Guarujá quer controlar acesso a uma das suas praias mais bonitas; saiba qual

Estudo vai definir quantos visitantes podem ir à Prainha Branca sem que os impactos da lotação comprometam a conservação do refúgio natural

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Paraíso preservado do litoral paulista, a Prainha Branca, em Guarujá, na divisa com Bertioga, terá um projeto para evitar que a beleza do lugar seja ofuscada pela superlotação de turistas. Os pouco mais de mil metros de faixa de areia branquinha - que dão o nome à praia - já não comportam o intenso fluxo de banhistas, sobretudo na alta temporada, que se aproxima.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Guarujá, um estudo vai quantificar a frequência atual e definir quantas pessoas podem ir à prainha sem que os impactos da lotação comprometam a qualidade de vida da população local e a conservação do lugar, uma área de preservação permanente.

Prainha Branca é uma das mais isoladas do Guarujá Foto: Fernanda Luz/Estadão

O único acesso à praia e sua vila de pescadores é por uma trilha calçada para pedestres com 800 metros de extensão – ou pelo mar, com barcos leves. Segundo o secretário do Meio Ambiente, Ricardo de Sousa, embora seja um local com alto apelo turístico pela beleza cênica da praia de águas claras e pela paisagem exuberante, o ecossistema é frágil e está inserido em duas áreas de proteção ambiental – a APA Serra do Guararu e a APA Marinha do Litoral Centro.

Estudo feito entre 2019 e 2020 detectou que a Prainha já recebe alta pressão de visitantes na temporada, sobretudo pela presença de cerca de 30 campings no local, com capacidade para mais de mil barracas. “A ideia não é impedir o acesso à praia, apenas disciplinar seu uso para que as condições ambientais, hoje preservadas, sejam mantidas assim”, diz Sousa. A contagem deve começar em dezembro, assim que a instalação de uma guarita com catraca seja concluída.

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Prainha Branca é propícia para quem deseja contato mais próximo com a natureza Foto: Fernanda Luz/Estadão

O trabalho deve durar ao menos seis meses, avaliando a frequência na alta e na baixa temporada. “Há um movimento rotineiro, devido à presença da vila, com cerca de 400 moradores, e o comércio que, além dos campings, é composto por pousadas e restaurantes. Nosso foco é quantificar a população flutuante e a capacidade da ilha para o escoamento, por exemplo, dos resíduos sólidos deixados pelos visitantes”, afirma ele.

Em várias ocasiões, já foi observado que o número de banhistas extrapolou a capacidade do lugar. “Já tivemos problemas com pichações em ambiente natural, excesso de resíduos, montagem de barracas na faixa de areia, o que, além de não ser permitido, gera conflitos com os moradores locais. A praia é pública, patrimônio da população, por isso é um dever conservá-la. Mas ano a ano a procura cresce e precisamos cuidar para que esse bem natural não se deteriore”, prossegue o secretário.

O estudo será apresentado à Fundação Florestal, órgão da Secretaria de Meio Ambiente, Logística e Infraestrutura do Estado, gestora das unidades de conservação. A Prainha Branca e toda a Serra do Guararu, que fica na região do município conhecida como Rabo do Dragão devido à sua conformação territorial, são tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) pela relevância de seus atributos naturais.

Presidente da Associação dos Moradores da Prainha Branca, Claudenice de Almeida Flávio diz que os 400 moradores locais, muitos deles caiçaras como ela, dependem dos turistas, mas se preocupam com a superlotação. “A associação faz a coleta do lixo duas vezes por semana e fazemos a retirada por barcos. Na temporada, o volume dobra e coletamos três vezes por semana. De uns tempos para cá, está difícil manter tudo limpo, pois são só 1,3 mil metros de praia e fica tudo superlotado.”

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Controle de entrada é planejado, mas taxa para visitantes não está nos planos da prefeitura do Guarujá Foto: Fernanda Luz/Estadão

Segundo ela, o projeto-piloto para controle da entrada na praia foi aprovado pelo conselho gestor da APA. “A gente não vai barrar ninguém, vamos ver quantos entram e quantos saem, quanto tempo ficam para estudar a melhor forma de controle. Precisamos pensar no turista, mas também na população que vive aqui”, diz. Não há previsão de cobrança de taxa para frequentar a Prainha.

Fauna local tem caranguejos, tamanduás, macacos e esquilos

A Serra do Guararu, onde ficam a Prainha Branca e suas vizinhas, as praia Preta e do Camburi, é coberta pela Mata Atlântica, irrigada por rios e nascentes, e termina em uma orla com manguezais, onde vivem os guaiamuns, caranguejos azuis ameaçados de extinção. A fauna inclui esquilos, macacos-prego, tamanduás-mirins e pacas. O local é propício para contato próximo com a natureza, por isso atrai adeptos do ecoturismo.

A prainha é a última das 27 praias do Guarujá, no extremo norte do balneário, à margem do Canal de Bertioga. Por ser isolada, a infraestrutura é básica. É rara, por exemplo, a presença de guarda-vidas no local. No dia 17 de setembro, um turista de 18 anos, morador de Itaquaquecetuba, morreu afogado quando se banhava na Prainha Branca.

Ele tinha ido passar o domingo no local. Um surfista, que já havia salvo uma jovem na mesma área, chegou a colocar o rapaz sobre sua prancha, mas uma onda o derrubou. O rapaz, então, desapareceu, sendo resgatado já sem vida.

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Entorno da Prainha Branca tem Mata Atlântica e manguezais Foto: Fernanda Luz/Estadão

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Ao lado da comunidade tradicional, há loteamentos de alto padrão, como o Iporanga e o Sítio São Pedro. Criada por decreto municipal em 2012, a APA Serra do Guararu tem 25 km² e, além da Prainha Branca, abriga as comunidades tradicionais de Perequê e Sítio Cachoeira. O povoamento do local iniciou-se por volta de 1840, com algumas famílias vindas da Ilha Montão do Trigo, em São Sebastião. Hoje 108 famílias vivem no local.

No entorno da Prainha, existem sítios arqueológicos como as ruínas da Armação das Baleias, localizada à margem do canal, as ruínas da Ermida de Santo Antônio do Guaíbe e de uma antiga fortificação, a Fortaleza de São Luiz, rebatizada de São Felipe em 1904 pelo escritor Euclides da Cunha. A edificação, em ruínas, é de 1765. Os remanescentes da ermida e o forte também são tombados pelo Condephaat.

Quais são as outras praias com limite de acesso em SP?

Outras praias do litoral paulista também localizadas em unidades de conservação, que ocupam a maior parte da costa do Estado, já limitam o acesso de visitantes. A Praia de Itaguaré, reduto de surfistas, em Bertioga, recebe até 120 visitantes por dia. A Praia Brava de Boiçucanga, em São Sebastião, limita em 999 pessoas. Em Ilhabela, a Praia de Castelhanos pode receber 880 visitantes diários. Na Praia do Bonete, são 980.

O acesso ao Parque Estadual Ilha Anchieta e suas praias, em Ubatuba, tem limite diário de 1.020 turistas. O controle é feito no serviço de lanchas e escuna credenciados pela unidade de conservação, com cerca de 30 embarcações. Os turistas pagam R$ 19 para ingressar na ilha, além do preço do transporte, que não tem tabela fixa. Para algumas praias da ilha também há limite de pessoas. Na Praia do Sul, são 149 banhistas por dia. Na do Aquário Natural, 256. Em outras, como a Saco Grande e a Engenho, a monitoria é obrigatória e são grupos pequenos.

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Ainda em Ubatuba, a Praia da Fazenda, no Núcleo Picinguaba do Parque Estadual Serra do Mar, recebe até 1.500 pessoas ao dia. Na do Camburi, são só 75. O acesso às praias da Ilha das Couves, também em Ubatuba, é limitado a 531 pessoas por dia, divididas por horário, ou seja, são 177 a cada período de três horas, das 8 às 17 horas. São duas belas praias, a de Fora e a Praia Menor. O transporte é feito por barqueiros credenciados, com valor médio de R$ 80 por passageiro.

Para o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em Cananeia, litoral sul, onde os turistas podem se banhar nas praias do Pereirinha e dos Golfinhos, o limite é de mil pessoas por dia. Já o acesso às praias do Itacuruçá e do Marujá, também na ilha, é limitado a 100 pessoas cada. Para a Praia da Laje, 60. Não há cobrança de taxa, mas os barcos credenciados pela unidade de conservação cobram, em média, R$ 50 por pessoa para ida e volta.

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