A Polícia Civil de São Paulo realizou operação na manhã desta terça-feira, 19, para tentar prender um suspeito de ajudar os atiradores que executaram o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, morto com tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro.
O suspeito, Kaue do Amaral Coelho, não foi encontrado pelas autoridades em sua casa e está foragido. A suspeita da polícia é de que ele tenha fugido para o Rio de Janeiro antes da operação, deflagrada após a Justiça decretar a prisão temporária. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) oferece recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações sobre ele.
A Polícia Civil também cumpriu três mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao suspeito, na região do Jaraguá, zona norte de São Paulo. A identificação de Coelho foi possível graças à análise de imagens das câmeras do aeroporto feita pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
As gravações mostram Coelho uma hora antes do pouso do avião em que estava Gritzbach. Pouco antes dos disparos, conforme a polícia, as imagens mostram ele apontando para o delator.
O irmão de Coelho relatou que o suspeito já havia mencionado, em um telefonema, que a polícia estava atrás dele. “Tínhamos a informação de que ele (Coelho) está em uma comunidade do Rio”, disse o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.
O irmão do suspeito prestou depoimento à polícia na capital fluminense. Os indícios até agora, segundo a investigação, é de que ele faça parte do PCC.
Coelho, de 29 anos, já foi preso em 2022 por tráfico de drogas. Segundo a SSP, ele também já se envolveu em uma ocorrência de desacato à autoridade envolvendo em um guarda de trânsito. Na ocasião, chegou a afirmar que era integrante do Primeiro Comando.
No local do crime, segundo Derrite, foi feito levantamento 3D de todo o local para estabelecer trajetórias balísticas não apenas dos tiros que atingiram Gritzbach, mas também do disparo contra o motorista de aplicativo, também morto na ação.
As armas localizadas - 3 fuzis e uma pistola - foram usadas no duplo assassinato. Mais de 50 amostras biológicas foram arrecadadas pela perícia para fazer a identificação pelo DNA. Também foram identificados nove fragmentos de impressões digitais e a presença de um pó amarelo dentro do carro.
Como foi o assassinato?
O delator foi morto quando voltava de viagem do Nordeste junto com a namorada. Uma dupla, com dois fuzis, realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez balas em várias partes do corpo, como cabeça, tórax e braços.
Depois, os criminosos abandonaram o Volkswagen Gol preto usado para a execução em outro local de Guarulhos, a poucos quilômetros de distância do aeroporto. Os criminosos tinham a intenção de colocar fogo no veículo usado no assassinato de Gritzbach, mas não o fizeram.
Após denúncia anônima, foram apreendidos perto do local um fuzil Ak-47 calibre 7,62 mm, uma pistola calibre 9 mm e um fuzil AR-15 calibre 5,56 mm em um terreno baldio. O material estava em duas mochilas.
Gritzbach havia firmado acordo de delação premiada com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e também falou sobre casos de corrupção policial. A delação de Gritzbach teria indicado que havia policiais que manipulavam inquéritos para livrar integrantes do PCC da acusação de crimes, mediante pagamento de propinas. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.
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O crime
As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores no setor de desembarque. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.
O ataque ocorreu por volta das 16 horas. Um motorista de aplicativo que estava no local levou um tiro nas costas e acabou morrendo no dia seguinte.
Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.
O empresário fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.
Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, na zona leste paulistana, mas o autor errou o alvo.
Jóias foram apreendidas pela polícia após a morte do delator do PCC. Elas tinham certificado de joalherias como Bulgari, Cristovam Joalheria, Vivara e Cartier e estão avaliadas em R$ 1 milhão. Eram anéis, pulseiras, colares e pingentes com pedras em formato de coração.
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