SÃO PAULO - “Agora já não é normal o que dá de malandro regular, profissional / Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato a malandro federal.” Foi ao som de Homenagem ao Malandro, composição de Chico Buarque, que um grupo de sapateadores comandado pela professora Christiane Matallo, de 43 anos, interditou parte da Avenida Paulista na manhã deste domingo, 30.
Além da proposta de levar apresenções artísticas para as ruas, o ato serviu para fazer pressão pela abertura de vias públicas para pedestres e ciclistas. Da calçada e acompanhados por um piano elétrico, membros do coral da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) executavam a música para os sapateadores ocuparem a Paulista. Entre os dançarinos, havia crianças, jovens e adultos.
O número foi apresentado duas vezes e manteve a avenida fechada por 20 minutos, das 10h30 às 10h50, no sentido Rua da Consolação, da Rua Bela Cintra até o início da Praça do Ciclista. O bloqueio foi combinado com a Companhia de Engenharia de Trânsito (CET) e não provocou congestionamentos.
“A ideia é levar um pouco do sapateado para popularizar nossa arte”, afirmou Christiane Matallo, convidada pelo movimento Playing For Change para fazer a apresentação em plena Paulista. “Eu uso carro mas também quero ocupar as ruas. Acho que pedestres e motoristas podem se entender numa boa, basta organização e boa vontade”, disse.
Três mil pessoas confirmaram presença em um evento criado no Facebook para ocupar a Paulista neste domingo, a partir das 10 horas. “Venham com suas cangas, cadeiras, patins, patinete, bicicleta, tênis, descalço, para pintar, desenhar, tomar sol, CURTIR!”, dizia o anúncio da página.
A adesão, no entanto, foi bem menor: reuniu cerca de 50 pessoas, além de dezenas de ciclistas que, na verdade, participavam da “super-pedalada” organizada para a Virada Sustentável. Prevista para acontecer, uma caminhada até o Parque Trianon acabou não saindo.
De paletó e gravata borboleta, o palhaço Fernando Carril distribuía balões, apertos de mão e piadas para as pessoas que passavam pela Paulista. Em sua bicicleta equipada com um guarda-sol e um pequeno armário, onde guarda livros de doação, ele também convidava os pedestres a lerem. "Eu acho que a Paulista também pode ser para o livro, para o circo e para mais pessoas", disse.
“O fechamento foi um ato simbólico. A adesão das pessoas acontece de forma orgânica”, afirmou o coordenador da Minha Sampa, Guilherme Coelho, um dos organizadores do evento. Segundo ele, a abertura da Paulista é uma demanda da sociedade civil e a ideia nasceu da população - e não da Prefeitura. “O Haddad já declarou que quer fazer disso uma política pública, mas ainda precisamos negociar com o Ministério Público”, disse.
Após o ato, membro das entidades que defendem a abertura da Paulista iniciaram uma consulta com comerciantes para saber qual impacto do bloqueio para carros sobre as vendas.
Embate. A Avenida Paulista foi bloqueada para teste pela última vez no domingo anterior, 23, para inauguração da ciclovia na Avenida Bernardino de Campos. Apesar de se posicionar a favor da abertura para pedestres e ciclistas, o prefeito Fernando Haddad (PT) encontra resistência do Ministério Público e de associação de moradores e comerciantes.
O argumento da Promotoria de Habitação e Urbanismo é que a Paulista só pode ser fechada três vezes por ano, segundo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a Prefeitura em 2007. Caso o termo não seja cumprido, a administração municipal deverá pagar multa de R$ 30 mil.
Como em 2015 já houve a Parada Gay, além dos dois testes da Prefeitura, o MPE afirma que a Paulista não poderia mais ser bloqueada, o que impossibilita, por exemplo, a corrida de São Silvestre e o show da Virada, ambos no dia 31 de dezembro.
A gestão Haddad, no entanto, considera que a abertura para pedestres e ciclistas aos domingos faz parte de uma política pública de ocupação do espaço, enquanto a Parada Gay, a São Silvestre e o show da Virada são considerados eventos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.