Já foi a um templo budista? Visite um pedaço do Japão a cerca de 50 quilômetros de SP

Em Itapecerica da Serra, dois templos que valem a pena a visita e alguns cafés para alongar o estado de contemplação

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Foto do author Ana Lourenço

O Estado de São Paulo é conhecido por ter a maior colônia japonesa do mundo fora do Japão. Atualmente são cerca de 1 milhão de japoneses e descendentes que moram por aqui. E com eles também sua cultura, desde a culinária até a religião. A visita de templos budistas que trazem a vivência dessa cultura para perto, por exemplo, é um dos passeios muito procurados por aqueles que a apreciam.

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Em Itapecerica da Serra, a cerca de 50 quilômetros de distância da capital paulista, existem dois templos budistas que valem a pena a visita: o Kinkaku-Ji e o Enkoji.

A história deles começa nos anos 1970, quando surge o primeiro crematório do Brasil, na Vila Alpina, zona leste de São Paulo. Assim como os católicos, os budistas também aceitam a cremação e uma vez que a comunidade budista já era grande na época - algo que começou em 1908 com a imigração japonesa -, era preciso um templo que oferecesse um cinerário em complemento aos serviços de cremação que se iniciava em São Paulo, mas aos moldes de um cemitério japonês.

E então nasceu o Kinkaku-ji do Brasil, uma réplica do Templo Kinkaku-ji do Japão, que em 1994 foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco. Por aqui, ele foi idealizado pelo americano Alonzo Bain Shattuck e construído com participação de escultores japoneses: Noburo Norisada e Kanto Matsumoto. Apesar de não ser revestido em ouro, como a versão japonesa, teve pintura dourada e um entorno perfeito para proporcionar paz aos mortos e contemplação para os familiares que os visitassem.

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Vista do templo Kinkaku-Ji desde o templo Enkoji Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Situado dentro do Parque Turístico Nacional Vale dos Templos, o Kinkaku-ji se beneficia da Mata Atlântica, um lago repleto de carpas, gansos e patos, além de diversas cerejeiras que afloram entre os meses de julho e agosto. Já na parte interna, existem várias salas para realização de cerimônias fúnebres e diversos columbários (onde são inseridas as cinzas dos falecidos).

Por isso mesmo, o objetivo da visita é a meditação. Cada visitante paga uma taxa de R$ 5, pode visitar todo o entorno e até alimentar as carpas. Mas o espaço também está aberto para excursões e locação para diversas vivências, seja aulas de karatês ou até filmagens profissionais, como foi feito com o episódio Striking Vipers, da quinta temporada da série Black Mirror e o clipe Modo Turbo de Anitta, Luisa Sonza e Pablo Vittar.

Para o monge Marcos Lopes, Buda mora dentro de cada um e não nessa questão da aparência física Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Meditar e contemplar

Do outro lado da cerca, a menos de 60 metros de distância, fica o Templo Enkoji, que significa Templo do Círculo Luminoso. Fundado pelo Reverendo Tensho Ohata e inaugurado em 2001, ele tinha como objetivo definir o caráter ecumênico do Kinkaku-Ji do Brasil e acomodar melhor os membros da comunidade e os serviços religiosos a ela prestados no templo vizinho.

A ideia era criar uma sinergia entre as preces e atividades do budismo com o “cemitério” dos familiares. O antro dessa energia é simbolizado na sala chamada Ihaidô, onde ficam os ihais (tabuletas memoriais) e os butsudans (santuário). “Essa é a sala mais sagrada que temos aqui do templo. Enquanto no Kinkaku-Ji ficam as cinzas, aqui permanecem os Ihais e em alguns casos os butsudans”, explica o monge Marcos Lopes, que cuida do espaço há dez anos.

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Desde que virou presidente da Associação Cultural Kikaku-Ji do Brasil, em 2020, ele tenta revitalizar o templo tanto para as famílias quanto para as comunidades. “Todo segundo domingo do mês eu realizo uma cerimônia aos antepassados em japonês e português. Nos demais domingos, sempre às 11h, ofereço práticas de Zazen (meditações budistas). Além das Caminhadas Zen feitas do centro da cidade até o templo (percurso de 5km) no primeiro sábado de cada mês”, conta. No instagram da instituição, é possível acompanhar as práticas e atividades que são realizadas no espaço.

“Dialogamos com tudo e com todos, sempre ressaltando o budismo e o meio-ambiente. O propósito do budismo é acolher a todos”, resume Lopes. Para pessoas que quiserem fazer o retiro de um dia no local, com programação das 8h às 19h, é preciso investir um valor de R$ 250, sendo que pessoas em situação de vulnerabilidade pagam um valor simbólico de R$ 20. A próxima prática está marcada para o dia 13 de abril.

É importante dizer que, desde sua fundação, o Enkoji é uma instituição distinta e autônoma em relação ao Kinkaku-ji, tendo administração, horários e orientações de funcionamento próprios, voltado à orientação de ensinamentos, práticas e cerimônias budistas.

Monge Marcos Lopes oferece a cerimônia do chá que tem como base quatro virtudes: harmonia, tranquilidade, pureza e equilíbrio Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Contato com a natureza

Além das práticas no templo, a relação com a natureza é essencial para o relaxamento de quem visita o espaço. Muito mais do que se beneficiar do relaxamento que a natureza do entorno promove, o visitante percebe a preservação do lugar que tem uma horta sustentável e edifício com selo verde. Na horta, aliás, onde são colhidos os alimentos dos retiros e as ervas oferecidas na Cerimônia do Chá, são mais de 50 espécies de sementes entre mamão, mandioca, lavanda, jiló, banana, maracujá, abóbora, taioba, alface, além de plantações de shimeji.

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Uma das práticas que o monge gosta de apresentar para quem visita o espaço é o banho da floresta, que na verdade começa com uma caminhada zen. “Do templo até a Cachoeira do Índio são 900 metros. Então sempre levo as pessoas em silêncio e peço para que elas contem seus passos e observem o máximo possível pelo caminho”, detalha ele. “Essa prática meditativa é utilizada no Japão e ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade”, explica o monge.

O espaço é mais para contemplação do que para banho, no entanto, de acordo com Lopes, vale a pena ficar descalço para fazer a prática de aterramento nas terras e na água da cachoeira, e assim retirar o acúmulo elétrico do nosso corpo e entrar na vibração da natureza.

Cachoeira do índio proporciona banho de floresta Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Fora do templo

Antes de encerrar a viagem, pegar estrada e se estressar com o trânsito, sugiro que faça uma pausa em um café para levar a paz interior recuperada no templo para a casa. Um ótimo lugar para isso é o Amici, café recém-inaugurado na cidade, mas já famoso em Embu das Artes. O espaço foi criado por mulheres para que seja um momento de respiro na rotina agitada de quem por ali passa. Além de café coado e bolinho fresco, há opções para almoço e venda de vinhos.

Mas se quiser encerrar o dia com mais uma experiência, a melhor opção é no The Yellow Deli, um lugar que dá a sensação de entrar em outro universo. Logo ao abrir a porta, você sente um cheiro forte de ervas que traz um profundo relaxamento, algo que é complementado pela música que lembra algo irlandês, com toques de gaitas, flautas e banjo. Os espaços para sentar, todos feitos com madeiras reaproveitadas que formam uma espécie de ninho, são perfeitas para tomar um café sozinho e ler um bom livro ou ter privacidade em uma conversa a dois. Além da simpatia dos atendentes que parecem genuinamente felizes de terem você por ali.

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De acordo com os escritos na parede, a ideia surgiu em 1972, quando um grupo de pessoas abriu um lugar onde outras pudessem vir e não se sentirem apressadas para sair - algo, que convenhamos, é raro hoje em dia. Esse grupo de pessoas são religiosos da linha “As doze tribos”, que tem comunidades espalhadas pelo mundo com esse intuito e com a renda que vem do café, sempre chamado The Yellow Deli (seja em Itapecerica ou na outra filial no Tennessee).

O lema, de acordo com o garçom que nos serviu prontamente é: “Nossa história é muito mais do que um bom sanduíche, mas se for só isso que você está procurando, nós certamente temos um pra você. E se quiser conversar mais profundamente, nós também ficaremos felizes”.

Café The Yellow Deli tem ambiente aconchegante e comida deliciosa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Serviço

  • Kinkaku-Ji do Brasil

Endereço: Rua Camarão, 220 – Chácara das Palmeiras

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Horário de Funcionamento: de quarta-feira a domingo, das 09h às 16h

Telefone: (11) 4666-4895

  • Templo Enkoji

Endereço: Rua Izequias Hengles, s/n

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Horário de funcionamento: de segunda a sexta das 14h às 18h; sábados e domingos, das 9h às 17h

Mais informações: www.temploenkoji.org.br

  • Amici Empório Gourmet

Endereço: Av. Eduardo Roberto Daher, 153

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Horário de funcionamento: de quinta a domingo, das 09h às 18h

Mais informações: www.instagram.com/amici_gourmet

  • The Yellow Deli

Endereço: Rua Porto Alegre, 10

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Horário de funcionamento: de segunda a quinta, das 7h às 22h; sextas-feiras das 7h às 15h e domingo das 12h às 22h. Fechado aos sábados.

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