Desejo de Sesc estar por toda São Paulo moveu trajetória e último ano de Danilo Santos de Miranda

Diretor regional expandiu unidades com o objetivo de chegar a um público cada vez maior

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Foto do author Priscila Mengue

Chegar a mais lugares, alcançar mais pessoas. Na última vez que o filósofo, sociólogo e gestor cultural Danilo Santos de Miranda esteve nas páginas do Estadão antes da morte — no sábado, 28, aos 80 anos — defendeu o fortalecimento e a expansão do Sesc-SP para mais cidades e bairros de São Paulo ante uma tentativa à época de redução de recursos do Sistema S, a qual foi depois retirada de uma medida provisória.

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O que disse há meses em muito remete ao que defendeu por toda a sua trajetória de quase 40 anos como diretor regional do Sesc paulista. Há 25 anos, já declarava ao Estadão que as então novíssimas unidades de Pinheiros, Belém e Santo Amaro nasciam “do desejo do Sesc de estar presente em toda a cidade”.

À época, também mostrava seu olhar plural ao ser perguntado sobre “as palavras de ordem do Sesc”. “Contemplar a diversidade, cuidar tanto do fomento quanto da infraestrutura e da difusão, tanto da memória quanto da vanguarda, atender a todas as faixas da comunidade, participar das outras instâncias da sociedade, pensar tanto em patrimônio quanto na produção das artes, cuidar tanto do jogo quanto do sonho, colocar de pé o que está e levar o que for preciso”, respondeu.

Na luta mais recente pelo Sesc, enquanto a Embratur buscava o aval para receber uma fatia dos recursos do Sistema S, Santos de Miranda não apenas se mobilizou contrariamente como chamou a imprensa para anunciar o cronograma de implantação de 11 unidades em novos endereços e a ampliação de outras tantas. O recado estava dado: o Sesc-SP não seria enfraquecido.

“Construir e manter” foram os dois pontos que salientou naquele momento, em maio de 2023. “Vamos chegar a um público cada vez maior. Chegar a mais cidades e mais bairros onde não estamos ainda. E com uma programação viva”, reforçou.

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A declaração faz ainda mais sentido ao comparar com o início da trajetória de Santos de Miranda no Sesc, nos anos 1960, que envolveu um trabalho de interiorização com as chamadas Unidades Móveis. À época, equipes viajavam por cerca de um mês para um município paulista com peruas munidas de projetor, bolas, vitrola e outros equipamentos, para a realização de uma programação diversa.

Também remete ao que Santos de Miranda defendeu ao longo da trajetória. Na citada entrevista em 1998, na matéria chamada “O homem que fez do Sesc um sinônimo de qualidade”, já era comparado com ministro informal da Cultura, pelo papel fundamental na expansão da programação e apoio do Sesc às artes.

Na entrevista de 25 anos atrás, o grande admirador do emblemático Sesc Pompeia (implantado pouco antes de assumir a diretoria regional e no qual foi velado) já falava sobre a importância de se pensar unidades que estejam de portas abertas para a cidade. “As áreas de convivência do Sesc têm essa função, a de atrair as pessoas e, então, participar ou não de algum evento”, resumia.

“Em interação com arquitetos, constatamos que não se deveria apenas por um prédio à disposição da cidade, mas sim pensar as condições para que ele viesse a ter vida, ser capaz de acomodar o seu processo de crescimento”, completou.

Danilo Santos de Miranda durante evento na USP, em 2019 Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 02.07.2019

O crescimento anunciado em 2023 abrange diferentes frentes. Uma delas é chegar a mais bairros paulistanos, inclusive na periferia. Entre eles, estão unidades em Sapopemba e São Miguel Paulista, na zona leste, e Casa Verde (inaugurada parcialmente em outubro) e Pirituba, na norte — regiões que então somavam apenas duas das 16 unidades da capital (Belém e Santana, respectivamente).

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Fora da capital, o avanço envolve cidades como São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e Franca, Limeira e Marília, no interior. O custo inicial para a expansão completa é de R$ 2 bilhões, com a estimativa que chegue a R$ 6 bilhões ao longo dos próximos 10 anos.

Outro ponto da expansão envolve novas unidades em espaços icônicos e tradicionais. Essa lista envolve o restauro do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) — marco das artes cênicas no País —, e o Sesc Pirituba — em uma antiga chácara centenária tombada, por exemplo.

Além disso, após transformar a antiga Mesbla com um projeto do premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha em Sesc 24 de Maio há seis anos, outra loja tradicional do centro paulistano se tornará um espaço da instituição. A mudança dessa vez envolve o Edifício João Brícola, endereço do Mappin por décadas, em frente ao Teatro Municipal, que se tornará a nova sede do Sesc paulista (hoje no Belém), com abertura parcial para o público ainda neste ano.

À época do anúncio, Santos de Miranda destacou a localização “extraordinária” da nova sede. “Estará em uma das esquinas mais movimentadas do mundo em termos de pedestres”, declarou.

Danilo Santos de Miranda durante homenagem no Prêmio APCA de 2020 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 17-02-2020

Santos de Miranda também falava em abrir ainda mais o Sesc para o público em geral e a cidade. Aos poucos, pequenas transformações nas unidades foram implantadas e estão em desenvolvimento, a fim de dialogar com o ambiente urbano e potencializar a relação com a população em geral, para além dos trabalhadores de comércios e serviços detentores da credencial plena.

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No ano passado, o muro que dividia a unidade Ipiranga do Parque Independência foi retirado e uma segunda entrada foi implantada, por exemplo. Um exemplo ainda mais claro é o do futuro “Boulevard do Rádio”, uma minipraça entre o Sesc Avenida Paulista e o Itaú Cultural, voltada a promover atividades variadas ao público que circula pelo entorno. A iniciativa está em obras em um trecho da Rua Leôncio de Carvalho.

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