SÃO PAULO - Cerca de cem metros separam a casa onde morava Raíssa, menina de 9 aos assassinada no Parque Anhanguera no último domingo, 29, e o adolescente de 12 anos que confessou o crime. Na Rua Vicente José dos Santos, no Morro Doce, na zona norte de São Paulo, vizinhos estão assustados com o homicídio e ainda céticos sobre a capacidade do garoto executar a ação de forma tão brutal - a criança foi encontrada pendurada pelo pescoço, com uma corda, e o corpo bastante machucado.
A imagem do corpo ferido da menina amarrado junto a uma árvore circula pelo WhatsApp dos moradores, enquanto as conversas de calçada, incluindo das crianças da rua, discutem as razões que poderiam ter levado o garoto a cometer o crime. Raíssa dividia a casa com a mãe e um irmão. Já o adolescente vivia com a mãe, duas irmãs e o padrasto.
O cabeleireiro Pablo Klebson, de 36 anos, improvisa um salão de beleza, seu local de trabalho, em uma casa na frente da residência onde vivia Raíssa. Ele se recorda do jeito amoroso da menina. Ela passava com frequência por ali, principalmente para brincar com a pequena cachorrinha de Klebson. “Ela só interagia com quem se sentia confiante. Se ela não conhecia, não interagia. Aqui, ela passava sempre depois da escola e brincava”, disse o cabeleireiro.
Moradores do bairro falam que ambas as famílias se mudaram para a rua há poucos meses. Do adolescente, Klebson se lembra de ter oferecido um corte de cabelo, já que a família aparentemente não tinha condições financeiras. “Uma criança comum”, definiu. Agora, o cabeleireiro se diz assustado. “Estamos chocados com um menino de 12 anos ter chegado a esse ponto. Deixa todo mundo assustado, mas não dá para acreditar que foi só ele”, acrescentou. A desconfiança quanto a esse ponto se repete ao longo da rua.
Vizinhos, que preferiram não se identificar, tentavam fazer as contas do que seria necessário para que ele executasse o crime sozinho. O garoto não teria a força ou a maldade para matar e deslocar o corpo do jeito que ocorreu, deduzem. Os únicos traços que o ligam ao crime, contam eles, são sinais de agressividade que o adolescente demonstrava com colegas e com as irmãs mais novas. No domingo, vizinhos disseram ter visto o momento em que a viatura da GCM chegou à casa do adolescente e ele não demonstrava qualquer sinal de choque.
O líder de estoque Fábio Santos, de 39 anos, e a pedagoga Luana Aragão, de 33 anos, têm dois filhos na mesma escola onde estudava o adolescente no bairro. A repercussão do caso chegou às crianças, que estranharam a movimentação da polícia na região. O caso fez redobrar a atenção dos pais. “Até o diretor estava na porta da escola hoje para liberar as crianças. É uma coisa que leva a uma mudança de comportamento de imediato”, contou Luana.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.