Em Cidade de Tiradentes, precariedade das calçadas faz morador andar pela rua

'Estado' acompanhou percurso de José da Silva, de 53 anos, que cuida de uma cadeirante: 'A gente se arrisca todo dia'; subprefeitura afirma que abrirá processo para apurar baixo número de multas aplicadas

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A pouco mais de uma hora do centro de São Paulo fica o distrito de Cidade Tiradentes, no extremo leste paulista. Lá moram cerca de 50 mil pessoas, parte delas atraída pelo sonho da casa própria. Entre os moradores, 15,25% vivem em situação de alta ou de muito alta vulnerabilidade, segundo dados do site da subprefeitura.

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Rodeada por conjuntos habitacionais construídos a partir da década de 1980, Cidade Tiradentes é distante do centro urbano e tem pouca infraestrutura. Uma parte do distrito é chamada de "cidade informal", composta por favelas, moradias irregulares ou loteamentos clandestinos.

Apesar dos problemas, em Cidade Tiradentes houve somente uma única multa por irregularidade em calçada em 2015 e seis desde que a lei entrou em vigor. Questionado pelo Estado, o secretário-adjunto da Coordenação das Subprefeituras, José Rubens Domingues Filho, admitiu que o "número não é normal" e vai mandar abrir um procedimento interno para apurar o que aconteceu.

Além de catar papel, José da Silva, de 53 anos, cuida diariamente da cadeirante Michelaine da Cruz, de 32, órfã que teve paralisia cerebral ao nascer. Entre idas a médicos e passeios com Michelaine, Silva a leva do terminal de ônibus, no centro do bairro, até o setor Jardim Maravilha, onde moram, mas não sem dificuldades. "Mesmo aqui no centro, como na Avenida dos Metalúrgicos, é cheio de buracos. Há mais ou menos um mês ela caiu da cadeira ao passarmos em um. Quase quebrou a perna."

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O catador papel e cuidador, José da Silva, tem de passar pela rua com a cadeirante Michelaine da Cruz por falta de espaço adequado em calçada no centro de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. Foto: Sérgio Castro/Estadão

O Estado acompanhou parte do trajeto de Silva com Michelaine no centro de Cidade Tiradentes e constatou buracos, esgoto tomando calçadas e carros estacionados no meio do caminho, até mesmo ao lado de um movimentado ponto de ônibus. Para chegar ao local, é preciso sair do calçamento e andar na rua.

"A gente se arrisca todo dia, não é fácil. Ainda mais para alguém deficiente na cadeira de rodas. Nós somos pobres, mas podiam olhar mais para a gente", lamenta Silva.

Demandas. A recepcionista e coordenadora do Conselho Participativo Municipal de Cidade Tiradentes, Bárbara Morais, de 38 anos, mora na divisa do distrito com Ferraz de Vasconcelos e reclama que o que tem sido feito ainda é muito pouco. "Os recursos são escassos para nossa região, que não é mais só uma cidade dormitório. As pessoas andam a pé para o comércio. A Praça Maria das Graças dos Reis, mais arrumadinha, não reflete a realidade."

Também integrante do conselho, a orientadora profissional Cecília Gonçalves, de 62 anos, conta que costumava andar por todas as partes de Cidade Tiradentes. Para o trabalho, ela precisava visitar adolescentes infratores, muitas vezes em "situação precária, de complexa vulnerabilidade". "Os jovens não tinham tênis nem calça. Tinha dia que tinham bermuda, mas estava frio", lembra.

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Moradora do distrito há 25 anos, Cecília afirma que a experiência lhe ajudou a montar uma rede de demandas da população local. No grupo, a melhoria da mobilidade a pé, sobretudo perto de escolas e hospitais, está entre as principais preocupações. Mesmo onde mora, próximo ao terminal de ônibus do bairro, na região mais valorizada de Cidade Tiradentes, a orientadora profissional identifica problemas variados nas calçadas.

"Eu vejo mãe que não consegue passar com carrinho de bebê, porque não tem espaço. Perto de posto de saúde UBS, idosos e cadeirantes não conseguem se mobilizar. Tem calçada em que ninguém consegue passar, pois jogam lixo. E, assim, fica."

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