'Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo' revive cenários esquecidos

Livro do arquiteto e professor da USP Renato Cymbalista percorre 143 pontos para contar a história controversa deles

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SÃO PAULO - Monumentos, edifícios e praças concentram parte dos 465 anos de história de São Paulo como cenários de acontecimentos que, muitas vezes, são esquecidos no cotidiano - de tragédias a projetos de resistência política. Explorar essas histórias é o que norteia o novo livro Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo.

Antiga sede da Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas (AACL), na Rua Roberto Simonsen, foi atingida por um incêndio em 2009 e, hoje, está ocupada por famílias sem-teto Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Não se trata de um típico guia turístico da cidade. Organizado pelo arquiteto e urbanista Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), o volume percorre 143 pontos da cidade e da região metropolitana da cidade para que o leitor conheça a história controversa deles, e não necessariamente apenas o que é monumental, antigo ou bonito.

"Partimos do que é tenso, disputado ou que foi invisibilizado", explica ele.

É o caso, por exemplo, do Pátio do Colégio, considerado o marco de fundação de São Paulo, que já teve fases de degradação e de reconstrução até tomar forma com o prédio atual, um museu que exalta a memória dos fundadores da cidade. Mas a cerca de 200 metros dali fica a antiga sede da Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas (AACL), concluída em 1909 para abrigar atividades da entidade de trabalhadores.

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A única favela da região central da cidade, na Rua Doutor Elias Chaves, surgiu dentro de um moinho da década de 1930. Até hoje o espaço é marcado por disputas Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Fechado na ditadura militar, o prédio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 1995, mas há dez anos um incêndio destruiu a estrutura e até hoje continua em ruínas.

Um curto-circuito provocou um incêndio no Edifício Joelma, na Avenida 9 de Julho, em 1974, matando 188 pessoas Foto: Nilton Fukuda/Estadão

A ficha inicial do projeto, usada como modelo entre os alunos, relembra os prédios das do Destacamento de Operações e Informações e do Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), instituições ligadas à repressão do Estado no período da ditadura militar. O conjunto de edifícios foi tombado em 2014 em São Paulo. 

Para o professor, a questão principal não é pensar que São Paulo apaga a sua memória, mas que deve haver um esforço maior em lembrar dessas passagens históricas.

"Isso nos ajuda a problematizar desafios que são permanentes na sociedade - gênero, raça, diversidade, ditadura e tortura. Como olhar para frente e não aumentar o que não queremos mais", afirma Cymbalista.

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A Estátua do Beijo Eterno, no Largo de São Francisco, em frente à Faculdade de Direito da USP, foi esculpida pelo sueco William Zadig, em homenagem ao poeta Olavo Bilac Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Além do conhecimento, há outras medidas para manter tais lembranças vivas. Uma possibilidade, para ele, é ocupar os espaços com usos que mobilizam a história, como a Casa do Povo, no Bom Retiro, que surgiu no período entre guerras mundiais para sediar oficinas artísticas e eventos culturais. É possível recuperar a memória também por meio de monumentos físicos como a praça 17 de Julho, nos arredores do aeroporto de Congonhas, em homenagem às vítimas do acidente de um avião da Tam em 2007, ou pela narrativa popular, como acontece com o edifício Joelma, no centro, que foi destruído após um incêndio.

Para ele, iniciativas como essas colaboram, sobretudo, para enriquecer a dinâmica urbana e o exercício da cidadania.

"O guia é um artefato que ajuda as pessoas a aprofundarem o seu olhar da cidade e não aceitarem os discursos que vêm prontos sobre os lugares por onde transitam", diz o professor.

O livro foi lançado neste sábado, 9, na Casa do Povo (Rua Três Rios, 252, Bom Retiro).

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Considerado o lugar de fundação de São Paulo, o Pátio do Colégio já caiu no esquecimento público e começou a ser reconstruído no começo do século 20 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo

Editora Annablume

Preço: R$ 60

Disponível no site www.annablume.com.br

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