OSASCO - Antes da decisão, uma oração. Depois, abraços e lágrimas de alegria. Minoria entre os presentes no fórum, os familiares das vítimas comemoraram o resultado do júri. "A Justiça foi feita: os meninos morreram sem nem saber o porquê", afirmou a empregada doméstica, Zilda Maria de Paula, de 64 anos, que perdeu o único filho na chacina ocorrida em 2015.
"Isso vai trazer paz para todas nós, mas a nossa luta vai continuar", afirmou Zilda, que na semana passada disse ao Estado que não saberia como ia reagir em caso de condenação. Mas confidenciou: "Eu achei que ia perder".
Ela é uma das fundadoras do movimento Treze de Agosto, grupo formado após o ataque de 2015 e que também presta auxílio a outras vítimas de violência policial. Arrolada como testemunha, Zilda chegou a falar aos jurados sobre a história do seu filho - o único dela, que sofreu cinco abortos - no segundo dia do julgamento.
Apesar de torcer para o Corinthians, Zilda acompanhou o julgamento vestida com uma camisa do São Paulo, que pertencia ao filho Fernando Luiz de Paula, morto no Bar do Juvenal, o maior dos ataques. "É sacrifício de mãe", disse.
"A sensação é de alívio", afirmou Aparecida Silveira Brito, de 64 anos, mãe de Adalberto Brito da Costa, assassinado no mesmo local. "À noite, eu espero meu filho chegar. Ele faz muita falta. Quando chega o Dia das Mães, a saudade é muito grande."
Após o julgamento, todas os familiares se reuniram para abraçar o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira. "O senhor foi bom demais para gente", disse um dos parentes.
Injustiça. Durante a reunião do Conselho de Sentença na sala secreta, dezenas de familiares e amigos dos réus fizeram um cordão na Avenida das Flores, na frente do fórum, para rezar. Mais numerosos, reagiram com choro de tristeza ainda dentro do plenário.
"Isso aqui foi feito uma palhaçada, uma covardia com um inocente! Meu filho é inocente! Eu morro, eu morro falando isso. Eles enterraram vivo, não só meu filho: eles me condenaram também como pai", disse o aposentado José Eleutério, de 67 anos, pai do PM Fabrício Eleutério. Revoltado, o pai começou a falar de forma espontânea na frente do fórum.
"A Justiça não foi feita, porque, agora, vocês acham que eles vão atrás de alguma coisa? Eles vão atrás de quem realmente fez? Quem fez está lá rindo da cara desse governo lixo", afirmou Fabiana Augusta Eleutério, de 29 anos, irmã do policial. "Meu irmão é inocente."
Entre os apoiadores dos réus, a maioria estava ligada ao GCM Sérgio Manhanhã. "Eu tenho saudade do companheirismo. O Sérgio é amoroso e superprotetor com qualquer pessoa", disse ao Estado Eliete Manhanhã, de 43 anos, mulher do réu, antes de saber o resultado do júri.
Para custear os advogados, a família do GCM vendeu um terreno que tinha no interior e recebeu ajuda de colegas de trabalho dele, que fizeram vaquinhas e chegaram a doar R$ 1 mil, cada. "Nós acabamos formando a família da guarda municipal."
"Os réus estão pagando pelo que não fizeram", afirmou Gabrirla Henklain, mulher do PM Thiago Henklain - com quem tem dois filhos, o mais novo de 11 meses - também antes de conhecer a decisão do tribunal. Ela nega ter brigado com o marido após a chacina. "Nunca existiu", disse. "O policial pode colocar a farda mas o coração dele não é de pedra."
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