Em Pinheiros, falsos motoboys e uso de mais violência marcam alta de roubos; veja vídeos

Câmeras de segurança do bairro mostram assaltos em sequência e modo de operação dos bandidos; dados da Secretaria de Segurança Pública apontam alta dos roubos na região

PUBLICIDADE

Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

A frequência de assaltos e a violência usada por criminosos durante as ocorrências voltaram a preocupar moradores do bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo. Os casos têm sido marcados pela participação de falsos entregadores com uso de arma de fogo. Em julho, chamou atenção uma abordagem que terminou com a vítima perseguida e atingida por um tiro de raspão na cabeça.

PUBLICIDADE

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, houve aumento de 6,7% nos roubos registrados no primeiro semestre deste ano na 14.° Delegacia de Polícia, que atende a região, em comparação com o mesmo período ano passado. Os casos passaram de 1.592 nos seis primeiros meses em 2022 para 1.699 de janeiro a junho deste ano, o equivalente a quase 10 ocorrências por dia no bairro.

Vídeos de câmeras de segurança têm registrado a ação dos criminosos, que atuam rapidamente nos roubos e fogem em seguida. A secretaria diz adotar medidas de reforço.

Os vídeos mostram que os criminosos costumam tampar a placa da motocicleta com uma sacola plástica ou máscara descartável apenas durante o crime. Eles atacam diversas pessoas em uma sequência de 10 ou 15 minutos e escapam, passando-se por trabalhadores. As imagens foram cedidas pela Gabriel, startup que atua com monitoramento e tecnologia na área de segurança.

O alvo prioritário tem sido os aparelhos celulares. Depois dos assaltos, os envolvidos acessam o sistema do celular e trocam as senhas. Pelo e-mail da vítima, conseguem ter acesso aos aplicativos de banco, já que a verificação de autenticidade costuma ser pelo próprio celular da pessoa. Então, fazem transferências e pedem empréstimos. São ocorrências com alto prejuízo para a vítima.

Publicidade

Roubos com arma de fogo têm assustado moradores de Pinheiros Foto: Startup Gabriel

Uma vítima que preferiu não se identificar foi assaltada na Rua Joaquim Antunes em 5 de abril e diz que, em poucos minutos, o assaltante alterou a senha do seu código ID da Apple, o que o conferiu acesso total ao seu celular, um iPhone.

“Logo depois que ele me obrigou a dar a senha do celular e saiu com a moto, eu corri para uma sorveteria próxima, expliquei o que aconteceu e pedi um computador emprestado. Eu tentei acessar o meu Apple ID para bloquear o celular, mas ele já tinha alterado a minha senha. Foi uma questão de minutos”, diz.

A insegurança tem afetado os moradores. “Está sofrido demais morar em Pinheiros. O foco tem sido assalto de celular. É desesperador porque os bandidos estão cada vez mais profissionais. Se disfarçam de entregadores, estão armados. Não é tipo furto, ‘mão leve’, como era antigamente. São assaltos mesmo, à mão armada”, diz a gerente de contas Aline Sodré, de 42 anos, moradora do bairro desde agosto de 2020.

No final de julho, um assalto terminou com um tiro de raspão na cabeça em um homem de 67 anos na Avenida Pedroso de Morais, uma das mais movimentadas da região. A vítima informou à polícia que é um empresário e seguia para sua casa, depois de sair do seu estabelecimento, quando dois homens em uma moto, armados, se aproximaram e anunciaram o roubo. Neste momento, ele conseguiu despistar os criminosos e seguiu para um salão de cabelereiro.

Mais tarde, após sair do cabeleireiro e seguir em direção ao seu carro, estacionado na rua, o homem foi novamente abordado. Dessa vez, por apenas um homem, armado, que exigiu a mochila que a vítima levava.

Publicidade

A vítima jogou a bolsa no chão da calçada onde caminhava e correu para dentro de um estabelecimento comercial. Antes de fugir com os pertences, o criminoso atirou na vítima, que foi atingida de raspão na cabeça.

Moradores demonstram preocupação

PUBLICIDADE

A reportagem do Estadão conversou com moradores, frequentadores do bairro e comerciantes, que demonstraram preocupação. Também escutou porteiros, que disseram já ter assistido a dezenas de cenas de roubo em frente às portarias dos prédios.

“Toda semana tem pelo menos um”, afirmou um porteiro. “Meu restaurante está vazio desde que um assalto aconteceu aqui perto esta semana. Mas há meses não está fácil, estou a ponto de fechar”, disse um comerciante que preferiu não se identificar.

“Antigamente, era disputadíssimo um ponto de comércio aqui, próximo à (Rua) Teodoro Sampaio. Tínhamos que pagar uma ‘luva’ (valor pago adiantado pelo locatário ao locador na assinatura do contrato) alta. Hoje, os proprietários alugam sem exigir quase nada, porque está difícil alugar”, relatou o comerciante. A reportagem observou que há muitos imóveis comerciais fechados na região, com placas de “aluga-se” na porta.

O fotógrafo Rodrigo Ladeira, de 33 anos, sofreu uma tentativa de assalto em junho e se assustou com a violência. “Mesmo em um grupo grande de amigos e em uma rua cheia de pessoas e comércios, o assaltante nos abordou apontando a arma para o nosso rosto”, disse.

Publicidade

“Morei em Pinheiros entre 2016 e 2019 e passeava com meu cachorro de madrugada, escutando música. Nunca me aconteceu nada, nem presenciei nenhum assalto”, afirma o fotógrafo.

Quais são as ruas mais assaltadas no bairro?

De acordo com a startup Gabriel, algumas das ruas com maior frequência de assaltos são:

  • Joaquim Antunes;
  • Mateus Grou;
  • Cônego Eugênio Leite;
  • Cristiano Viana;
  • Dr Virgílio de Carvalho Pinto;
  • Rua dos Pinheiros;
  • Mourato Coelho;
  • Simão Álvares.

A startup, que também tem grande incidência de câmeras no Jardins e no Itaim Bibi, outros dois bairros com alto índice de roubos, diz que nos últimos meses os crimes têm se intensificado em Pinheiros, como mostra a mancha vermelha (maior número de assaltos registrados pela startup) na imagem abaixo.

Incidência de roubos capturadas pelas câmeras da startup Gabriel. Em verde, regiões com menor índice de roubos. Em amarelo, médio índice. Em vermelho, alto índice. Foto: Divulgação/ Startup Gabriel

Policiamento foi reforçado, diz a Secretaria de Segurança Pública

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o policiamento foi reforçado na região pela Polícia Militar nos últimos meses, assim como em outros locais de alta incidência de crimes.

Publicidade

A pasta afirma que foram alocados 220 novos agentes para “atuar em Pinheiros, Moema, Jardins, além das Avenidas Faria Lima e Paulista, por meio da ‘Operação Impacto – Servir e Proteger’, que tem como objetivo aumentar a presença policial nas áreas de maior incidência criminal, com a ampliação de pontos de estacionamento de viaturas, base comunitária, além de patrulhamento a pé e por motocicletas”.

A secretaria diz ainda que a ação já resultou na prisão de pelo menos 76 pessoas em julho. Um deles, um homem de 19 anos, foi preso em flagrante no dia 28 após perseguição iniciada na esquina da Rua Cardeal Arcoverde com a Avenida Eusébio Matoso, duas ruas movimentadas de Pinheiros. Ele estava portando 13 telefones celulares roubados, além de um revólver e outros objetos.

Além de os registros de roubos serem altos, é possível que exista subnotificação. Isso porque algumas pessoas não registram boletins de ocorrência após sofrerem assaltos, como foi o caso de Rodrigo Ladeira, ouvido pelo Estadão, e outros relatados à startup Gabriel, que tem um aplicativo onde as pessoas podem registrar ocorrências.

Sobre a importância do boletim de ocorrência, a Secretaria de Segurança pública disse que trata-se de uma “ferramenta fundamental para mapear os locais com maior incidência criminal, bem como investigar os casos”. Em adicional, com o boletim registrado, a vítima tem um documento que a permite provar e se resguardar contra possíveis golpes.

O boletim de ocorrência pode ser feito na delegacia da área ou online, no site da Polícia Civil.

Publicidade

iFood e Rappi têm tomado medidas para reforçar a segurança

Procuradas pelo Estadão, as duas principais empresas de serviços de entrega que operam em São Paulo, iFood e Rappi, lamentaram que seus equipamentos estejam sendo utilizados em atos criminosos e que esses crimes possam contribuir para depreciar a imagem e o trabalho de entregadores.

Segungo o iFood, suas mochilas são disponibilizadas “apenas para entregadores cadastrados na plataforma, e todas têm um selo de verificação que atesta a qualidade do material e procedência do mesmo”. Em uma busca em sites de compras online, a reportagem encontrou mochilas de entrega genéricas, mas nenhuma com logos das duas empresas.

“Para combater situações em que criminosos se passam por falsos entregadores do iFood, a empresa assinou em 2022 acordos de cooperação com diferentes Secretarias de Segurança Pública, dentre elas, do Estado de São Paulo, em que disponibiliza suas tecnologias para auxiliar a polícia na identificação dos criminosos”

O Rappi disse que “ao se conectar na plataforma, o entregador independente precisa fazer um reconhecimento facial em tempo real” e ressaltou que “todos os entregadores independentes que atuam em sua plataforma passam por processo formal e rigoroso de cadastramento, o que inclui fotos, documentos pessoais e outros dados comprobatórios”.

O que fazer para se proteger?

A polícia e especialistas em segurança indicam medidas preventivas contra a prática recorrente de roubos. As medidas vão desde as mais simples, como evitar locais mal iluminados ou de pouca circulação no período da noite, a ações de proteção digital, como autenticação de dois fatores em aplicativos para mitigar os prejuízos dos roubos de celular. Veja aqui mais dicas.

Publicidade

É importante, ressaltam as autoridades, o registro da ocorrência na delegacia, mesmo em casos de menor prejuízo. O registro dos casos, aponta a polícia, ajuda na definição de áreas de patrulha baseadas em incidência criminal. O boletim é fundamental também para ações de investigação da Polícia Civil e é um documento oficial que auxilia na proteção contra golpes e usos indevidos dos materiais roubados.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.