Atualizado às 20h18
SÃO PAULO - Um grupo de jovens foi neste domingo, 1.º, à Catedral da Sé, no centro, para limpar as pichações nas paredes da igreja. O local foi tomado por frases pró-aborto após protesto na sexta-feira, 30, contra o projeto de lei 5.069/2013, do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A proposta dificulta o acesso ao aborto legal a vítimas de estupro. Ao fim da missa desta manhã, D. Odilo Scherer condenou as pichações.
Pelo menos dez jovens, de diferentes paróquias, se mobilizaram pelas redes sociais. “Foi bem espontâneo (o movimento para ajudar na limpeza). Faço parte de um grupo de defesa à vida e, quando vi a Igreja depredada, em sinal claro de intolerância religiosa, decidi agir”, afirma Juliana Almeida, de 38 anos, do grupo Juventude pela vida.
Com dificuldades para remover completamente a tinta, que se infiltrou nas paredes, eles borraram as mensagens pichadas nas paredes. “Ao menos já conseguimos tirar palavras obscenas e de cunho ofensivo, contra o papa e contra os valores cristãos”, disse ela. Uma empresa especializada em restauro, de acordo com a Arquidiocese de São Paulo, deve ser contratada nesta terça-feira, 3.
A Igreja ainda informou que fotografias e vídeos, enviados pelas redes sociais, foram encaminhadas à Polícia, que investiga o caso. Um boletim de ocorrência foi registrado no 8.º Distrito Policial (Brás), mas ainda não há informações sobre a identidade dos responsáveis pelas pichações. A Arquidiocese também pretende acionar a Promotoria de Patrimônio, do Ministério Público Estadual.
Missa. D. Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo, lamentou as pichações na catedral depois da missa na manhã deste domingo. Segundo a Arquidiocese, ele disse que a Igreja Católica é contra tudo que agride a dignidade da mulher. Mas afirmou também que se deve lutar pela dignidade da vida não nascida.
Uma das organizadoras do protesto de sexta-feira, a produtora cultural Jaqueline Vasconcellos, disse ao Estado no sábado que a pichação não "representa o pensamento da manifestação" e que o grupo não é contra nenhuma religião. Ela afirmou, porém, entender e se solidarizar com as mulheres que se manifestaram contra a instituição. Acrescentou ainda que a Igreja Católica é um "instrumento do patriarcado".
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