No Dia das Mães deste ano, Carlos Eduardo, de 9 anos, chegou da escola com um cartão na mochila. O bilhete trazia um desenho de sua mãe, Lelaine Conceição de Oliveira, de 30 anos, e a frase “Você é uma diva.” A homenagem ainda emociona a bancária, que diz ter encontrado na admiração do garoto todos os motivos para continuar a atividade que a ajudou a retomar a autoestima: pole dance. “O meu filho me acha poderosa. E, depois disso, nenhuma crítica importa.”
Em 2012, Lelaine visitou uma escola que oferecia aulas de pole dance, mas mal passou da porta. A conotação sexual e a necessidade de utilizar roupas curtas a assustaram. A mudança ocorreu quatro anos depois, por acaso, ao fazer um workshop de “Dança para amar o seu corpo”, que reunia vários estilos musicais, do twerk ao axé, e era ministrado por Graziela Meyer, de 38 anos, fundadora da escola Maravilhosas Corpo de Baile.
“Naquele dia, a Grazi falou uma coisa que me marcou: nada marca tanto a nossa história quanto o nosso corpo, e o nosso corpo não deve ser tratado como um problema”, lembra. “Naquela hora, pensei: ‘É exatamente isso’. Eu me incomodava com as minhas estrias e com a minha ‘barriga imperfeita’, mas elas contavam a minha história, que eu gerei uma vida, tive um filho, que é a parte mais importante da minha vida.”
A bancária relata que, no mesmo período que iniciou pole dance, também começou a fazer a transição capilar, do alisado para o crespo. “Foi um momento de transformação completo, de aceitação. Hoje me sinto linda – e encontrei a sensualidade que achava não ter.”
O relato de Lelaine se aproxima ao de outras frequentadoras do Maravilhosas, de acordo com Graziela, que lançou o grupo em maio de 2016. “Ele foi criado para mulheres, para mostrar a força dos corpos femininos, celebrar todos os corpos femininos”, ressalta.Embora a prática tenha origens na Índia e na China antigas, a professora defende a valorização das mulheres que ajudaram a popularizá-la: as dançarinas de boate. “Pole dance tem o lado acrobático, que exige força e parece uma ginástica, mas sempre foi ligado à dança, a movimentos de giro, e começou a se popularizar em shows burlescos em circos nos anos 30, não tem porque esconder isso. Você hoje poder pagar para aprender é empoderador, marca a autonomia da mulher sobre o seu corpo”, diz ela.
Além do aspecto do esforço físico, a atividade tem o potencial de unir as mulheres. “Em uma das minhas primeiras aulas, muitas estavam envergonhadas por usar roupas curtas, com medo de julgamento”, lembra Lelaine. Ela afirma, contudo, que depois de uma conversa, na qual explica que o tipo de vestimenta é essencial para não escorregar da barra, ele viu que “de repente”, já estava “todo mundo de biquíni rolando no chão”, diverte-se.
“São meninas completamente diferentes, aprendendo as mesmas coisas. Uma olha para a outra e diz: ‘Você é maravilhosa!’ Daí a outra responde: ‘Maravilhosa é você’.”
Carnaval
A professora conta que ela mesma aprendeu a tentar colocar um padrão nas aulas. Como exemplo, cita um bloco de carnaval em que reuniu alunas, no qual encomendou fantasias para todas, que foram do tamanho 32 ao 54. “Tem gorda, com coxão, que chega aqui sambando na cara das meninas magras. E é isso que me interessa: treinar para ser feliz.”
Um exemplo é a produtora de moda Daylane Cerqueira, de 29 anos. Por estar acima do peso padrão, muitas pessoas que a conhecem se surpreendem quando ela comenta que faz pole dance. “Muita gente acha que gordo não pode fazer nada, não tem força para nada, não tem jeito. E isso foi um desafio para mim. Eu pensei: ‘Vou fazer e vou provar que estão errados’”, lembra. Em apenas três meses de aulas, ela faz diversas acrobacias, como a que se sustenta de costas na barra.
Desafiador
Para a produtora de moda, um dos motivos para a popularização da atividade é por ela ser desafiadora e trazer um tipo de satisfação que atividades como a musculação e o treino funcional não trariam. “Exige dedicação e foco, mas você consegue acrobacias que não imaginava, se percebe mais forte. Estou cada vez mais segura. Talvez um dia eu olhe para a minha sala procurando um lugar para colocar uma barra.”
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