Dependentes químicos da Cracolândia invadiram e saquearam uma loja de eletrônicos na Rua Santa Ifigênia, no bairro de mesmo nome, na noite desta quarta-feira, 1º de novembro. Vídeos do episódio mostram dezenas de pessoas arrombando a porta do local e cercando a entrada, enquanto tiram os produtos de lá. Essa já é a segunda vez que a Carlos Eletrônicos é saqueada pelos usuários, segundo a proprietária do estabelecimento.
“Chegamos aqui e estavam saqueando tudo. Tinha um grupo tirando as mercadorias da loja e outro protegendo eles”, diz Ângela Aparecida de Oliveira, de 44 anos. Nascida na Bahia, ela se mudou para São Paulo em 2013, mesmo ano em que abriu a Carlos Eletrônicos, em outro endereço também na Santa Ifigênia.
Nos últimos anos, ela conta que tem fechado a loja mais cedo, por volta das 17h, pela falta de segurança na região. Às 21h desta quarta-feira, quando já estava em casa, Ângela recebeu ligações dos vizinhos contando que um grupo de usuários da Cracolândia estava tentando arrombar o local.
“Eu tentei entrar e pedir para pararem, mas não me deixaram chegar perto. Começaram a jogar pedra, tirar faca e do bolso e ameaçar que tinham arma e iam me matar”, conta ao Estadão. “Os vizinhos que me seguraram.”
Essa é a segunda vez que a loja de Ângela é atacada pelos usuários da Cracolândia na Santa Ifigênia. A primeira foi em abril de 2019, quando “a loja era menor e levaram tudo”. Ela conta que terminou há pouco tempo de pagar a dívida de R$ 50 mil referente esse episódio e que, agora, perdeu as esperanças com o novo prejuízo de R$ 80 mil.
“Estou devendo o mês de aluguel, os fornecedores, o aluguel do meu apartamento. Não vou ter como pagar”, conta com a voz embargada. “Agora o meu plano é pedir ajuda da minha família para ir embora e tentar me levantar de alguma forma.”
Em nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Polícia Civil informou que “equipes já estão conduzindo diligências no local com o objetivo de coletar informações que possam auxiliar no registro e na identificação dos envolvidos”. A corporação também diz que nenhum boletim de ocorrência sobre o episódio foi registrado, o que classifica como “imprescindível para auxiliar nas investigações e na reorientação do patrulhamento ostensivo nas ruas”.
“Não fiz e não pretendo fazer”, rebate Ângela sobre o boletim de ocorrência. “Quando aconteceu da primeira vez, me deixaram de molho o dia inteiro na delegacia e disseram que não podiam fazer nada porque (os saqueadores) eram moradores de rua e não tinham documentos.”
Questionada novamente, a Polícia Civil nem a SSP comentaram o episódio citado por Ângela, que teria acontecido no 2º Distrito Policial, no Bom Retiro. A pasta informa apenas que “a recuperação da área central de São Paulo e o aumento da sensação de segurança de moradores e comerciantes é uma prioridade” e que o policiamento na Santa Ifigênia “segue reforçado desde ontem à noite”.
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A nota afirma que a Polícia Militar atendeu, ao menos, três chamados na Rua General Osório, “onde equipes foram alvo de pedradas”. Ainda segundo a SSP, 61 infratores foram presos em flagrante e 27 procurados da Justiça capturados entre os dias 23 e 29 de outubro.
Ângela começou uma vaquinha online, com a qual pretende comprar uma máquina de sorvetes e “ficar em outro ramo”. A ajuda pode ser feita neste link.
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