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'Crucificado' de 1777 do Mosteiro de São Bento é restaurado

Recuperação da histórica obra marca fim de mais uma fase das obras da centenária igreja do Largo de São Bento

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Atualização:

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

Na tarde da última segunda, a imagem barroca de Cristo crucificado voltou ao seu lugar, na imponente parede do transepto, à esquerda do altar-mor da Basílica Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como igreja do Mosteiro de São Bento. Auxiliado por quatro homens, o restaurador João Rossi colocou a preciosidade de volta. Simbolicamente, o maior restauro da centenária igreja, marco histórico-religioso do centro paulistano, completou mais uma etapa.

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Agora, as três imagens sacras mais importantes do acervo do Mosteiro de São Bento, estão novinhos em folha. Primeiro, foram recuperadas as estátuas de São Bento e de Santa Escolástica (fotos abaixo), ambas de barro, feitas pelo monge beneditino Agostinho de Jesus no século 17, pioneiro da escultura no Brasil. Agora, foi a vez do Crucificado, obra em cedro de autoria de José Pereira Mutas, esculpida em 1777 sob encomenda para os beneditinos.

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

"E ninguém que está vivo a conheceu como era de fato", conta o restaurador, que dedicou-se à imagem nos últimos cinco meses. Isto porque a cruz onde ele está preso era totalmente coberta por uma tinta preta. No trabalho de recuperação, Rossi descobriu que na verdade, originalmente havia um friso folheado a ouro 22 quilates. "Pelo que pude verificar, deve ter sido recoberto por tinta preta nos anos 1920", afirma ele.

Antes do atual restauro, a peça estava danificada pela poluição e também pela gordura das mãos das pessoas. "É comum que os fiéis toquem nos pés dessa imagem, em sinal de veneração", afirma o monge beneditino João Baptista. "Apesar de ser uma obra de arte, preferimos não interferir na devoção."

Rossi confirma: os pés do Cristo estavam bastante deformados e ele precisou corrigir, com uma camada de gesso. Até hoje, os monges preservam um trato firmado pela instituição com o escultor em 1777. "Pelo termo, ele pedia que duas lamparinas ficassem acesas de modo perpétuo ao lado da imagem", conta Baptista. "Claro que hoje usamos iluminação elétrica, por segurança: mas o Crucificado tem luz 24h por dia."

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A parede onde fica o santo também foi totalmente recuperada nesta fase. Descobriu-se a cor original, por baixo do marrom que havia ali. "Era vermelha, e vermelha tornou a ficar", celebra Rossi. "Também encontramos detalhes em folha de ouro, e os recuperamos." Essa parede continha uma rachadura grande, que também foi corrigida.

A basílica dos beneditinos integra o conjunto arquitetônico - projetado pelo alemão Richard Berndl (1875-1955) - erguido de 1910 a 1914 no Largo de São Bento, centro de São Paulo. Tombada desde 1992 pelo órgão municipal de proteção ao patrimônio (Conpresp), a igreja havia passado apenas por uma restauração, de menores proporções, em 1978 - para recuperar danos causados pela construção da Estação São Bento do Metrô.

O valor investido na obra não é informado pelos beneditinos, que mantêm em sigilo também o nome do patrocinador. "Mas o pagamento está garantido até a conclusão de toda a obra", diz Baptista. Pelas contas de Rossi, até julho a outra parede do transepto será concluída. Depois, com mais um ano de obra, ele e sua equipe terminam toda a nave da igreja. O órgão de 6 mil tubos também está sendo restaurado: uma vez a cada seis meses, um especialista argentino vem a São Paulo e realiza uma etapa do trabalho.

Isso tudo respeitando a rotina dos monges. Em ocasiões especiais, como a Páscoa, não podem haver andaimes dentro do templo - é por isso que os cronogramas são organizados de modo a prever que cada etapa seja encerrada nas proximidades de tais datas. As obras são executadas de segunda a sexta, das 8h às 17h - mas Rossi precisa interromper a labuta por 15 minutos às 11h30 - para oração dos monges - e por uma hora às 13h - para a missa. "Os restauradores aproveitam para fazer o horário de almoço", afirma Baptista. "Enfim, eles precisam se adaptar à nossa rotina."

Rotina de tradição ímpar. O Mosteiro de São Bento ocupa, desde 1598, o mesmo terreno no centro de São Paulo. Ao longo dos séculos, vários edifícios foram reformados, demolidos e construídos. Este último conjunto, que completa cem anos, foi decorado entre 1912 e 1922.

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 Foto: Gabriela Biló/ Estadão
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