Estupro e tatuagem à força: ao menos 10 mulheres acusam Thiago Brennand de crimes

Ministério Público de São Paulo começa a ouvir vítimas na segunda-feira; empresário tem prazo até dia 23 para retornar ao Brasil

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Denunciado após ser flagrado agredindo uma modelo em uma academia da capital, o empresário Thiago Brennand Fernandes Vieira, de 42 anos, será investigado agora pela prática de crimes sexuais contra ao menos dez mulheres. A partir de segunda-feira, 19, as promotoras públicas do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NAVV) do Ministério Público de São Paulo começam a ouvir as vítimas, segundo informou o MPSP. Relatos prévios obtidos pelas promotoras dão conta de crimes de assédio sexual, estupros, cárcere privado, agressões e ameaças. Três teriam sido marcadas com as iniciais dele tatuadas no corpo.

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O empresário, que já se tornou réu no caso da agressão à modelo paulistana, viajou para Dubai, nos Emirados Árabes, no último dia 4 e continua no exterior. A Justiça deu prazo de dez dias para que ele retorne ao Brasil. O prazo vence no próximo dia 23.

Conforme o MPSP, o núcleo de atendimento foi criado no início deste ano para prestar apoio às vítimas de crimes violentos, sobretudo os sexuais, oferecendo assistência psicológica, social e de saúde, em parceria com outras instituições. As vítimas do empresário procuraram os canais da Justiça depois que outros casos envolvendo Thiago Brennand se tornaram públicos. Para isso, elas tiveram o apoio do Projeto Justiceiras, de prevenção à violência de gênero.

Polícia Civil apreendeu acessórios para armas na casa de Thiago Brennand em Porto Feliz, interior de SP. Foto: Polícia Civil/Divulgação

As promotoras vão ouvi-las de maneira informal, para que elas se sintam à vontade para falar, mesmo sobre os momentos mais dolorosos. Se os relatos confirmarem a existência de crimes, elas serão ouvidas formalmente para a abertura de inquéritos. O próprio MP pode iniciar o procedimento investigatório criminal. Além da equipe de promotores do NAVV, coordenado pela promotora Silvia Chakian, o promotor de Porto Feliz, Josmar Tassignon Junior, participa da investigação, que vai correr em sigilo.

Conforme o MPSP, os relatos dão conta de crimes graves, principalmente estupros. As mulheres teriam sido atraídas pessoalmente ou através de redes sociais e foram levadas para a mansão do empresário em um condomínio de luxo em Porto Feliz, interior de São Paulo, onde os crimes teriam acontecido.

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Tatuagem à força

O advogado Márcio Cezar Janjacomo, que assiste as vítimas e encaminhou os casos ao MP, disse que o modus operandi usado pelo empresário é o mesmo relatado pela mulher que já o havia denunciado à Polícia Civil de Porto Feliz. A vítima, uma jovem pernambucana, foi mantida em cárcere privado, estuprada e obrigada a se submeter a uma tatuagem com as letras TFV, as iniciais do nome do empresário.

“Ele deixava claro que marcava as vítimas como forma de registrar que eram sua propriedade. Além dessa vítima, houve mais dois casos (de tatuagem), que ainda dependem da investigação. O fato é que são crimes bárbaros e elas vão mostrar conversas no celular sobre vídeos que ele teria feito e ameaçava divulgar para destruir a reputação delas, além de ameaças, humilhações. É um material farto e incriminador”, disse.

Ainda segundo o advogado, as vítimas são jovens mulheres que conheceram Thiago Brennand em eventos sociais ou através de redes sociais. “Nem todas são do nível econômico e do meio social dele. Algumas moças ele conheceu em bares e baladas. Como no início ele era gentil e cordial, muitas ficaram iludidas, achando que tinham encontrado o príncipe encantado”, afirmou.

Os casos aconteceram entre o final de 2017 e o início deste ano. Um dos recentes é o da mulher que teve um relacionamento com o empresário em 2021 e, depois de denunciar o caso à polícia de Porto Feliz, teve de voltar atrás em razão das ameaças dele. As testemunhas, entre elas o tatuador, disseram à polícia que nada houve. Além de arquivar o caso por falta de provas, a polícia encaminhou o inquérito para a Polícia Civil de Pernambuco para que a vítima fosse investigada por denunciação caluniosa. O MP de Porto Feliz mandou reabrir a investigação.

Outro relato é de uma brasileira de 37 anos que mora nos Estados Unidos e conheceu Thiago pelas redes sociais, passando a trocar mensagens. Em agosto do ano passado, ela veio para São Paulo e foi levada à mansão dele em Porto Feliz. Depois de um período de romantismo, ele se tornou possessivo e violento, ao ponto de obrigá-la a entregar a senha do celular. Após ver suas conversas pessoais, ele passou a xingar e agredi-la com tapas no rosto e na cabeça, segundo o advogado.

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Naquela noite, o homem a estuprou, obrigando-a a fazer sexo anal com ele. Antes, permitiu que um tatuador entrasse no quarto e, na presença de seguranças, gravasse suas iniciais no corpo dela. A vítima relata que foi mantida em cárcere privado e impedida de se comunicar com familiares. Ele tinha câmeras no quarto e gravou os momentos íntimos dos dois, ameaçando mandar os vídeos para a filha da mulher.

Enredo

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Conforme o advogado Janjacomo, as outras mulheres relataram ter sofrido crimes semelhantes. “O enredo era sempre o mesmo. Ele iniciava uma relação e depois começava a humilhar e abusar das vítimas, obrigando-as ao silêncio sob a ameaça de divulgar os vídeos e acabar com elas.”

Thiago já é réu na Justiça pelos crimes de lesão corporal e corrupção de menores por ter sido acusado pelo MP de agredir a modelo Helena Gomes numa academia na capital paulista e incentivar o filho dele menor de idade a ofendê-la. A Justiça ainda proibiu o empresário de frequentar academias e de se aproximar de testemunhas. Ele também foi obrigado a entregar o seu passaporte, o que deve fazer após seu retorno ao País. Em caso de descumprimento das medidas cautelares impostas, poderá ser decretada a prisão preventiva de Thiago.

Durante as investigações, a Polícia Civil apreendeu acessórios para armas de Thiago dentro de uma mala num armário dele em sua casa no condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz. Uma perícia vai apontar se os equipamentos estão legalizados. Logo após a operação, o Exército suspendeu o certificado de registro de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador desportivo), que permitia a Thiago ser colecionador de armas.

Além das mulheres, ao menos dois homens acusam o empresário de agressões: um enfermeiro de um hospital na capital e um garçom de um hotel em Porto Feliz. O caso do garçom Vitor Igor Rodrigues Machado, de 26 anos, está em processo de investigação pela Polícia Civil.

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O garçom Vitor Igor Domingues Machado, que acusa Thiago Brennand de agressão.  Foto: José Maria Tomazela/Estadão

Acusado de passar “correndo” com a moto pela frente da mansão do empresário em Porto Feliz o jovem conta ter sido agredido a socos e ameaçado para não mais voltar a cruzar o caminho do agressor. Desde o episódio, o garçom está afastado do serviço no restaurante Fasano, mudou de função e está em home office como auxiliar administrativo.

A reportagem entrou em contato com a defesa de Thiago Brennand e ainda aguarda retorno.

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