O motoboy Leandro Junior Santos, de 24 anos, morador de Votorantim (SP), não consegue esquecer uma manhã de abril deste ano, quando um carro atingiu a sua moto na Rodovia Santos Dumont (SP-79), entre Sorocaba e a sua cidade. Quando se deu conta, estava sob o carro e a moto, com uma fratura exposta no tornozelo. “Sentia uma dor terrível, achava que ia desmaiar. O resgate não demorou, mas para mim pareceu um século”, conta. Levado ao hospital, esperou 15 dias por uma cirurgia.
Além da dor e do susto, casos como o do motoboy saem caro para o Estado de São Paulo, segundo cálculo inédito feito pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, responsável pelo Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado (Infosiga). Os quase 70 mil acidentes de trânsito registrados nas rodovias paulistas, no ano passado, resultaram em um custo de R$ 4,9 bilhões à economia do Estado – com os gastos com saúde como principal componente.
Para chegar aos valores, os técnicos da Seade utilizaram uma metodologia criada em 2006 por outro órgão, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Naquele ano, o Ipea pegou dados nacionais sobre acidentes de trânsito, divulgados pelo governo federal, e fez uma pesquisa de campo para calcular os custos.
“Eles entraram em contato com essas pessoas e levantaram a história depois do acidente: quanto tempo tinham ficado hospitalizadas e os valores disso. Com base nos custos médios dessa amostra, que foram qualificados por tipo de veículo, aplicaram para o total de casos”, explica o chefe da divisão de produtos da Seade, Carlos França. “O que fizemos foi pegar aqueles custos médios por componentes, atualizar monetariamente e aplicar hoje nos totais de acidentes”, acrescenta.
Composição
Do total dos custos dos acidentes rodoviários, R$ 2,7 bilhões são referentes a gastos com pessoas. “A metodologia considera também os anos perdidos com os óbitos”, explica França. É o quanto a pessoa que morreu deixou de gerar de renda para a família, usando a comparação com a expectativa de vida. “Esse custo é o maior componente, associado aos custos de saúde, como o tratamento, a internação, os custos de remoção”, conta. Há ainda a perda em automóveis e em reparos que, eventualmente, as rodovias precisaram passar após os incidentes, que também superam os R$ 2 bilhões. O restante é de gastos diversos.
No caso do motoboy Santos, mesmo depois de esperar a cirurgia, ele ainda ficou mais três meses sem poder se levantar. “Quando deu para sair da cama, passei a usar muletas.” O prejuízo foi para a família inteira, uma vez que sua mulher também não pôde trabalhar.
“Ela tinha de ficar em casa, cuidando de mim. Nós dois acabamos ficando sem trabalhar. É ruim, porque você só gasta. Alguns remédios não eram fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e tivemos de comprar.” O rapaz, entregador de parmegianas, voltou ao emprego, mas ainda sente dores no pé. “Nunca mais vai ficar como era”, lamenta.
No total, 28,8% das mortes nas estradas são ocorrências que têm a motocicleta como meio de transporte. Nos dados gerais, que incluem os acidentes ocorridos nas cidades, esse porcentual é ainda maior, de 35%. No ano passado, 1.737 motociclistas morreram em acidentes em São Paulo.
Insegurança
O professor de Engenharia de Tráfego Creso de Franco Peixoto, da Fundação Educacional Inaciana (FEI), afirma que uma das principais questões relacionadas às mortes nas estradas é a grande taxa de motorização do Estado. “Há 1 carro para cada 3 habitantes”, afirma. Para ele, como há falta de opções de transporte por meios como ferrovias e pouco uso do transporte público, o volume de tráfego nas rodovias por pessoas em transporte individual favorece os acidentes.
Peixoto também alerta para o que chama de “rodovias obsoletas”. São estradas que fazem a ligação para o litoral e, nos trechos de serra, os níveis de inclinação estão acima daqueles estabelecidos por norma, que é de 6%. “Existem rodovias em que a inclinação é de 21%.”
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