Instituto quer criar uma 'Chinatown paulistana' perto da 25 de Março

Ibrachina abriu processo para criar parque, museus e teatro, além de instalar luminárias, pórticos e até lixeiras com temática chinesa

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Foto do author Priscila Mengue

SÃO PAULO - O que Sidney, Nova York, Buenos Aires e Cuba têm em comum? Todas têm uma Chinatown. A ideia é discutida na cidade de São Paulo há pelo menos uma década, mas ganhou um projeto neste ano. A proposta tramita em ao menos quatro secretarias municipais e estava na pauta do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) desta segunda-feira, 2, mas não chegou a ser votada.

Instituto quer criar uma Chinatown na região da Avenida do Estado e da Rua da Cantareira, em São Paulo Foto: Reprodução/Requerimento DPH-Conpresp

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O projeto é do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), presidido pelo advogado Thomas Law. Ele abrange o quadrilátero formado pelas Avenidas Mercúrio e do Estado e as Ruas da Cantareira e São Caetano, nas imediações da Rua 25 de Março e do Mercado Municipal, na região central. Dentre as intervenções previstas, estão a instalação de postes, lixeiras, pórticos (de 9 metros de altura) e outros itens de mobiliário com temática chinesa, além da criação de uma passarela, um parque, um teatro e um museu, dentre outros.

Em documento apresentado à Prefeitura, o instituto justifica a escolha da localização por ser próxima da 25 de Março, em uma área de "subutilização dos imóvel em função da degradação e utilização indevida do espaço urbano". Além disso, diz que o projeto foi idealizado pela "população de origem chinesa que possui imóveis ou negócios na região da 25 de Março, zona cerealista e Luz."

Projeto prevê a criação de um parque sobre o Rio Tamanduateí Foto: Reprodução/Requerimento DPH-Conpresp

Dentre as intervenções propostas, estão a criação de um parque sobre o Rio Tamanduateí, com 650 metros de extensão e interligando a Rua São Caetano, a Feirinha da Madrugada e o Mercado Municipal. A proposta prevê, ainda, o aumento no número de vagas de estacionamento, tanto para carros e motos quanto para ônibus turísticos e caminhões, e a criação de um transporte circular no entorno.

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Todas as propostas têm temática chinesa, como os pórticos que trazem estátuas de shishis (leãos chineses). Em terrenos privados do quadrilátero, estão previstas a criação do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia e Empreendedorismo Chinês (CDTEC), do Teatro Milenar (com mil lugares, dentro de um novo shopping), do Museu de História Chinesa das Dinastias ao High Tech (Muhici) e de um terminal de vans e ônibus turístico.

O portal principal, por exemplo, seria criado junto à Avenida Mercúrio, com cobertura, esculturas e demais ornamentais, em direção a  um boulevard. O projeto inclui, ainda, um centro comercial na área hoje ocupada por edifícios da antiga companhia Light, cujo tombamento está em estudo na esfera municipal.

O Estado esteve em contato com o Ibrachina, que não se pronunciou sobre a proposta. Os objetivos apontados no projeto são: "construir monumentos que simbolizem o elo entre Brasil e China junto ao centro de comércio popular mais significativo do País", atrair mais turistas para a região, "proporcionar ao brasileiro comum a oportunidade de conhecer um pouco da história (dos que) adotaram o Brasil com(o) sua segunda casa" e "doar para a cidade de São Paulo espaços de lazer como forma de retribuição pelo acolhimento e oportunidades".

Chinatown paulistana teria dois pórticos com temática chinesa Foto: Reprodução/Requerimento DPH-Conpresp

Região é conhecida pela diversidade, ressalta pesquisador

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Ao buscar “Chinatown São Paulo” na internet, a maior parte dos resultados está relacionada ao bairro da Liberdade, cuja história perpassa a memória da população de origem africana e é também associada aos japoneses. O local abriga, contudo, também diversos restaurantes e instituições chinesas, até recebendo anualmente as festividades do Ano Novo Chinês. 

Em termos comerciais, contudo, a presença chinesa é mais forte no entorno das galerias da 25 de Março e do Brás, como pontua Carlos Freire da Silva, que estudou as dinâmicas entre migração e comércio entre São Paulo e China no pós-doutorado. “A Liberdade, de certa forma, se comunica em questão de moradia, tem uma série de restaurantes chineses para chineses." 

Ele pondera, contudo, que a região do projeto Chinatown reúne imigrantes de diversas origens, como sírios e libaneses, dentre outros. "Tem muitos problemas ter uma representação de um espaço a partir de um único grupo, os chineses estão lá (25 de Março e Brás) justamente pela diversidade.”

O pesquisador comenta que a Chinatowns de São Francisco e Nova York surgiram como uma forma de fortalecimento das comunidades de imigrantes diante de uma segregação. Essa origem se difere de grande parte das criadas nas décadas seguintes, que têm um viés mais comercial e turístico. “A forma de produzir determinado valor é uma coisa que é muito utilizada pelo mercado imobiliário.”

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No caso dos chineses, a relação com a região da 25 de Março e do Brás começou nos anos 70, principalmente com migrantes vindos de Taiwan. Esse perfil se transformou a partir de 1995, quando a região começou a concentrar as exportações chinesas, atraindo o público que costumava ir até Ciudad del Este, no Paraguai. “O governo chinês, com a abertura, manteve um vínculo forte com imigrantes no exterior.”

Durante a pesquisa, Silva identificou que a relação econômica com São Paulo ocorre especialmente com duas cidades chineses (Guangzhou e Yiwu), de onde as mercadorias são trazidas para a capital paulista por comerciantes de outras nacionalidades. 

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