SÃO PAULO - Entidades responsáveis por administrar restaurantes do Bom Prato, programa estadual que oferece refeições a R$ 1, ameaçam encerrar as atividades em São Paulo. Em uma carta-manifesto com 20 assinaturas, um grupo de gestores afirma que está à beira de um “colapso financeiro” e oferece “alimentação de qualidade inferior ao padrão”, por falta de recurso.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz que não vai haver reajuste para os consumidores e sugere que as unidades troquem os itens mais caros do cardápio. “Se o feijão mulatinho está caro, comprem feijão preto”, afirmou o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro.
Atualmente, há 51 unidades do Bom Prato no Estado, destinadas a pessoas de baixa renda, com almoço a R$ 1 e café da manhã por R$ 0,50. Elas são administradas por 41 entidades, que firmam contrato com o governo estadual por meio de convênio. A última unidade foi inaugurada em Santos, no litoral, na semana passada.
Além do valor pago pelos consumidores, as entidades recebem subsídio do governo de R$ 3,81 por almoço e de R$ 1,03 por café da manhã. Os 83 mil pratos vendidos diariamente custam aos cofres públicos cerca de R$ 283,5 mil - ou aproximadamente R$ 74 milhões por ano, considerando apenas os dias úteis.
Na carta entregue à Secretaria de Desenvolvimento Social, em abril, os gestores afirmam que o subsídio não é suficiente para suportar a operação dos restaurantes e dizem que serão “obrigados” a encerrar as atividades “em um curto período de tempo”, caso não haja reajuste.
De acordo com as entidades, a defasagem acumulada desde 2006 é de 34,15% no custo do almoço e de 17,99% no café da manhã. A recente alta dos alimentos - a exemplo do feijão, com inflação de 106,34% nos últimos 12 meses - teria tornado a situação ainda pior.
“Tal fato obriga-nos a continuar gerindo os restaurantes em um permanente estado de instabilidade financeira e ofertando uma alimentação de qualidade inferior ao padrão”, diz a carta. No documento, os gestores sugerem que o subsídio passe para R$ 5,47 (almoço) e R$ 1,31 (café da manhã) ou que o governo aumente o preço para os consumidores. “Contudo, em que pese todas as tentativas de diálogo com o governador, para apresentação desse estudo financeiro (...) não temos até o momento um posicionamento efetivo”, diz.
Segundo Floriano Pesaro, não há risco de o serviço ser interrompido. Ele nega que tenha havido queda na qualidade das refeições que, segundo ele, são fiscalizadas regularmente. “Por ordem do governador, eu mesmo almoço no Bom Prato duas vezes por semana”, disse ao Estado. “Não há queda de qualidade, nem de caloria, nem produto. O que pode haver é substituição. Frango no lugar da carne, por exemplo.”
Reajuste. O secretário admitiu que algumas entidades podem estar atravessando dificuldades financeiras, mas indicou corte de gastos para tentar conciliar as contas. “Vamos oferecer ajuda para auditar as finanças e identificar onde há gordura que possa ser cortada”, diz.
Entre os gastos que podem ser reduzidos, citou custos com pessoal e itens do cardápio. “É preciso dizer que inflação de alimento é sazonal. Há outros custos, como energia elétrica e conta de água, que estão mais baratos neste ano”, afirma.
Para Pesaro, “não faz sentido” reajustar o subsídio, uma vez que houve aumento de cerca de 10% em novembro, mas disse que a secretaria está aberta ao diálogo. Também negou a possibilidade de repassar os custos ao consumidor. “Em momentos de crise, a população carente é quem sofre mais.”
“Não há risco de interromper o Bom Prato. Caso alguma entidade queira entregar a unidade, precisa avisar com 60 dias de antecedência. Então, nós buscamos outra parceira para assumir”, afirma. “Caso o contrato seja rompido unilateralmente, do dia para o outro, a unidade se torna inidônea e não pode assinar outros convênios.”
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