O governo estadual elevou para 50 o número de turistas adicionais que podem ter acesso diariamente à Ilha das Couves, em Ubatuba, um dos destinos turísticos mais restritos do litoral norte de São Paulo. Em 2023, quando a cota extra foi criada, eram 40 vagas.
Uma portaria da Fundação Florestal, de outubro, estabelece que o acesso adicional é exclusivo para os turistas que vão almoçar no restaurante ‘As Pipocas’, o único estabelecimento comercial que opera na ilha.
Desde 2019, a ilha só pode receber 531 visitantes diários, divididos em três turnos de 177 turistas cada. Conforme a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), à qual a fundação é vinculada, o acesso adicional de 50 pessoas por dia não impacta o limite de suporte da ilha, pois se destina apenas ao restaurante. O transporte, entre as 12 e 15 horas, é feito por operadores da comunidade tradicional da Vila Picinguaba e pelas escunas do Centro e Itaguá.
A Ilha das Couves fica a 2,3 quilômetros da costa, no núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, uma das unidades de conservação sob gestão da Fundação Florestal. Já a sede do núcleo fica a cerca de 40 km do centro de Ubatuba.
A ilha está também na Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte e possui praias consideradas paradisíacas, como a Praia de Fora ou das Couves, com quase 200 metros de faixa de areia, e a pequena Praia da Terra, com 50 metros e águas cor de esmeralda.
Com sua natureza ainda selvagem, é um dos lugares mais procurados por visitantes focados no turismo ambiental. A ilha, com 58 hectares, ainda é um cenário natural intocado, sem grandes construções ou estrutura mais complexa de turismo. Até a abertura do restaurante ‘As Pipocas’, algumas famílias de caiçaras serviam pratos típicos locais para os turistas em estruturas simples.
Por ser área de preservação permanente, a exploração turística deve ser controlada de forma a garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado, segundo a legislação ambiental brasileira. Em dezembro de 2019, a Fundação Florestal publicou a primeira portaria para estabelecer um limite de visitantes conforme a capacidade da ilha. Na ocasião, ficou definido que seriam apenas 177 pessoas simultaneamente.
Em anos anteriores, ainda sem o controle, a ilha sofreu uma invasão de turistas. No Rèveillon de 2018, cerca de quatro mil visitantes tomaram conta das praias, deixando um rastro de resíduos e impactos, como a pichação de rochas costeiras. Houve intervenção do Ministério Público Federal (MPF) e foi realizado um estudo sobre a capacidade de suporte da Ilha das Couves.
Em 2020, as novas regras entraram em vigor, após discussões com prestadores de serviços, como barqueiros e operadores de turismo, e agentes públicos. O território da ilha foi dividido entre as comunidades tradicionais e operadores de embarcações, com a demarcação das áreas para embarque e desembarque, com a definição dos respectivos horários. De manhã, o transporte é operado em barcos pela comunidade de Picinguaba.
No horário de almoço, operam também as escunas do Centro e Itaguá e, à tarde, Picinguaba, Almada, Estaleiro e Ubatumirim. Os turnos podem ser desdobrados, sem alterar o limite de pessoas. Com a nova resolução, o número de turistas é mantido em 177 de manhã e à tarde, mas sobe para 227 no horário de almoço, totalizando de 581 visitantes no dia todo. As operadoras mantém uma tabela com os preços cobrados pelo transporte de barco, que variam conforme a distância e o tipo de embarcação.
Conforme a Semil, a cada ano a Fundação Florestal publica uma nova portaria normativa para a Ilha das Couves, com sua vigência no período da alta temporada. O texto é resultado da construção coletiva junto às comunidades de Picinguaba e operadores do turismo náutico do município, atendendo a demandas específicas por meio do conselho gestor da APA Marinha Litoral Norte.
Ainda segundo a pasta, o quantitativo de pessoas deve ser respeitado até que estudos de monitoramento de impactos da visitação pública demonstrem a possibilidade de aumento sustentável da capacidade de carga no local. Na atual portaria, além da mudança específica em relação ao restaurante, as alterações se dão em relação aos turnos para cada segmento.
A reportagem pediu informações à prefeitura de Ubatuba sobre a nova portaria para visitação à Ilha das Couves e aguarda retorno.
Outras praias do litoral paulista têm limite de visitantes
As unidades de conservação, como as da Serra do Mar, ocupam a maior parte da costa de São Paulo, por isso algumas praias que ficam no interior ou têm acesso pelas unidades já têm limite de visitantes. São elas:
- Praias da Ilha Anchieta, em Ubatuba, podem receber 1.020 visitantes por dia (o total é distribuído entre as praias, sendo 256 na Aquário Natural, 149 na Praia do Sul e os demais em outras praias menores, com monitoramento)
- A Praia do Bonete, em Ilhabela, não está inserida no Parque Estadual Ilhabela, mas o acesso por trilha é feito somente com o acompanhamento de monitores cadastrados na unidade de conservação.
- A Praia de Castelhanos, em Ilhabela, está fora do parque, nas o acesso pela estrada-parque é limitado a 42 veículos particulares, 65 veículos cadastrados e 60 motocicletas por dia.
- A Praia da Fazenda, no Núcleo Picinguaba, em Ubatuba, não tem limite de pessoas, mas o estacionamento comporta até 60 veículos.
- A Praia de Itacuruçá/Pereirinha, no Parque Estadual Ilha do Cardoso, em Cananéia, tem um limite de 1.000 visitantes ao longo do dia, durante o horário de visitação.
(Fonte: Semil)
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