ENVIADA ESPECIAL A ILHABELA - Andar pela orla atrás de placas de “aluga-se”, peregrinar por imobiliárias ou pesquisar hotéis e pousadas na internet. Até poucos anos atrás, as opções para hospedagem no litoral paulista se dividiam entre residências, hotéis e campings. Mais popular em destinos internacionais, contudo, os hostels têm ganhado espaço especialmente nas praias ao norte, onde há ao menos 60 espaços do tipo.
O público que busca os hostels é, na grande maioria, jovem, mas não apenas aquele viajante de passaporte carimbado e pouco dinheiro no bolso. Hospedam-se também paulistas de classe média que permanecem no litoral por alguns dias. Entre eles, a escolha é centrada tanto na economia - há quem opte pelo quarto coletivo - quanto nas vivências que costumam oferecer pelo ambiente integrado, eventos e, em alguns casos, acomodações fora do usual.
O Hostel da Vila, de Ilhabela, chama a atenção nesse último quesito. Além dos quartos tradicionais, ele também oferece estadias privadas em barracas de “glamping” (termo que mistura “glamour” e “camping”), em casas na árvore e até dentro de uma kombi de inspiração hippie. Em janeiro, o espaço vai inaugurar um quarto dentro de um veleiro instalado no meio da Mata Atlântica, onde fica o espaço.
Felipe Gamba, de 33 anos, um dos sócios do Hostel da Vila, conta que a ideia dos quartos é proporcionar uma “experiência” ao viajante. “Há várias suítes em Ilhabela, mas quantas casas na árvore, em que você dorme olhando para a mata?”, diz.
Para ele, o conceito de hostel ultrapassou o de acomodação simples, com colchão barato e estrutura básica. Com exceção das casas na árvore, todos os demais lugares tem ar condicionado, até nas barracas. “Comecei aqui com a ideia de transformar este lugar no mais legal em que já estive”, conta ele, que abriu o espaço anos depois de uma viagem por 65 países. “E já é o lugar mais legal onde eu já fui”, garante.
Turismólogo de formação, Gamba relata que a maioria dos hóspedes é jovem, na casa dos 30 anos, e já se hospedou em hostels simples fora do País ou quando era mais novo. Hoje, esse público busca uma experiência semelhante, mas com maior conforto.
“Imagino que os hostels mais antigos (da região) tenham passado bastante dificuldade. O conceito desse tipo de hospedagem é muito bem entendido por estrangeiros, mas o brasileiro só passou a compreender mais recentemente.”
No local, uma diária na casa na árvore custa, por exemplo, cerca de R$ 290; já a da cabana fica em R$ 190 e a da kombi, R$ 120 - todas sem banheiro privativo. [---#{"DESTAQUE-ESTADAO-CONTEUDO-CITACAO":[{"TEXTO":"A gente chama de ‘flashpacker’, que é a pessoa que já foi ‘backpacker’, mas que agora tem outra condição: está um pouco mais velha e adoraria ficar em um hostel, mas não naquele sujão que ficava antes, que não atende mais o que ela quer","INFORMACAO-EXTRA":"Felipe Gamba, Sócio do Hostel da Vila"}]}#---]
A gente chama de ‘flashpacker’, que é a pessoa que já foi ‘backpacker’, mas que agora tem outra condição: está um pouco mais velha e adoraria ficar em um hostel, mas não naquele sujão que ficava antes, que não atende mais o que ela quer
Felipe Gamba, Sócio do Hostel da Vila
Hospedado por um dia, o corretor Denis Lopez, de 37 anos, nunca tinha ficado em um hostel até este verão. “Para mim, é tudo novo. A amiga de uma amiga indicou, e eu só soube que era um hostel quando fui fazer a reserva”, contou Lopez, enquanto tomava sol na piscina.
Variedade.
Também em Ilhabela, o Green Hostel é uma opção mais “raiz”, segundo define o proprietário Gabriel Moreira, de 32 anos. “Quando assumi aqui, em maio de 2015, tinha só mais três hostels em Ilhabela”, conta. Segundo ele, a demanda cresceu conforme aumentou o interesse de estrangeiros pelo litoral norte paulista, o que tem efeitos também no público local.
Por lá, é comum referências a uma publicação do jornal inglês The Guardian, que listou a Praia do Bonete como uma das dez melhores do País. “A demanda começa a aumentar conforme o turismo, a qualidade, o atrativo - ou o ‘hypeness’ -, está em uma ‘vibe’ em alta”, diz Moreira.
O empresário aponta que o aumento do número de hostels no litoral norte - concentrados especialmente em Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba - resultou em hospedagens variadas e que, por sua vez, também recebem um público diverso.
Em visita ao Brasil para passar o réveillon com uma amiga, a professora alemã Susanne Olschewski, de 40 anos, conta que costuma se hospedar em hostels ou fazer couchsurfing (modalidade de hospedagem em casas de nativos), que costuma escolher pela internet. “Gosto porque conheço outras pessoas, por causa da cozinha e também das ofertas de excursões”, conta Susanne, que na semana passada estava em Ilhabela.
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