Dois sentimentos tomam conta da família de Ornaldo da Silva Viana, motorista de aplicativo de 52 anos que morreu neste fim de semana, em São Paulo, depois de ter o carro atingido por um Porsche, avaliado em mais de R$ 1 milhão: a incredulidade diante da tragédia, eles ainda não acreditam no episódio, e a expectativa pela ação da justiça.
O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, motorista do Porsche 911 Carrera GTS que bateu contra um Renault Sandero e causou a morte de Viana, se entregou no 30º Distrito Policial do Tatuapé, zona leste da capital, na tarde desta segunda-feira, 1º. Ele se apresentou quase 40 horas depois do acidente, registrado por volta 2h20 de domingo.
O empresário foi indiciado por homicídio doloso, lesão corporal e fuga. A Polícia Civil também pediu a decretação da prisão temporária. A advogada Carine Acardo Garcia, que defende o motorista da Porsche, afirmou que ele se encontra em “estado de choque”.
Também nesta tarde, praticamente na mesma hora, Viana estava sendo enterrado em Guarulhos, na Grande São Paulo. “Meu pai não merecia essa crueldade”, diz o filho da vítima, Lucas Morais, 28 anos, também motorista por aplicativo.
Conforme relato feito por testemunhas à Polícia Civil, o empresário do carro de luxo seguia em alta velocidade pela avenida, que tem limite de 50 km/h. Ao fazer a ultrapassagem, ele teria perdido o controle do Porsche e batido contra a traseira do carro de Viana.
Viana chegou a ser socorrido com um quadro de parada cardiorrespiratória e encaminhado ao Hospital Tatuapé. Ele morreu por causa de “traumatismos múltiplos”.
Pelas imagens, é possível perceber a violência da colisão, que leva os dois carros para o canteiro da avenida. Um deles bate no poste de luz, o que provoca a queda imediata de energia elétrica no quarteirão. As circunstâncias do acidente estão sendo investigadas pela Polícia Civil.
Viana nasceu em Codó, no Maranhão, e morava atualmente em Guarulhos. Pai de três filhos, o motorista era evangélico da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Era do tipo brincalhão, extrovertido, riso fácil, de acordo com os amigos.
A dor da perda dá espaço à indignação. “Porque não fizeram o bafômetro? Por que liberaram ele (o motorista do Porsche)? Não entendo muito de lei, mas não podem liberar ninguém depois de um acidente daquele”, diz Lucas.
A Polícia Civil investiga as razões para os policiais militares que atenderam à ocorrência terem liberado o empresário, que se apresentou somente nesta segunda-feira.
No registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmam que a mãe de Andrade Filho compareceu ao local e disse que levaria o filho ao Hospital São Luiz, localizado no Ibirapuera, zona sul, para tratar de um ferimento na boca. Quando os agentes foram até ao hospital para fazer o teste do bafômetro e colher sua versão do acidente, eles não encontraram nenhum dos dois.
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