Ilha de antiga prisão agora tem restaurante, hospedagem e trilha até o ‘Caribe brasileiro’

Relíquia histórica e natural de Ubatuba, local que já foi santuário indígena e presídio de segurança máxima foi entregue à permissão de uso da iniciativa privada há um ano

PUBLICIDADE

Foto do author João Ker
Atualização:

Parte valiosa da história do Brasil, o Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ubatuba, foi entregue no ano passado para uma permissionária que será a responsável pela administração, conservação e manutenção do local pela próxima década. Como parte do investimento feito pela Green Haven, o local que antes servia como santuário tupinambá e mais tarde funcionou como prisão de segurança máxima agora oferece hospedagens nos prédios originais dessa mesmo complexo carcerário, restaurante e lanchonete com comida de tradição caiçara, além de trilhas acessíveis que escondem paraísos naturais, como o “Caribe brasileiro”.

PUBLICIDADE

A apenas 500 metros da costa de Ubatuba, a travessia de barco até o Parque Estadual Ilha Anchieta dura cerca de 15 a 20 minutos e é feita principalmente a partir do Saco da Ribeira, enseada no sul da cidade onde fica a marina mais movimentada, mas também das Praias da Enseada, do Itaguá, do Lázaro e das Toninhas. Transformada em parque estadual e catalogada como uma Unidade de Conservação em 1977, o parque teve a pesca proibida às margens de todo o seu território no início da década seguinte e desde então tem tentado equilibrar a preservação ecológica com o interesse turístico.

Parte dos compromissos firmados para a entrega da permissão previa que a empresa contratasse a maior parte dos funcionários entre moradores de Ubatuba, construísse ao menos um albergue/hostel e incentivasse o ecoturismo no parque. Apesar da mudança na gestão, os ingressos cobrados continuam a preços módicos, a partir de R$ 19 a entrada inteira para brasileiros e residentes.

Porto de embarque e desembarque na Praia do Presídio e do Sapateiro, na porção sul da Ilha Anchieta Foto: Felipe Rau / Estadão

O Estadão desembarcou pelo porto das Praias Presídio e Sapateiro, por onde também desce a maior parte das lanchas e barcos privados que chegam até o local. Apesar de limpa, aquela faixa específica da ilha atrai menos banhistas, exatamente por ser o primeiro ponto de parada dos turistas, que costumam dar preferência às outras praias e trilhas do local.

Algumas dessas trilhas e praias, principalmente na parte norte da ilha, como a Praia do Leste e do Saco Grande, só podem ser acessadas com a contratação de um guia. Por sinal, os 8,6 quilômetros de área espalhados pelos outros mais de 17 quilômetros de faixa litorânea são divididos em zonas de maior ou menor permissão de acesso, com a maior parte desse total declarada como zonas de recuperação ou inatingível, onde só podem transitar funcionários do parque.

A entrada só é permitida oficialmente a partir das 9h, quando um monitor está disponível para apresentar as regras da ilha. Aos fins de semana, feriados e alta temporada, o melhor é chegar cedo para evitar filas e praias lotadas, uma vez que o parque é um dos destinos mais buscados pelos turistas da região.

Outra dica imprescindível é levar o combo de protetor solar e repelente, ou comprá-los na lojinha da recepção, onde são vendidos tubos de spray produzidos em Ilhabela, tanto com os produtos separados quanto em uma solução única.

Publicidade

Relíquias históricas

Ponto valioso para a história do Brasil desde que serviu como bloqueio estratégico para a colonização portuguesa, a Ilha Anchieta recebeu esse nome em homenagem ao padre de mesmo nome que catequizou os índios tupinambás que originalmente habitavam o local e consideravam aquela terra um santuário. Nos séculos seguintes, ela se tornou palco para prisões políticas, rebeliões e, hoje, de roteiros turísticos.

Ruínas de onde funcionava o Complexo Correcional da Ilha dos Porcos no século passado Foto: Felipe Rau / Estadão

Uma das paradas essenciais para quem visita o parque é o Complexo Correcional da Ilha dos Porcos, onde funcionava na década de 1950 uma prisão com oito pavilhões singulares e todo o aparato que dava apoio aos presos da época e ao funcionamento da prisão, como lavanderia, padaria, cozinha, refeitório e banheiros.

Nas paredes de algumas celas, tanto das solitárias quanto das isoladas, ainda é possível ler algumas mensagens de desespero e de esperança escritas há mais de um século pelos habitantes da ilha.

O Complexo também abriga o prédio que servia para a administração do presídio e onde hoje fica a área administrativa do parque. Ali próximo, Casa do Diretor do Presídio, um dos alvo atingidos pelos presos na rebelião de 20 de junho de 1952, também está sendo revitalizada para abrigar ainda este ano um restaurante cinco estrelas com chef renomado.

Do lado oposto, a Capela Bom Senhor Jesus da Ilha Anchieta, que está presente na ilha desde o século XIX, também recebe o olhar curioso dos turistas.

PUBLICIDADE

Hospedagens e restaurante

Parte do que antes ditou o estilo de vida dos moradores da Ilha Anchieta no século foi reestruturado e reformado pela Green Haven para servir a algum propósito turístico nos dias de hoje. O prédio onde funcionavam o hospital e o necrotério da ilha hoje abriga uma hospedagem de quartos equipados com camas de solteiro e de casal, vista para o mar e banheiro compartilhado.

Já a escola frequentada pelos filhos dos militares que trabalhavam no local foi reaberta em esquema de albergue/hostel, com camas de beliche, área comum e banheiro também compartilhado, com ares de vestiário colegial.

Uma terceira hospedagem foi erguida na ilha, a Casa de Vidro, a mais privativa de todas, com dormitórios para oito pessoas, banheiro privativo, cozinha totalmente equipada e vista para o mar.

Casa de Vidro, modalidade de hospedagem privativa no Parque Estadual da Ilha Anchieta  Foto: Felipe Rau / Estadão

O preço médio da diária para cada uma dessas modalidades fica em torno de R$ 300 por pessoa, a depender de quantas pessoas vão se hospedar e qual será a lotação atingida pelos hóspedes. Ainda nas últimas etapas de finalização, os três prédios já têm recebido grupos de turistas desde que foram abertos.

No meio do caminho entre os três prédios, já funciona também a lanchonete e restaurante Tapira, que serve café da manhã e almoço com cardápio assinado pela chef Jo Barreto e pratos de tradição caiçara feitos a partir de produtos locais. Os ingredientes vêm principalmente de pescadores ubatubenses e de pequenas fazendas de agricultura familiar.

Prato 'Caiçara', servido no Tapira: pescada cumbucu grelhada com molho de coco e camarões, purê de banana da terra, arroz branca e salada de folhas Foto: Felipe Rau / Estadão

Praia do Engenho e Aquário Natural

A primeira parada litorânea da reportagem foi no combo da Praia do Engenho e do aquário natural que fica na margem direita de quem olha para o mar. A trilha de acesso é autoguiada e, na metade dos 530 metros de extensão, passa pela entrada de um mirante com vista para boa parte da porção sul da ilha.

Na Praia do Engenho, o mar também é azul esverdeado (como todo o entorno do local) e a areia monazítica, com maior concentração de metais pesados e grãos escuros. Bem ao lado direito da chegada pela trilha, uma bica de água doce própria para banho serve como ponto de refresco, mas só isso - água dali não é própria para consumo humano.

Praia do Engenho vista entre as árvores no final da trilha de acesso Foto: Felipe Rau / Estadão

O Aquário Natural que fica entre uma formação circular de rochas é ponto de desova para vários cardumes da costa de Ubatuba, principalmente para o Sargentinho (ou Paulistinha, como é conhecida a espécie Abudefduf saxatilis). Amarelo com listras pretas, o peixe costuma medir de 3 a 5 centímetros e está presente em boa parte do litoral da cidade (como na Praia da Fortaleza), nadando aos montes e despreocupado entre os banhistas.

O controle ao aquário é restrito e só são permitidos oito visitantes simultâneos, que podem ficar apenas 15 minutos por vez naquela área. A depender da quantidade de turistas na data de visitação, o limite máximo de pessoas autorizadas é de 256 por dia. Ali também são proibidas boias, nadadeiras ou qualquer contato físico com os peixes.

Vista aérea do Aquário Natural, ao lado da Praia do Engenho Foto: Felipe Rau / Estadão

‘O Caribe brasileiro’

Ainda na parte da sul da ilha, a Praia das Palmas é conhecida como o Caribe brasileiro pelas areias brancas, a cor azul esverdeada das águas, que a depender da condição da maré se mantêm rasas por centenas de metros adentro do mar.

Publicidade

A trilha que dá acesso ao local também é autoguiada, com acessibilidade para pessoas com dificuldade de mobilidade em todo o trajeto e leva cerca de 10 a 15 minutos saindo da recepção. Ao final, chega-se à maior praia do parque, com aproximadamente 1 quilômetro de extensão.

Além de ser um dos pontos mais procurados tanto pelos turistas oficiais da ilha quanto pelos visitantes que chegam de lancha, a Praia das Palmas também costuma ter a presença cativa de cardumes, tartarugas, pinguins (em temporada migratória) e raias (!), principalmente nas extremidades laterais, próximo às pedras.

A dica para não pisar em uma raia despercebida e acabar ferido pelo ferrão é entrar no mar chutando a areia - se o céu estiver limpo, é possível também enxergar o fundo sem dificuldades.

Vista aérea da Praia das Palmas, conhecida como 'o Caribe brasileiro' pela areia branca, águas azul esverdeadas e profundidade rasa Foto: Felipe Rau / Estadão

No trecho inicial da Praia das Palmas, a Trilha da Restinga passa pela floresta de fundo e dá acesso à outra ponta da faixa de areia, apesar de ser possível chegar lá andando pela orla também. Quem escolher o trajeto de 1,4 quilômetro por dentro da Mata Atlântica tem a vantagem de encontrar ao longo do caminho espécies raras da flora nativa, como orquídeas, plantas medicinais e árvores centenárias.

Além disso tudo, a trilha também dá acesso ao Antigo Cemitério da Ilha dos Porcos, onde 151 imigrantes búlgaros e gagaúzos foram enterrados após morrerem intoxicados por mandioca na década de 1920. Anualmente, a Associação Cultural do Povo Búlgaro no Brasil realiza ali, próximo ao 18 de abril, data que marca o falecimento da primeira vítima, uma celebração que serve de homenagem aos antepassados e à cultura tradicional dos povos que habitaram a ilha há mais de um século.

Serviço:

  • Ingressos: a partir de R$ 9,50 (meia-entrada)

Compre aqui: https://greenhavenilhaanchieta.com.br/ingressos/

Publicidade

  • Hospedagens: a partir de R$ 219,570 (quarto compartilhado, por pessoa)

Reserve aqui: https://reservas.desbravador.com.br/hotel-app/green-haven

  • Como chegar: preços a combinar

Veja a lista de embarcações credenciadas aqui: https://greenhavenilhaanchieta.com.br/como-chegar/

  • Alimentação

Lanches e sanduíches a partir de R$ 35; salgados a partir de R$ 18

Confira o cardápio completo aqui: https://drive.google.com/file/d/1M7A4ErJ6kK8EJjIjHdINSHPUTj4YZIQk/view

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.