As falhas elétricas que atingiram e paralisaram o funcionamento da Linha 4-Amarela do Metrô desde o início da manhã desta quarta-feira, 15, em São Paulo, causaram transtorno e dificultaram o retorno para casa na capital paulista. Por volta das 20h, quase dez horas após o início do problema, a ViaQuatro, concessionária que administra a linha, afirmou que a situação estava normalizada.
Funcionários da ViaQuatro que trabalham na estação Paulista disseram à reportagem que a operação voltou a ocorrer nos dois sentidos em toda a linha, mas com fluxo reduzido. Os ônibus do Plano de Apoio entre Empresas de transporte frente as Situações de Emergência (Paese), acionados para reforçar o deslocamento de passageiros entre Butantã e Paulista, estavam sendo desmobilizados por conta da queda na demanda.
Na Estação Paulista, o cenário entre o fim da tarde e início da noite era de superlotação, espera e tumulto. Passageiros se acumulavam na Rua da Consolação na expectativa de conseguir embarcar em ônibus que prestam apoio à operação.
À reportagem, passageiros contam que não conseguiam prever o horário em que chegariam a suas residências e que, apesar do transtorno, preferiam optar pelo retorno do funcionamento dos trens do que pegar os ônibus Paese.
A babá Larissa dos Santos, de 24 anos, ficou assustada com o que viu quando chegou na Estação Paulista, por volta de 18h30. “Estava um caos, não tinha como pegar o ônibus do Paese”, diz ela, que trabalha na região de Higienópolis.
Larissa conta que as equipes que trabalhavam na organização das filas perderam o controle no horário de pico e a Rua da Consolação virou um amontoado de pessoas. A via chegou a ser fechada pela quantidade de passageiros em determinados momentos.
“Em outras vezes que presenciei problemas no Metrô eles deram senha, organizaram melhor a fila. Hoje, não. Decidi nem tentar pega o ônibus dessa vez”, diz. Sentada na escadaria de uma das saídas da estação, ela esperava uma carona do namorado para ir embora para casa, no Grajaú.
“Para mim o pior foi que desligaram as escadas rolantes, e as estações da linha Amarela são bem fundas”, diz a pedagoga Laís Bertassoli, de 47 anos, que é moradora da região do Morumbi.
Após sair da escola em que trabalha no Jabaquara, zona sul, ela também chegou à Estação Paulista por volta de 18h30. “Os elevadores estavam lotados, não tinha como pegar. Teve uma senhora que subiu as escadas do meu lado, um desrespeito”, conta. Quase uma hora depois de ter chegado na estação, ela recebeu a notícia que a linha estava sendo normalizada. “Agora já é tarde, meu filho está a caminho para me buscar.”
A costureira Maria Isa Mendes, de 53 anos, enfrentou problemas na Estação Pinheiros. “A fila está muito cheia e desorganizada, sem condições”, disse. “Vou ficar aqui fora esperando para ver se o Metrô volta a funcionar.”
Moradora de Franco da Rocha, Maria conta ter ido para a região de Pinheiros para trabalhar logo pela manhã. “Não estava como agora”, disse. O trajeto normalmente dura 1h30. “Na volta, costumo chegar em casa 18h30, hoje não tenho nem previsão.”
A situação piorou na Estação Pinheiros no fim da tarde, horário de pico. O portão que permitia a baldeação para a Linha 4-Amarela de quem estava dentro da estação foi fechado, e funcionários da ViaQuatro tentaram a todo momento redirecionar a multidão para os ônibus gratuitos. “Falam para ir pegar os ônibus Paese, mas a gente fica horas na fila. Não passa nenhum”, reclamou um homem, que preferiu não se identificar.
Em nota, a ViaQuatro disse lamentar “os transtornos ocasionados por falha de alimentação elétrica na subestação Fradique Coutinho, na Linha 4- Amarela”. Ainda no comunicado, a empresa afirmou que os passageiros foram “constantemente orientados por avisos sonoros emitidos nos trens e estações e pelos Agentes de Atendimento e Segurança (AAS) da concessionária”, enquanto a situação não se resolvia.
Alternativa
Uma calçada da Rua Gilberto Sabino, que fica rente à saída da Estação Pinheiros, lotou de passageiros à espera de carros de aplicativo. Com as falhas no Metrô, foi a alternativa encontrada para voltar para casa depois do dia de expediente.
Morador de Vila Prudente, o analista de logística Leonardo Casarini, de 27 anos, foi um dos que optou por pedir carro de aplicativo assim que desembarcou de Osasco na estação. “Está dando R$ 90 reais, muito mais do que pago normalmente. Mas não tenho muito o que fazer”, diz.
À espera de carros de aplicativo, outras pessoas relataram à reportagem que as tarifas estavam bem mais altas por conta da maior demanda no fim de tarde. Em alguns casos, o valor das corridas é mais do que o dobro do que seria pago normalmente. “E as corridas demoram mais que o normal ainda por cima. A cidade está um caos”, diz Leonardo.
Mesmo para quem opta pelo carro de aplicativo a situação não está tão simples. Morador da Mooca, o publicitário José Orlando, de 36 anos, estava havia 30 minutos esperando um carro quando falou com a reportagem, no fim da tarde.
“Só quero chegar em casa. Hoje o dia foi muito cheio, e estou bem cansado”, disse, torcendo para que os motoristas dos aplicativos não cancelassem a viagem. O valor estimado para a corrida estava o triplo do habitual: R$ 94, em vez de R$ 30.
Falha começou pela manhã
A situação caótica teve início às 8h20, mas foi normalizada oito minutos depois, prejudicando apenas o trecho entre as estações Paulista e Pinheiros. A segunda começou por volta das 10 horas e persistiu até o início da noite desta quarta-feira. “Técnicos atuam para restabelecer a circulação plena de trens na Linha 4-Amarela, que, às 10h13, apresentou falha elétrica”, informava a ViaQuatro durante o dia.
A paralisação da Linha 4-Amarela produziu um efeito cascata. A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) afirmou que a Linha 1-Azul, Linha 2-Verde e Linha 3-Vermelha chegaram a funcionar com velocidade reduzida em períodos do dia. Por volta das 13 horas, a situação nas três linhas administradas pelo Metrô já estava normalizada, segundo a companhia. A situação dos ônibus do Paese foi pior no fim da tarde, com o horário de pico.
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