O movimento Volta Pinheiros desenvolveu um "perfume" feito a partir da água do Rio Pinheiros e o enviou a autoridades públicas de São Paulo. O objetivo é dar destaque para o que o grupo chama de "falta de transparência" na condução do projeto Novo Rio Pinheiros, iniciado no segundo semestre de 2019. O governo do Estado, no entanto, diz que as queixas são injustificadas e que o projeto está avançando conforme o previsto.
Impróprio para uso, o Eau de Pinherrô, nome dado ao produto, foi enviado como forma de protesto no último dia 13, terça-feira, para as sedes do governo do Estado, da Assembleia Legislativa, da Prefeitura, da Câmara Municipal, da Sabesp e da Empresa Metropolitana de Águas e Energia.
De acordo com o Volta Pinheiros, movimento criado em 2017, não existe uma plataforma digital clara para acompanhar as datas de entrega de cada fase do Novo Rio Pinheiros.
Para o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, a alegação de falta de transparência é infundada. "Desconheço um processo ou um projeto que tenha tanta transparência quanto esse do Rio Pinheiros. Nós criamos um site específico e desenvolvemos todo um sistema, que foi até premiado internacionalmente", explica. "A mesma informação que eu e o (governdor) João Doria (PSDB) temos é a que está no site", afirma Penido.
O secretário explica que as atualizações no sistema de monitoramento e no site Novo Rio Pinheiros são feitas por volta dos dias 16 e 17 de cada mês, e reforça que tudo é amplamente divulgado. Ao todo, segundo Penido, o projeto já fez 320 mil ligações de esgoto, 60% do previsto, e está encaminhado para se concretizar até o final de 2022.
"Apoiamos o projeto da Sabesp, não queremos discutir o método, como estão limpando o rio, mas a falta de transparência no decorrer do processo que não permite ao cidadão comum saber como está o andamento", diz o Volta Pinheiros.
Demanda de oxigênio
Uma das principais queixas relatadas pelo movimento Volta Pinheiros é e que o índice de DBO (Demanda Biológica de Oxigênio) está "escondido" e não é divulgado pelo governo estadual. "O nível atual de redução do DBO comprovaria que as águas do Rio Pinheiros passaram por alguma melhoria. Mesmo que pouca, já seria um avanço", diz o movimento.
Segundo Penido, esse índice sequer começou a ser medido. "Não estamos fazendo o acompanhamento de DBO porque ainda não é o momento", diz. Ele explica que, se o índice começasse a ser mensurado hoje, isso abriria brechas para distorções em períodos chuvosos e de seca, já que ainda há muita carga orgânica sendo lançada ao rio. A expectativa é que a aferição comece a ser feita na virada do ano, quando cerca de 420 mil ligações de esgoto (ou 80% do total) tiverem sido feitas.
Unidades recuperadoras
A instalação de cinco URQs (Unidades Recuperadoras da Qualidade das Águas) no rio é outra questão apontada pelo Volta Pinheiros. O movimento destaca que, embora previstas, elas ainda não estão em operação. "Entendemos a importância de revitalizar e habitar o entorno, mas, antes disso tudo, precisamos de água limpa", diz o grupo.
Segundo Penido, as cinco unidades recuperadoras já foram contratadas e têm licença de instalação. Além disso, as obras de duas delas, as unidades de Jaguaré e Cachoeira, já estão em execução. A previsão é que o início da operação das cinco URQs se dê entre maio e setembro de 2022.
"Foi um projeto pensado, de engenharia e de saneamento, olhando o rio buscando a causa, não a consequência", diz o secretário. "As pessoas só estão frequentando a ciclovia do Rio Pinheiros porque existe um trabalho sério." Ele reforça que mantém contato com associações como o SOS Mata Atlântica, para melhorar a execução do projeto e que uma reunião foi feita com o Volta Pinheiros, em 2020.
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