Duas famílias de imigrantes do Piauí que viviam na Barra do Sahy, em São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, foram vítimas dos deslizamentos de terra causados pelas chuvas intensas na região, entre a noite de sábado e a madrugada de domingo. A informação foi confirmada pelo governador do Piauí, Rafael Fonteles, em sua conta no Twitter.
Oito integrantes de uma das famílias viviam numa mesma casa de dois andares no pé de um morro. Eles eram de São Pedro do Piauí, a 110 km de Teresina, e chegaram ao litoral paulista há cerca de dois anos. A casa foi destruída pela lama na madrugada do domingo. Três corpos foram achados e outros três continuavam desaparecidos até a tarde desta terça-feira, 21. Duas pessoas, sendo uma criança de dois anos, foram resgatadas com vida.
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O casal Adriel de Sousa Costa e Maria dos Santos Gomes da Conceição morava no local com seus três filhos: Mariely, Adrian José e Alifi Miguel. Eles dividiam a casa com Ana Cristina da Conceição Silva, que é irmã de Maria, com o filho dela, Keyson Raniery, e um primo das duas irmãs, Rafael Nunes de Oliveira.
Segundo o carpinteiro Benedito Gomes da Silva, irmão mais velho de Maria e Ana Cristina, ele foi o primeiro da família a chegar à Barra do Sahy ainda em 1997. Depois, vieram mais três irmãos. “Eles ficaram um bom tempo aqui, uns quatro ou cinco anos, foram de novo para o Piauí e voltaram pra cá faz uns dois anos”, conta.
Benedito diz que, ao ser avisado da tragédia, na manhã do domingo, achou que fosse brincadeira dos vizinhos. Só ao descer para a rua onde as irmãs moravam é que acreditou na história, ao ver as ruas alagadas, cobertas de lama e cheias de pessoas.
Segundo ele, as localidades afastadas da praia e próximas aos morros são as únicas opções para viver em Barra do Sahy para quem trabalha na região. “Aqui é praia de turista. No nosso litoral, quem mora perto do mar é magnata. Só tem pousada ou condomínio ali”, afirma. Ele conta que os aluguéis no local costumam partir de R$ 400 e chegar a R$ 1,5 mil, dependendo das condições das casas.
O sobrado em que a família vivia era alugado. Romário Marcos, primo das vítimas, conta que a encosta próxima ao local cedeu com as chuvas na madrugada. “Não deu tempo de correrem, foi de repente. Eles acordaram já no susto, por volta das duas da manhã. Na casa, os quartos ficavam em cima, e a sala e a cozinha embaixo”, diz.
Adriel trabalhava como pedreiro em Barra do Sahy. Maria era empregada doméstica. Os corpos do casal e do sobrinho deles, Keyson, de dois anos, foram identificados. Rafael, empregado num supermercado, e os irmãos Mariely e Adrian ainda estavam desaparecidos. Ana Cristina, que perdeu o filho na tragédia, e seu sobrinho Alifi Miguel foram resgatados.
Segundo Romário, que trabalha no açougue de um supermercado na cidade, a intenção da família é que os corpos sejam sepultados no Piauí. “O prefeito (de São Pedro do Piauí) conseguiu ajuda dos militares e uma aeronave está pronta, mas falta a liberação dos corpos e achar mais três deles. A gente quer levar para a nossa cidade”, disse.
Ele ainda nutre a esperança de encontrar os primos com vida. Durante entrevista ao Estadão, interrompeu a conversa para avisar que havia recebido a informação de que as equipes de resgate haviam encontrado duas crianças e um adulto com vida. “Estou correndo aqui para ver se é verdade e se é um dos meus parentes”, disse.
No Twitter, o governador Rafael Fonteles manifestou sentimento às famílias e disse que o governo do Estado está cuidando do traslado dos corpos.
O governo do Piauí confirmou ao Estadão que dois integrantes de outra família, de São Braz do Piauí, a 556 km de Teresina, também foram vítimas da tragédia. Os corpos identificados são de Ariosvaldo Paes Landim, de 46 anos, e de Beatriz Farias Macedo, de 26 anos.
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