'Ele endeusava a Elize', diz irmão sobre Marcos Matsunaga

Mauro Matsunaga depôs nesta terça; ele contou como Elize forjou o desaparecimento do herdeiro da Yoki

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O júri de Elize Matsunaga começou na segunda-feira Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

SÃO PAULO - O empresário Mauro Kitano Matsunaga entrou no plenário de terno preto, calça cinza e sapato social, e falou por pouco mais de duas horas, em um dos depoimentos mais aguardados do júri de Elize Matsunaga, que fez aniversário nesta terça-feira, 29. Irmão de Marcos Matsunaga, ele não conteve a emoção ao lembrar do crime ocorrido em 2012. "Ele era meu único irmão. Eu falo para os meus filhos cuidarem muito bem um do outro, porque é muito duro perder um irmão", disse, sem conseguir conter o pranto.

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Herdeiro da Yoki, Marcos foi morto e esquartejado pela mulher, a bacharel em direito Elize Matsunaga, em maio de 2012. À Justiça, o irmão da vítima declarou que nunca percebeu brigas entre o casal. Segundo relato, viagens e presentes caros eram comuns. "Usava mais o dinheiro dele com ela do que com ele", afirmou Mauro. "Ele endeusava Elize. Colocava ela em outro patamar."

Marcos e Elize se conhecerem em 2004, através de um site de acompanhantes. Na época, o empresário era casado e tinha uma filha. Apaixonado por Elize, ele pediu divórcio e se casou com ela. "A gente percebia um casamento perfeitamente normal."

Segundo Mauro, o irmão nunca contou à família que a ré era de origem humilde e nem que havia sido garota de programa. "Acredito que por proteção", afirmou.

O crime ocorreu no dia 19 de maio de 2012, um sábado, no tríplex do casal. A vítima foi baleada no lado esquerdo do crânio e teve o corpo esquartejado. De acordo com Mauro, Elize ligou para os sogros depois, na segunda-feira, 21, para conversar.

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Na casa dos Matsunaga, Elize avisou que Marcos havia feito uma mala, com poucas roupas e uma quantia em dinheiro (R$ 15 mil ou R$ 18 mil), e saído de casa de táxi. Estava desaparecido. No mesmo dia, ela mostrou a filmagem da traição do marido, feita por um detetive particular contratado por ela. "Eu fiquei surpreso (com a traição) nessa hora." 

A angústia da família ante o desaparecimento de Marcos era crescente, segundo o irmão. Um boletim de ocorrência foi registrado no DHPP. Junto com um diretor executivo da empresa, ele também passou a investigar o sumiço e tentar encontrar o irmão.

Durante a semana, ele chegou a receber um e-mail de Marcos. "Avisa pra mamãe e pra Elize que eu estou bem. Agora não posso falar", dizia o texto. Segundo as investigações, foi Elize, que tinha a senha de acesso do marido, quem mandou a mensagem.

"Nesse tempo, ela (Elize) me ligava perguntando de novidade. A gente não desconfiava de nada", afirmou Mauro. A família tentava falar com Marcos por celular, mas o telefone tocava até cair na caixa postal.

Mauro também analisou as imagens de câmeras de segurança do prédio do irmão, mas não conseguia localizar as imagens de Marcos saindo prédio que, segundo o relato de Elize à família, deveriam existir. No dia em que assistiram às gravações, Elize convidou o cunhado para comer uma pizza.

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As buscas acabaram quando Mauro foi chamado ao IML de Cotia, na Grande São Paulo, após a polícia encontrar uma cabeça degolada em uma mata. "Havia uma maca, um lençol encobrindo o Marcos. O funcionário do IML tirou o lençol na cabeça", disse.

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"Eu carregava uma foto do Marcos, mostrei para as pessoas no IML, tentando não acreditar", disse. "Solicitei se poderia ver a mão do meu irmão. A mão dele era marcante. O funcionário me perguntou se eu tinha certeza, e foi buscar a mão do meu irmão. Depois, eu pedi para ver os pés", relata. 

"Naquele momento, eu não queria acreditar", disse, com a voz embargada. "Foi muito doloroso." Após identificar o corpo, Mauro contou aos pais e também a Elize. "Ela ficou abalada. Disse que não podia ser, que aquilo não podia estar acontecendo."

Ainda nesta terça-feira, 29, foi ouvido um empresário da Yoki. A advogada de Elize, Roselle Soglio se resumiu a dizer que a ré passou o dia pensando na filha. A defesa contestou o delegado Mauro Gomes Dias, que mais cedo sustentou que a mulher planejou o crime e começou a esquartejar a vítima enquanto ele ainda estava vivo. Os defensores alegaram não haver fundamentação científica nas falas. Para os advogados, os depoimentos comprovaram que ela agiu sozinha e motivada por emoção diante das humilhações cometidas pelo marido.

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