanecem ao lado do crucifixo ainda intacto em pé. Apesar da queda de 90% do telhado e de uma parede da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, o altar está da mesma forma como foi deixado ao final do último culto no domingo, 30. A igreja foi atingido pelo desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, na terça-feira, 1º.
"O crucifixo está em pé, Jesus Cristo está ali em pé, como se dizendo: pode derrubar, cair tudo que eu continuo olhando por vocês. Ele olha por nós, olha para essas famílias sofridas e nos dá força para reerguer", disse o pastor Frederico Carlos Ludwig, de 61 anos.
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Há 20 anos na igreja, Ludwig se dedicou nos últimos 10 anos a reformá-la. Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), com nível 1 de preservação, o projeto teve de conservar integralmente toda a estrutura. A reforma da parte interna foi concluída há dois anos e a comunidade arrecada recursos para iniciar a restauração da parte externa.
"O projeto custou cerca de R$ 1,3 milhão e 90% do recurso veio de doações da própria comunidade, de gente que ama a igreja. O restante captamos pela Lei Rouanet", conta o pastor.
A obra restaurou o telhado, o madeirame interno, as pinturas artísticas e a torre frontal - que também permaneceu intacta após o desmoronamento. "Nossa comunidade é muito envolvida, muito engajada. A igreja era toda mantida com doações, nada era exigido dos membros, tudo vinha do coração, tudo voluntário", diz Ludwig.
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O órgão centenário, com 3 metros de altura e 7 de comprimento, que ficava na torre frontal, também foi protegido na queda. "Visivelmente há apenas algumas avarias externas, não parece ser nada estrutural", diz.
Por causa do envolvimento de todos ma reforma, Ludwig diz que o desmoronamento tocou muito toda a comunidade luterana na cidade. Nos próximos dois domingos, as atividades religiosas serão feitas em "paróquias irmãs". "Por ser a primeira igreja luterana de estilo neogótico, ela era uma referência religiosa, histórica e cultural na cidade", afirma o pastor.
A Defesa Civil ainda não pode avaliar os danos na igreja, mas as análises indicam que não há risco de novas quedas. Ainda não foi possível avaliar se os danos são irreversíveis e se é possível reformar o imóvel no mesmo lugar. "Vamos nos reerguer, nos reconstruir. Assim como espero que nossos vizinhos (os moradores do prédio que desabou) possam reconstruir suas vidas", disse o pastor.
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