SÃO PAULO - Um casal de homossexuais acusa seguranças do Centro de Tradições Nordestinas (CTN) de homofobia e espancamento. As agressões aconteceram na madrugada de sábado, dia 11, e as vítimas também denunciam que policiais militares que estavam no local não fizeram nada para impedir a ação dos funcionários do estabelecimento. A Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) abriu investigação para apurar crimes de lesão corporal, injúria e agressão. Na tarde desta segunda-feira, 13, os investigadores ouviram os depoimentos das vítimas.
As marcas do espancamento estão por todo o corpo do publicitário Caio Irineu Tomaz da Rocha, de 24 anos. Ele conta que estava com o namorado, de 34 anos, que prefere não se identificar, na saída do CTN quando foram abordados por dois homens que acusaram Rocha de roubar a jaqueta de um deles.
“Eu tenho provas de que a jaqueta sempre foi minha, até porque ela foi comprada nos Estados Unidos, e que houve um engano. Mas os seguranças já chegaram me agredindo. Fui jogado no chão e levei muitos chutes, bicudas e socos.” O namorado de Rocha também apanhou dos seguranças.
“Enquanto apanhava, consegui ouvir os seguranças dizendo que eu era gay e ladrão. Por isso, tinha de morrer mesmo”, contou o publicitário.
Num determinado momento, o casal conseguiu escapar dos seguranças. Rocha contou que começou a gritar por socorro. “Eu dizia que estava sendo agredido por ser gay. Foi aí que veio um outro segurança e deu uma ‘voadora’ no meu rosto. Fomos ameaçados de morte. Nos disseram que, se não saíssemos de lá, íamos levar bala, tiro”, afirmou Rocha.
Omissão. O casal, que estava acompanhado por duas amigas, afirma que correu até uma viatura da Polícia Militar ocupada por dois PMs (um homem e uma mulher). O carro estava parado no estacionamento do CTN.
“Eu fui até eles e expliquei a situação. Pedi socorro. Eles disseram que não poderiam fazer nada e me orientaram a ligar para o 190 e para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Fui para casa e acabei atendido em um hospital da cidade onde moro (Santo André, no ABC Paulista)”, contou.
Para Rocha, o pior momento foi relatar o que sofreu para a mãe. “Dizer que eu apanhei por ser gay foi uma sensação horrível. Nós vamos lutar para que os responsáveis paguem pelo que fizeram”, afirmou o publicitário.
Em nota, o CTN afirmou que não foi acionado pelo casal, mas está à disposição das autoridades. Caso as denúncias sejam comprovadas, o centro diz que vai punir os responsáveis, porque não compactua e combate qualquer tipo de discriminação, seja por gênero, raça ou orientação sexual.
A Secretaria da Segurança Pública, também por meio de nota, informou que a Corregedoria da PM instaurou procedimento administrativo para apurar a conduta dos policiais militares citados pelas vítimas. A Corregedoria aguarda as vítimas para fazer o reconhecimento fotográfico dos PMs.
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