Os presos do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Franco da Rocha, o antigo Manicômio Judiciário, se rebelaram nesta segunda-feira, 17, às 16h30, atearam fogo a cinco pavilhões e 55 deles fugiram usando a tática conhecida como “cavalo doido”, quando os presos transpõem em massa a porta do presídio. A maioria dos detentos rumou em direção à mata vizinha à unidade prisional – poucos escaparam em direção à cidade. Até as 23h30, 34 haviam sido recapturados.
Essa foi a maior rebelião e a maior fuga da história do manicômio, inaugurado em 1933. “Isso aconteceu depois que a direção descobriu um esquema de cinco presos que estavam extorquindo dinheiro da família dos outros detentos”, afirmou Lourival Gomes, secretário da Administração Penitenciária (SAP). De acordo com ele, a direção da unidade ia transferir os detentos, mas estes se adiantaram e mobilizaram os demais presos depois de uma discussão com o diretor Luiz Henrique Negrão. De acordo com Daniel Grandolfo, presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp), Negrão deixou o presídio após a discussão. Os presos aproveitaram sua ausência para iniciar a rebelião.
“Quando o diretor saiu, os presos ficaram agitados e se recusaram a voltar para a tranca (suas celas). E aí foi quando começou toda a rebelião”, afirmou Grandolfo. Os amotinados dominaram parte dos funcionários e se dirigiram à cerca em torno do hospital. Agentes do presídio chamaram a Polícia Militar e o Grupo de Intervenção Rápida (GIR), da secretaria. “O GIR dominou a rebelião com o apoio da PM”, afirmou o secretário Lourival.
A polícia enviou ainda a Franco da Rocha os homens do Comando de Operações Especiais (COE) e dois helicópteros para tentar localizar os fugitivos – o COE é especializado em operações na selva – O hospital de custódia é cercado pelo Parque Estadual do Juqueri. No começo, a PM chegou a trabalhar com a informação de que 250 a 300 presos haviam escapado.
De acordo com o presidente do sindicato, o perfil dos fugitivos é “complicadíssimo”. “Ali é casa de custódia, são muitos presos psicopatas, insanos. Outros presos vão fugir para se esconder, esse tipo de preso, não. Eles saem para barbarizar”, disse Grandolfo. O vigilante Geraldo de Souza, de 23 anos, que assistia à movimentação na frente da cadeia, também disse estar preocupado. “Moro há 15 anos aqui e sempre foi tranquilo, mas hoje à noite tem de ficar atento para evitar problemas.”
Com capacidade para abrigar 600 internos, o Hospital de Custódia e Tratamento mantinha 449 pacientes na tarde desta segunda. A maioria é de jovens com histórico de abuso de drogas acusados por roubos e homicídios. De acordo com o secretário, grande parte dos internos seria transferida para outras unidades prisionais da cidade em razão da destruição dos pavilhões que abrigam os presos. “Não tenho ainda o balanço dos danos causados pela rebelião. A engenharia ainda vai fazer essa análise”, afirmou. Equipes do Corpo de Bombeiros foram enviadas à unidade para apagar o incêndio e fazer o rescaldo.
A manutenção dos pacientes em Franco da Rocha ocorre porque a maioria deles precisa de medicação e acompanhamento médico, um tipo de serviço concentrado na cidade. Ainda de acordo com Lourival, uma sindicância será aberta pela Corregedoria da SAP, a fim de determinar as responsabilidades pelo motim. “Vamos investigar, ouvir os presos e funcionários.”
Rota. Anteriormente, o maior motim da história do manicômio havia acontecido em 1983, quando um grupo de internos – todos do pavilhão reservado a detentos que apresentavam problemas psiquiátricos apenas depois de presos – fez dois funcionários do lugar reféns. A PM foi chamada e homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) entraram no presídio. Seis internos e um funcionário morreram na invasão.
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