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Motos no alvo com Imigrantes e Bandeirantes de rotas de fuga: SP vê alta de latrocínios

Foram 92 vítimas de janeiro e junho deste ano no Estado, ante 80 do ano passado; Secretaria da Segurança diz que tem intensificado ações ostensivas e de inteligência

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

O sargento da Polícia Militar Paulo Adriano de Oliveira, de 49 anos, passava de moto pela Rodovia dos Imigrantes, na altura da Saúde, zona sul de São Paulo, quando foi repentinamente abordado por três bandidos. De folga, não teve tempo de sacar sua arma: foi brutalmente assassinado a tiros.

Os criminosos, que estavam divididos em duas motos, pegaram a pistola do PM e fugiram – na pressa, sequer levaram a motocicleta da vítima. O caso, ocorrido por volta das 22 horas do último dia 4, retrata uma dinâmica em alta este ano no Estado de São Paulo e, especialmente, na capital:

  • Os latrocínios, roubos seguidos de morte, subiram 15% no Estado no 1º semestre, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 25, pela Secretaria da Segurança Pública. Foram 92 vítimas no período, ante 80 de janeiro e junho do ano passado;
  • Na capital, a variação foi de 22,7%. Foram 27 vítimas contabilizadas nos seis primeiros meses, ante 22 de janeiro a junho do ano passado. Trata-se de aumento que vai na contramão da queda de crimes como roubos e furtos;
  • O Radar da Criminalidade, ferramenta desenvolvida pelo Estadão, permite ver quantas ocorrências de roubo, furto e latrocínio foram registradas nas ruas de São Paulo. Consulte o mapa interativo aqui.

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Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou, em nota, estar empenhada no combate à criminalidade em todo o Estado e diz desenvolver constantemente políticas públicas de enfrentamento aos crimes contra a vida e mortes violentas, como os latrocínios.

“As forças policiais intensificaram as ações ostensivas e de inteligência para dar uma resposta eficiente à população em relação a esses crimes”, diz a pasta. Mais de 100 mil suspeitos foram detidos de janeiro a junho, segundo balanço do órgão estadual.

No dia 14, um domingo, o adolescente Felipe Belarmino, de 17 anos, foi morto com um tiro na cabeça após ser assaltado por um motoqueiro no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Ele caminhava pela Rua Marmeleira da Índia quando foi abordado. O autor ainda não foi encontrado.

Apesar de os casos serem variados, autoridades apontam que, em geral, o latrocínio hoje é um crime mais comum em ocorrências de roubos de moto, em que bandidos costumam agir armados, embora haja também casos relacionados a roubo a pedestres e invasões de residências.

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  • Delegados ouvidos pelo Estadão dizem ainda que, entre os pontos de alerta, estão vias próximas ao início das rodovias Imigrantes e dos Bandeirantes.

Endereços nas zonas sul e oeste chamam atenção. “São regiões que acabam tendo maior número de motos de alta cilindrada, de valor maior, o que chama mais a atenção dos criminosos”, diz o delegado Flavio Lousano, titular da 2.ª Central Especializada de Repressão ao Crime Organizado (Cerco).

Empresário foi morto a tiros em tentativa de assalto na zona sul de São Paulo; moto da vítima sequer foi levada pelos criminosos Foto: Polícia Civil

No fim do mês passado, um empresário foi assassinado com um tiro no peito por assaltantes em tentativa de roubo de sua moto de luxo na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Campo Belo, zona sul. O crime ocorreu em pleno horário de pico, por volta das 19 horas.

Marcos César Peruchi, de 53 anos, foi acossado por quatro suspeitos, que estavam em duas motos. Os assaltantes fugiram sem levar a BMW da vítima, que quebrou ao colidir com um guarda-corpo da via. Ninguém foi preso até o momento. “Estamos fazendo diligências para tentar descobrir a autoria, mas ainda não houve elucidação”, diz Lousano.

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Na última semana, outro homem, desta vez de 35 anos, foi baleado em tentativa de assalto também na Berrini. Segundo informou a Secretaria de Segurança, a vítima foi socorrida e levada para o Hospital do Campo Limpo, onde permaneceu sob os cuidados médicos.

Polícia prende primeiro suspeito por latrocínio de policial

No caso citado no começo desta reportagem, a Polícia Civil prendeu na última terça-feira, 23, um dos suspeitos pelo latrocínio do sargento da PM. Trata-se de um homem de 31 anos, localizado em uma casa em Osasco. Segundo a corporação, ele já tem passagens pela prisão por roubo e furto.

“A gente já fez o interrogatório desse primeiro suspeito, e agora vamos analisar o material apreendido para tentar chegar aos outros autores”, afirma Lousano, que também encabeça as investigações desse caso. Apesar de a moto do sargento não ter sido levada, a Polícia Civil descarta a hipótese de execução.

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Segundo a investigações, as próprias características da ocorrência condizem com casos de roubo a moto, que eventualmente escalam para latrocínio. Em geral, são casos que envolvem dois ou três criminosos e que ocorrem, senão em rodovias, em vias próximas a elas, para facilitar as fugas.

Os bandidos, além disso, costumam agir em duas motos, sendo uma delas com pelo menos duas pessoas. “Depois que eles assaltam, o ‘garupa’ dirige a moto da vítima”, diz Lousano. “Pela análise na prática, do que a gente verifica, a maioria dos latrocínios ocorre mesmo em casos de (roubo de) moto.”

Na Vila Olímpia, zona sul paulistana, uma guarda-civil municipal de Praia Grande, na Baixada Santista, foi morta com um tiro na cabeça em assalto no dia 3 de março. A vítima, Valcleide Queiroz, de 56 anos, estava parada de motocicleta em um semáforo quando foi abordada por dois homens, também em uma moto.

Idoso morre amarrado pelos pés e mãos dentro de casa

Apesar de esse ser um perfil recorrente, os latrocínios não se restringem só a roubo a motos. No último dia 16, Carlos Alberto Felice foi encontrado morto dentro da casa onde morava, no Jardim Europa, área nobre da capital. O corpo do idoso, de 77 anos, foi encontrado na garagem com os braços e pernas amarrados e marcas de pancadas na cabeça.

A principal hipótese da Polícia Civil é de latrocínio, uma vez que a vítima teve a casa revirada e o carro levado pelos bandidos. Nesta semana, a polícia prendeu um primeiro suspeito, de 26 anos, pelo crime e localizou o veículo de Felice: o carro, um Hyundai, foi encontrado com as placas adulteradas na zona sul da capital. As investigações continuam para tentar localizar outros possíveis envolvidos.

“Os bairros mais nobres têm mais atenção dos roubadores de residência, porque vislumbram localizar objetos de valor, como joias, dentro dessas casas”, afirmou o delegado Rogério Barbosa Thomaz, titular da 1ª Delegacia Patrimônio (Investigações sobre Roubo e Latrocínio) do Deic.

Segundo ele, trata-se de uma modalidade que costuma contar com quadrilhas com integrantes mais jovens, o que faz que os casos escalem para latrocínios. “A gente percebe uma violência quando há participação de adolescente infrator ou até de jovens adultos”, afirma o delegado, responsável pela investigação do caso do Jardim Europa.

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Na madrugada de 14 de maio, um idoso de 88 anos foi morto em um assalto a residência, na região do Sacomã, na zona sul. João Masahiro Kanashiro estava em casa dormindo ao lado da mulher quando o imóvel foi invadido por cinco criminosos encapuzados. Eles amarraram o casal enquanto reuniam objetos de valor, como joias e celulares.

Segundo as investigações, o idoso foi espancado ao tentar gritar por socorro e não resistiu aos ferimentos. Posteriormente, ao menos dois suspeitos de participar do latrocínio foram presos: um homem de 26 anos e um adolescente, de 17, este último com passagem recente pela Fundação Casa também pelo crime de latrocínio, de acordo com a polícia.

Em março, um homem de 52 anos, não identificado, foi morto a tiros durante assalto a uma residência em Itanhaém, na Baixada Santista. Segundo a Secretaria da Segurança Pública informou na época, o crime foi cometido por dois suspeitos, que invadiram a casa onde a vítima estava com a mulher e um amigo. A dupla levou um celular antes de fugir.

Série de casos serve de alerta, diz coronel

Na avaliação de José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da Polícia Militar e especialista de segurança pública, a alta de latrocínios não necessariamente indica uma tendência, mas os padrões das ocorrências servem como alerta para repensar a atuação policial.

“É um tipo de crime em que há oscilações que fogem completamente da lógica”, afirma. “Muitas vezes, criminosos mais violentos acabam se excedendo e acontece isso sem que, no conjunto, possa estar refletindo em um incremento na criminalidade, em alta de crimes violentos (como roubos).”

Em outro caso de repercussão, um turista holandês de 58 anos morreu ao bater a cabeça em um assalto na região da Rua 25 de Março, no centro. O episódio ocorreu no dia 27 de janeiro. Hessel Hoeskra chegou a ficar 12 dias internado no Hospital 9 de Julho, também no centro, mas não resistiu aos ferimentos. O caso também foi registrado como latrocínio.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que analisa continuamente a variação dos crimes contra a vida, incluindo homicídios e latrocínios. “Esse monitoramento é feito por meio do SP Vida, que auxilia na criação de políticas públicas de enfrentamento. Como resultado, o território paulista como um todo e a Capital fecharam os últimos 12 meses (de julho de 2023 a junho de 2024) com as menores taxas de casos e vítimas de mortes intencionais”, diz.

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“No Estado, a quantidade de casos e vítimas de homicídios caíram 6,9% e 7,4%, respectivamente; enquanto a cidade de São Paulo reduziu esses indicadores em 10,1% e 12,8%. Se analisado os casos e vítimas de latrocínios, as duas regiões apresentaram reduções no mês de junho deste ano, em comparação com igual mês do ano anterior. O estado teve três boletins e vítimas a menos, enquanto a capital apresentou recuo de 1 registro para ambos os índices”, acrescenta a pasta.

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