SÃO PAULO - O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, detido pela Polícia Militar na manhã desta terça-feira, 17, disse que sua prisão foi "evidentemente política". Boulos foi detido por desobediência civil e incitação à violência após reintegração de posse em um terreno particular em São Mateus, na zona leste de São Paulo.
Segundo o MTST, ao menos 700 famílias moravam no local, conhecido como Ocupação Colonial em São Mateus. No 49º Distrito Policial (São Mateus), para onde foi encaminhado, Boulos conversou com a imprensa enquanto aguardava ser chamado. "Não há nenhum motivo razoável. Eu fui lá negociar para evitar que houvesse a reintegração. Foi uma prisão evidentemente política", afirmou o líder do movimento.
"Alegaram incitação à violência e descumprimento de ordem judicial, que é descabido. Fui negociar com o oficial de Justiça. Ele estava presente para oficiar que o Ministério Público havia pedido a suspensão da reintegração ontem (segunda-feira, 16) e o juiz ainda não tinha julgado. E (fui falar) que seria razoável eles esperarem o resultado antes de reintegrar as pessoas. Foi o que eu disse para eles", disse Boulos. "Se isso é incitação à violência, então eu incuti a violência."
Boulos disse ainda que o policial que o deteve teria mencionado outras manifestações do MTST ao ser questionado sobre o motivo da prisão, "especialmente" o conflito que aconteceu em um ato na frente da casa do presidente Michel Temer, no ano passado. "O capitão da Tropa de Choque, quando me deteve, e perguntei a ele o motivo, ele disse incitação à violência, outros crimes e se referiu a outras manifestações do movimento, em especial uma que ocorreu em frente à casa do Michel Temer em que ele também comandava a Tropa de Choque, na ocasião em que houve um conflito com o MTST. Isso é mais uma manifestação clara, na nossa opinião, de que essa prisão é política".
Além de Boulos, o morador da ocupação José Ferreira Lima foi detido e encaminhado ao 49º Distrito Policial (São Mateus). "Segundo a PM, a dupla foi detida acusada de participar de ataques com rojão contra a PM, incitação à violência e desobediência", declarou a SSP. Os dois assinaram um termo circunstanciado e serão liberados.
'Nível sociocultural'. O major Rogério Calderari, que esteve à frente da ação, disse que o líder do MTST "usa seu nível sociocultural para ganhar pessoas e incentivá-las a arremessar coisas contra a polícia". O major afirmou que o grupo de policiais foi recebido a "pedradas". "Feriram a perna de um dos nossos policias que estava de escudo balístico."
"Ele (Boulos) tem um nível sociocultural muito melhor que as pessoas que estavam ali. E ele usa seu nível sociocultural para ganhar pessoas, incentivá-las a arremessar coisas comtra a polícia e morteiros. Morteiro é uma coisa grave. Já morreu gente com isso. Ele está colocando em risco a vida de pessoas", afirmou o major.
Segundo ele, a reintegração foi pedida há seis meses.
Bombas. Imagens da Rede Globo mostram que a Polícia Militar usou bombas de gás para avançar sobre os sem-teto.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP), em nota, afirmou que "após tentativa de negociação dos oficiais com as famílias, não houve acordo". O governo disse ainda que os moradores tentaram resistir "hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos e rojões". "O grupo ainda montou três barricadas com fogo."
A pasta confirmou o uso de bombas de efeito moral, spray de pimenta e jato d'água pela Tropa de Choque.
Em nota na página oficial do MTST, militantes dizem que prisão é "absurda". "Não aceitaremos calados que além de massacrarem o povo da Ocupação Colonial, jogando-os nas ruas, ainda querem prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajudá-los", publicou o grupo.
Na página do líder, militantes pedem que Boulos seja solto.
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