Etarismo na universidade: Caloura de 45 anos registra boletim de ocorrência contra colegas

Caso foi registrado como injúria e difamação na Delegacia de Bauru, onde a investigação continua

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Foto do author Renata Okumura

A estudante do curso de Biomedicina da Unisagrado, em Bauru, no interior de São Paulo, que foi vítima de deboche por parte de três colegas da universidade, registrou um boletim de ocorrência contra elas nesta semana. O caso foi registrado como injúria e difamação na Delegacia de Bauru, onde segue sendo investigado. O etarismo ou velhofobia corresponde à discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos.

Na sexta-feira, 10, viralizou um vídeo em que três calouras do curso debocharam de Patrícia Linares, de 45 anos, que também começou a estudar neste ano, por ela ser mais velha. Na publicação, uma das jovens pergunta como fazer para “desmatricular” uma colega de classe. A segunda estudante que aparece no vídeo responde: “Ela tem 40 anos já”, disse. “Era para estar aposentada”, continua uma terceira aluna no vídeo. “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade”, afirmou, com ironia, uma delas.

Três estudantes de Biomedicina da Unisagrado, em Bauru, ofenderam caloura por ter mais de 40 anos. Foto: Reprodução de Vídeo/Twitter @Isaac_Ordous

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), a vítima compareceu à delegacia na última segunda-feira, 20, onde foi ouvida. Ela representou criminalmente contra as autoras do vídeo.

As estudantes não foram localizadas pela reportagem. O espaço permanece aberto para que se manifestem sobre o caso.

Entenda o que é o etarismo

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O etarismo é a discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos. A ofensa também é conhecida como idadismo ou ageísmo, ou seja, é o preconceito com relação à idade, definido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) como aquele que “surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas por atributos que causam danos, desvantagens ou injustiças, e minam a solidariedade intergeracional”, afirma Leonardo Pantaleão, especialista em Direito e Processo Penal, mestre em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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“Por se tratar de conduta que ofende a honra subjetiva, em especial sua autoestima, ou seja, a visão que ela tem sobre si mesma, pode-se cogitar o delito de injúria, que corresponde a uma das espécies de crime contra a honra tipificados no Código Penal brasileiro”, afirma o especialista em Direito e Processo Penal.

“Sabemos que não existe idade para que a vida aconteça. Mas, infelizmente, muitas pessoas de mais idade, acima dos 40 anos, desistem de realizar seus sonhos porque acreditam não terem mais tanto valor quanto um jovem. E, infelizmente, as poucas pessoas acima dos 40 anos que tentam realizar seus sonhos correm riscos de enfrentar discriminação, preconceito e injúrias, como no caso da estudante de uma universidade de Bauru”, disse Luana Ganzert, psicóloga especialista em emoções.

Como mostrou o Estadão, o número de calouros com 40 anos ou mais em universidades brasileiras quase triplicou nos últimos dez anos, entre 2012 e 2021, segundo dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). A alta, de 171,1%, foi bem maior do que a variação do total de ingressantes: de 43,1%. Entre as causas, especialistas apontam, principalmente, a expansão dos cursos de ensino a distância (EAD) e a crise econômica, que obrigou muitos a tentarem recalcular a rota no mercado de trabalho.

Alunas que debocharam de colega com mais de 40 anos desistem de graduação

Barbara Calixto, Beatriz Pontes e Giovana Cassalati, as três alunas do curso de Biomedicina da Unisagrado que gravaram o vídeo debochando de Patrícia, desistiram da graduação.

Após a repercussão do vídeo, a Universidade Unisagrado disse, em uma publicação nas redes sociais, que não compactua com qualquer tipo de discriminação. “Defendemos uma causa: a educação. Na verdade, somos a causa. Acreditamos que todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia. Isso tudo faz sentido para nós”, afirmou.

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Posteriormente, a instituição de ensino instaurou um processo disciplinar para apurar o caso. No entanto, segundo a própria entidade, em meio ao andamento da ação que avaliava a conduta das três universitárias, elas decidiram solicitar a desistência do curso.

“Comunico que foi instaurado processo disciplinar e, durante, as três estudantes solicitaram a desistência do curso de Biomedicina. Dessa forma, o processo perdeu o objeto e, por isso, foi finalizado”, disse a instituição em nota na quinta-feira, 16.

‘Chorei muito, mas parar não está em meus planos’, diz estudante

Ao Estadão, Patrícia disse que ficou abalada com o vídeo e chorou muito, mas não cogitou desistir do curso. Fazer uma faculdade era um sonho antigo seu. Não conseguiu realizar antes por causa da necessidade de trabalhar.

Estudantes do quarto ano de Biomedicina se solidarizam com Patrícia. “Nós, do último ano de Biomedicina da USC, fomos até ela e a presenteamos com uma flor e chocolate! A Pati é um amor e só merece coisas boas dessa vida”, disse o grupo em publicação nas redes sociais.

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