O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo liberou a demolição do imóvel que abrigava o anexo do Espaço Augusta de Cinema, na rua Augusta, no centro da capital paulista. O espaço foi vendido em 2022 para a incorporadora Vila 11 e será transformado em um prédio comercial.
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, a aprovação ocorreu por decisão unânime em reunião ordinária do Conpresp nesta segunda-feira, 2. A construtora recebeu aval para a demolição das salas 4 e 5 do Anexo do Espaço Augusta de Cinema sob três condições:
- Deverá apresentar e obter aprovação de um novo projeto para o cinema que funcionará no local;
- Cronograma das obras terá que ser aprovado pelo Conpresp;
- Se aprovado, o projeto terá de ser acompanhado a cada quatro meses por uma comissão da Zona Especial de Preservação Cultural - Área de Proteção Cultural (Zepec-APC).
A pasta ainda alega que o objetivo é “preservar e garantir que as atuais salas de cinema tenham a fachada mantida no novo empreendimento. O prédio previsto para o local tem uso misto e prevê a ampliação do cinema no térreo e primeiro andar, com acesso público da calçada.”
Ainda de acordo com a gestão municipal, a situação do café existente no Anexo do Espaço Augusta de Cinema não esteve em pauta na reunião desta segunda-feira. A Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) informa que o empreendimento tem Alvará de Demolição e Alvará de Aprovação de Edificação Nova em análise.
Mobilização, inquérito do MP e veto da Justiça
Há quatro anos a venda do imóvel gera revolta entre cinéfilos e frequentadores do espaço. A proprietária do Cine Café Fellini tentou diversas alternativas para reverter o fechamento. Em 2022, Silvia Oliveira elaborou um abaixo-assinado que reuniu mais de 50 mil assinaturas em favor do local.
Os documentos e as mobilizações da sociedade civil despertaram a atenção do Ministério Público do Estado de São Paulo, que abriu um inquérito civil para barrar a demolição.
À época, o órgão apontou para o risco ao patrimônio histórico e cultural provocado pelo fechamento do cinema, tradicional espaço da cinefilia paulistana. O documento também questionava a omissão do Conpresp em apreciar o pedido de tombamento do endereço. O destino do anexo também foi tratado em audiências públicas na Câmara dos Vereadores, em busca de uma alternativa para preservar o patrimônio.
Em fevereiro do ano passado, a Justiça de São Paulo aceitou parcialmente o pedido do Ministério Público em uma ação contra a demolição. Em março de 2023, o espaço foi reconhecido como Zonal Especial de Preservação Cultural - Área de Proteção Cultural (Zepec-APC).
Por conta disso, a construtora foi obrigada a incluir as salas de cinema como fachada ativa no projeto do empreendimento, depois aprovado pelo órgão de preservação.
Histórico
O cinema incentivou a revitalização da Rua Augusta. O comércio do seu entorno, como lojas, bares e restaurantes, foi estimulado pelo expressivo número de frequentadores das cinco salas. Também ajudou a promover a formação de público por meio de cursos e projetos como Escola no Cinema, Sessão Cinéfila, Clube do Professor e Curta às Seis, que deu projeção aos curtas-metragistas.
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