GOIÂNIA E SÃO PAULO - A gestão João Doria (PSDB) desistiu nesta quinta-feira, 19, de usar a farinata - composto produzido a partir de alimentos próximos ao vencimento - na merenda de escolas municipais de São Paulo. O recuo ocorreu um dia após o prefeito anunciar a ideia, que foi alvo de críticas de especialistas e de questionamento do Ministério Público Estadual (MPE). A proposta também não chegou a passar por avaliação da Secretaria Municipal de Educação.
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Na quarta-feira, 18, Doria havia anunciado que iniciaria o uso da farinata na merenda ainda neste mês. Mas em nota enviada na noite desta quinta-feira, a administração municipal não garantiu nem o uso do produto para a população carente, como inicialmente proposto na semana passada. Disse que a “eventual” distribuição da farinata “será de atribuição, principalmente, dos serviços municipais de assistência social” e usada na produção de pães, bolos e sopas.
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Ainda segundo a Prefeitura, o plano municipal de erradicação da fome vai dar prioridade ao atendimento de famílias em situação de vulnerabilidade social, em especial aquelas com crianças de até 3 anos.
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A ideia de usar a farinata na alimentação escolar gerou reações de especialistas, mães de alunos e do MPE, que havia aberto um procedimento para apurar a proposta de usar o composto alimentar nas escolas. Em um dia, o Ministério Público recebeu 57 representações por e-mail contra a proposta.
“Enquanto o mundo se move para uma alimentação saudável, nós estamos na contramão”, disse a educadora Paula Rodrigues, de 32 anos, mãe de Anahi, de um ano, aluna da rede municipal. Ela e outras dezenas de mães participaram de um ato contra a farinata na noite desta quinta-feira na Avenida Paulista, na região central, que reuniu quase cem pessoas. O grupo chamou o composto de “ração”.
Em visita à Goiânia, Doria disse nesta quinta-feira que não haveria “afobação” para implementar o programa e criticou o “aspecto ideológico” da discussão, “com manifestações do PSOL, do PT, dos partidos de esquerda”.
Críticas
Especialistas criticaram o fato de não terem sido dados detalhes sobre o programa nem sobre levantamento de alunos com mais necessidades nutricionais, por exemplo.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, por exemplo, prevê que a introdução de um novo alimento (exceto frutas e hortaliças) ou alterações no preparo devem passar por “teste de aceitabilidade” pelos alunos, sob coordenação de um nutricionista. O teste não pode ser aplicado em crianças com menos de 3 anos.
A definição do cardápio nas escolas municipais é de responsabilidade da Coordenadoria de Alimentação Escolar, da Secretaria de Educação, que não havia sido avisada sobre a ideia.
João César Castro, nutrólogo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ressalta que a obesidade infantil é mais comum do que a desnutrição. “Mesmo entre as famílias mais pobres a obesidade preocupa mais, porque elas optam pelos alimentos mais baratos que, em geral, são aqueles com muito açúcar, carboidrato e sódio.”
O Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) é uma ONG que faz busca ativa de crianças com desvio nutricional nas periferias de São Paulo. Dados mais recentes do Cren mostram que, entre crianças de 0 a 5 anos atendidas, 32,6% tinham déficit de estatura (indicador de desnutrição) e 35%, sobrepeso/obesidade.
Produção
Passo a passo de como é feita a farinata
1. Alimentos próximos ao vencimento são inseridos em uma máquina (com capacidade para fabricar até 400 quilos de farinha por dia), adaptada pela Sinergia. Maçã e banana, por exemplo, podem passar por esse processo.
2. Os produtos passam por um tipo de pasteurização.
3. Depois, passam por cozimento.
4. O processo-chave é a desidratação, Que varia segundo o tipo de alimento (pastoso, seco, líquido). A baixa umidade garante a durabilidade.
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