Incrédulos, familiares e amigos dos 9 mortos e 31 feridos no desabamento em um auditório na Multiteiner, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, correram para a porta da empresa desde a manhã desta terça-feira, 20. Para o caseiro Danilo Moraes César, de 25 anos, não havia mais o que esperar. Sua irmã, Julcimara de Moraes César, de 35 anos, é uma das vítimas.
“Ela trabalhava aqui tinha só sete meses. Não tinha mais do que isso”, afirmou. Abraçado à esposa, ele aguardava que outra irmã fizesse o reconhecimento do corpo. Não havia mais nada para fazer ali.
Para o aposentado e ministro de Eucaristia Antônio Garcia, 64 anos, apenas a fé pode auxiliar agora. Sua filha, Letícia Lira, de 26, é também uma das nove vítimas. “Fiquei sabendo pelas amigas dela que me ligaram logo cedo. Agora é esperar que peguem as coisas dela lá dentro”, disse segurando um crucifixo de madeira pendurado em seu pescoço.
O acidente ocorreu na manhã desta terça-feira quando cerca de 70 funcionários da empresa estavam em uma reunião com candidatos a deputado no auditório do local. De acordo com testemunhas, o lugar em que se reuniam tinha uma mezanino com cadeiras.
Em nota, a prefeitura disse que “o projeto anteriormente aprovado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) foi irregularmente alterado, e sua regularização junto aos órgãos públicos estava em trâmite.”
“O imóvel onde ocorreu o acidente está inserido em Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais Reservatório da Guarapiranga”, afirmou a Cetesb, e “o uso do solo no local está sujeito à obtenção do Alvará de Licença Metropolitana junto à Cetesb”. Segundo a nota, a empresa tinha aprovação para uso do local, mas está em avaliação um pedido de licenciamento para regularização. A Multiteiner não foi localizada pela reportagem.
Às 17h40 já se passavam cinco horas desde que o marido de Julcimara havia sentando na grama em frente à empresa com a cabeça entre as mãos em choro convulsivo. Ali, à espera de algo que nem ele sabia mais o que era, foi carregado pelos familiares da esposa. “Traz ela pra mim, moço. Não deixa ela aí. Traz ela pra mim.” Respeito mútuo, pelo tempo que durou seu percurso amparado até um carro, parentes e amigos das outras vítimas pararam de chorar.
O prédio em que ocorreu o acidente funcionava dentro de um galpão com cerca de 10 mil metros quadrados. Dos 31 feridos, três foram resgatados em estado grave. “Faz uma semana que saí da empresa , conhecia todo mundo que morreu”, diz Josi Meneses de Andrade, de 39 anos. “Foi um livramento ter saído.”
Enquanto esperava notícias dos colegas, Josi via mais familiares das vítimas chegarem. “O que a gente pode falar? Melhor entrarem para ficarem sabendo pelos bombeiros…”
Na porta da empresa, enquanto funcionários e familiares se desesperavam, era grande também o movimento de autoridades municipais e pessoas ligadas aos candidatos. Por volta das 16h, o Corpo de bombeiros encerrou as buscas no local.
Às 18h10, o trabalho de reconhecimento das vítimas foi encerrado e os corpos começaram a ser liberados.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.