Centro de São Paulo: ‘Durmo dia sim e dia não, quando bate o cansaço’

Adriano Fernandes e a sua companheira, Maria, vivem embaixo do Minhocão e sofrem com o barulho alto e constante dos carros

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

A gente precisa fazer força para ouvir o que Adriano Fernandes diz, quase colocando o ouvido na direção da sua boca. A culpa não é dele, mas sim de carros, ônibus, motos – e até das buzinas das bicicletas – que passam dos dois lados e em cima da sua “casa”. Há quase três anos, ele e a companheira, Maria, moram embaixo do Minhocão, na frente da Estação Marechal Deodoro do Metrô. “Durmo praticamente dia sim e dia não. Só quando bate aquele cansaço que o corpo não aguenta mais.”

Adriano Fernandes, que mora e vende diversos objetos embaixo do Minhocão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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A vigília também é uma forma de ficar atento diante dos perigos da noite. “O centro pode ser mortal, se você não se cuidar, por causa da violência e das drogas. A gente não vive seguro. Tem de tomar cuidado com os noias, com o rapa. A gente tem de estar preparado para tudo.”

Maria pede ajuda para compra de fralda para o primeiro neto, mas prefere não ser fotografada. Não quer que a família do interior veja o momento difícil. Foi o desemprego que empurrou os dois para debaixo da ponte. Eles também confessam decisões erradas: leia-se uso abusivo de drogas, principalmente álcool.

Desempregado, Adriano encontrou uma solução ali: passou a recolher objetos que ganhava, comprava ou trocava e montou uma exposição de produtos usados no chão. A ideia é vendê-los e ir tocando a vida. Existem eletrodomésticos, brinquedos de criança, roupas, sapatos. Nos melhores dias, vende R$ 100. Foi a alternativa para “sobreviver de um jeito correto”. “Acho que somos guerreiros.”

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