SOROCABA - A lama preta que cobriu o Rio Tietê, em Salto, na última quinta-feira, causando a morte de 40 toneladas de peixes, começou a chegar nesta segunda-feira, 1º, de forma diluída, à represa de Barra Bonita, cem quilômetros rio abaixo.
Moradores do bairro Baguari, em Conchas, relataram a presença de peixes mortos no rio, na tarde de domingo, mas os espécimes já estavam em decomposição. Mais adiante, já em Anhembi, pescadores da Colônia Z-30 notaram mudança na coloração da água na tarde do mesmo dia. O rio está baixo na região por causa da estiagem. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que está acompanhando o deslocamento da mancha.
De acordo com a coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, os resíduos poluentes e o material orgânico decorrente da morte dos peixes vão se acumular na represa e favorecer a proliferação de algas, com queda na qualidade da água. Com o aumento na temperatura e as chuvas, pode ocorrer nova mortandade. A organização ambiental colheu amostras do rio após a mortandade e vai comparar com dados anteriores para avaliar o impacto da lama preta.
Nesta segunda-feira, o prefeito de Salto, Juvenil Cirelli (PT) e o secretário municipal de Meio Ambiente João De Conti Neto reuniram-se com representantes do Ministério Público Estadual para pedir a investigação do desastre ambiental. A prefeitura finaliza esta semana um relatório sobre a ocorrência que será encaminhado ao MP e a órgãos ambientais do Estado.
De acordo com o prefeito, a cidade turística trata 100% dos esgotos e é penalizada pela poluição carreada pelo rio. O município teve despesas na contratação de máquinas e caminhões para retirar as 40 toneladas de peixes mortos do Córrego do Ajudante, afluente do Tietê. Os peixes subiram o afluente para escapar da mancha negra que se formou no rio, mas acabaram morrendo por falta de oxigênio na água.
A Cetesb informou que está levantando dados sobre o episódio para avaliar os impactos causados. "A agência faz gestões junto aos demais órgãos para verificar o regime de operação adotado no sistema de barragem do rio." À primeira análise, segundo o órgão, a ocorrência da mancha escura se deve à elevação abrupta no nível de água do Tietê pelas chuvas e ao acúmulo de sedimentos ao longo da calha do rio em razão dos lançamentos de matéria orgânica na Região Metropolitana de São Paulo, ao longo da estiagem. "A conjugação desses dois fatores fez com que, nessa primeira situação de chuvas intensas, o material sedimentado fosse arrastado, dando origem à mancha escura", informa o órgão.
Com o deslocamento da mancha, foi criada uma situação adversa para os peixes no rio, que acabaram se movimentando para os afluentes em busca de refúgio. Quando as água baixaram, em um dos afluentes, o Córrego do Ajudante, as tubulações de emissários de esgotos funcionaram como uma barreira para o retorno dos peixes ao Tietê, ficando retidos na água rasa.
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