SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), entregou na manhã desta terça-feira, 21, obras de revitalização do Viaduto Santa Ifigênia, na região central. O espaço passou por limpeza e pintura, além da reforma das escadarias, a troca de lâmpadas e a instalação de cinco câmeras. O prefeito, no entanto, disse que "pequenos reparos" ainda deverão ser concluídos. A parte superior do viaduto tem dezenas de buracos devido ao descolamento das pastilhas do calçamento. "Está sendo feito com muito cuidado, é quase um trabalho artesanal", compara.
"Não se fabrica mais (as pastilhas), nem a empresa, a Cerâmica São Caetano, existe mais. Então está sendo feita manualmente uma recuperação que reproduz as pastilhas, mas sem as pastilhas", disse. "É um trabalho mais lento, mais demorado, mas não estabelece nenhuma interdição no uso e na acessibilidade das pessoas que caminham pelo Viaduto Santa Ifigênia."
Os buracos perpassam quase toda a via. A questão foi levada ao prefeito pela assessora jurídica desempregada Elizabeth Nascimento, de 50 anos. Moradora do centro e cadeirante, ela precisou pedir a ajuda de pedestres para levantar sua cadeira de rodas quando ficou presa em uma buraco antes de chegar ao evento. "Se é para fazer uma reparação, tem de ser uma reparação inteira", disse ao Estado.
Parte dos planos da Prefeitura para restauração da região central, a recuperação do Viaduto Santa Ifigênia foi anunciada em maio durante coletiva de imprensa na Prefeitura de São Paulo e tinha a entrega estimada para outubro. O calçamento, no entanto, não estava entre as medidas previstas. Segundo a Prefeitura, a obra tem custo de R$ 1,1 milhão, bancado pela iniciativa privada.
Com 225 metros, o Viaduto Santa Ifigênia foi inaugurado em 1913, sendo o segundo do tipo em São Paulo, depois do Viaduto do Chá. Desde o início, tinha a proposta de ligar o Centro Velho e o Centro Novo e hoje é muito utilizado por frequentadores dos comércios da Rua 25 de Março.
Calçamento. Em 2 de janeiro, a Prefeitura pretende dar início ao programa Calçadão, de pavimentação de calçadas do Centro. O plano é substituir o calçamento de pedra protuguesa por concreto na maioria das vias, com exceção das áreas em torno de imóveis tombados que continuará com o revestimento atual. O projeto será acompanhado pelo Departamento do Patrimônio Histórico e, de acordo com Doria, tem como objetivo “recuperar o piso e melhorar a acessibilidade”, principalmente no entorno dos terminais de ônibus.
O Calçadão é dividido em três partes: entorno do Largo São Bento (com 11 mil metros quadrados); proximidades do Pateo do Collegio (cerca de 30 mil metros quadrados); e região da República, nas imediações da Praça da Praça da República, do Theatro Municipal e da Rua Barão de Itapetininga.
A primeira fase deve se estender até meados de abril, de acordo com o secretário municipal das Prefeituras Regionais Cláudio Carvalho. Segundo ele, empresas manifestaram interesse em participar do projeto, que deve ter o custo da primeira etapa (de R$ 3 milhões), pagos por meio de parcerias.“Até o fim do ano que vem, a gente consegue trocar todo o calçamento (no entorno do centro).”
Para o prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, o mosaico português é “muito bonito” em lugares que tem menor circulação de pessoas, o que não seria o caso das regiões atendidas pelo Calçadão. “Aquelas ruas têm vida, então o comércio precisa entregar o produto, a noite muitos carros entram lá para descarregar mercadoria, os bancos que estão lá precisam de carro-forte, os Correios passam com caminhãozinho porque a demanda é muito grande”, comenta. “Aqui passam 2 milhões de pessoas por dia, é muita gente para você ter um piso que não é acessível."
Segundo ele, a pedra portuguesa dificulta o acesso de pessoas aos espaços culturais da região, como o Centro Cultural Banco do Brasil e a Caixa Cultural. “Esse piso, por ser sensível e por não ser preparado para essas condições de uso que ele tem, é um piso que se torna quebradiço, é frágil, e acaba gerando acidentes”, diz.
Odloak garante que as calçadas não têm falta de manutenção. “O problema é o seguinte: intervenções. Eu te falo que 90% dos buracos que têm lá hoje não são da Prefeitura Regional, são das concessionárias, inclusive, tem um gigantesco de uma empresa que já levou mais de R$ 1 milhão de multa”, declara.
“Aí você tem as empresas que fazem cabeamento de fibra ótica, telefonia, a parte de energia, você tem muito serviço ali. Toda hora fazem intervenção, toda hora quebram, mas não consertam como deveriam. Mesmo a gente fiscalizando, mesmo a multa sendo alta, não fazem. Quem isso prejudica? O pedestre. É inacessível. Para um cadeirante esse tipo de piso é muito ruim.”
Durante o evento, membros do movimento Renova Centro 20-30 entregam uma solicitação de audiência pública sobre o tema. "Queremos uma discussão legítima com a comunidade do centro", defende um dos integrantes, o empresário Carlos Beutel, de 63 anos.
Centro. Como parte do plano sobre o centro,a Prefeitura pretende ainda concluir a revitalização da Praça Ramos de Azevedo no mês de dezembro e, no "início do próximo ano", começar o restauro do Viaduto do Chá, que também deve receber investimento do setor privado. "Assim, passo a passo, vamos resgatando o centro da cidade, na sua forma original, preservando as suas características, as suas linhas, a sua arquitetura, a sua acessibilidade e também a sua própria beleza", diz Doria.
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