Guarujá: ‘Tem denúncia de invasão a casas e PMs encapuzados’, relata ouvidor das polícias

Operação no litoral de São Paulo após morte de soldado deixou 14 mortos, segundo a ouvidoria. Governo fala em 16, mas nega excessos e diz apurar casos

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

O ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Cláudio Silva, afirma que tem recebido diversos tipos de denúncias de tortura por parte da população em relação à Operação Escudo que foi desencadeada no Guarujá, no litoral paulista, após o assassinato do soldado militar Patrick Bastos Reis, de 30 anos, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na quinta-feira passada, 27.

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A ação policial foi designada nos últimos dias para encontrar os suspeitos envolvidos no crime, assim como coibir o tráfico de drogas e o crime organizado na região, segundo a polícia. No entanto, moradores relatam terror nas comunidades afetadas.

“Tem denúncias de tortura e de pessoas adoecidas mentalmente. Tem denúncia de uma pessoa que estava com o filho de oito meses no colo e foi entregue para a mãe e essa pessoa foi morta. Tem denúncias de invasão a casas, de que policiais encapuzados e sem identificação invadem casas. Tem ainda denúncias de agressão contra crianças e adolescentes. Há denúncias de que só estão morrendo os moradores, e os criminosos já não estão mais lá. Tem relatos de que todas as pessoas que têm passagem criminal vão morrer”, disse Silva em entrevista nesta quarta-feira, 2, para a Rádio Eldorado.

“Abordagens violentas também foram mencionadas. Os relatos que estão chegando mostram que as pessoas estão aterrorizadas com as ações que estão ocorrendo nos últimos dias”, afirmou ele.

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Movimentação de policiais militares no distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá, litoral de São Paulo.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

De acordo com o ouvidor, se estão chegando denúncias, elas precisam ser apuradas. “Estão chegando denúncias com uma série de elementos que podem ajudar com a apuração decente e justa e que respeite o devido processo legal.”

No Estado de São Paulo, segundo o ouvidor, há 10.200 câmeras corporais. Se usadas, poderiam dar transparência para a apuração.

“É só fazer com que os 600 policiais que estão atuando na região do Guarujá usem essas câmeras em todas as operações. Nós não temos conhecimento que isso esteja acontecendo. Os boletins de ocorrência não estão registrando se os policiais estão ou não fazendo uso de câmeras. Isso também garantiria a proteção dos policiais na hora da apuração, além de dar clareza aos fatos ocorridos”, acrescenta Silva.

“Não estamos cravando que houve ilegalidade. Mas estamos apurando para verificar se a operação está atuando de acordo com a legalidade. Nosso objetivo é preservar a população e também os policiais. Afinal de contas, são trabalhadores da segurança pública.”

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Ainda conforme ele, a Ouvidoria avalia que o governador de São Paulo está descontextualizado com a situação. “Pedimos para o governador que ele ouça a comunidade e receba os familiares das vítimas para ouvir delas o que estão sentindo e o que vivenciaram nos últimos dias na região do Guarujá”, afirmou Silva.

“Nosso receio é que a situação perca o controle e suba a serra. E subindo a serra, a cidade de São Paulo pode ser afetada por essa tensão que vive a região litorânea”, ressalta o ouvidor.

Operação deixou 14 mortos, segundo a ouvidoria; governo fala agora em 16

De acordo com os números da ouvidoria foram registradas 14 mortes, além de outras duas pessoas que ficaram feridas. Nesta quarta-feira, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) divulgou que o número de mortos durante a Operação Escudo subiu para 16. São dois óbitos a mais do que os confirmados até a noite de terça-feira, segundo novo balanço divulgado pela SSP.

Na manhã de segunda-feira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que a ação havia deixado oito pessoas mortas ao longo do fim de semana. Até o fim daquele dia, eram dez mortos. Ele negou que tenha havido excessos e disse que a polícia atuou de modo “profissional”. Nos dias seguintes, mais mortes foram registradas.

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Conforme a SSP, em cinco dias de Operação Escudo, foram apreendidos quase 400 kg de drogas e 18 armas, entre pistolas e fuzis. Desde o início da operação, foram presos 58 suspeitos, segundo balanço oficial do governo do Estado. Na madrugada desta quarta-feira, em Santos, foi preso o último suspeito de envolvimento na morte do soldado Reis. Trata-se do irmão do homem apontado como o autor do disparo que matou o policial militar das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e que já tinha sido preso no domingo, 30.

O soldado Reis foi atingido na região do tórax, mas não resistiu aos ferimentos e morreu quando recebia atendimento na quinta-feira passada. No mesmo dia, o cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya foi baleado na mão esquerda. Ele foi internado e permaneceu em observação na sexta-feira passada.

Na terça-feira, outros dois policiais foram baleados por criminosos em Santos. Uma policial foi baleada pelas costas, no bairro Campo Grande, quando fazia patrulhamento.

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