Falhas elétricas na Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo afetaram a circulação de trens e provocaram transtornos para passageiros nesta quarta-feira, 15. A situação, que se iniciou pela manhã e perdurou até o início da noite, só foi normalizada por volta das 20h, segundo a concessionária que administra a via, a ViaQuatro.
Em nota, a empresa disse lamentar “os transtornos ocasionados por falha de alimentação elétrica na subestação Fradique Coutinho, na Linha 4- Amarela”, e que os passageiros foram “constantemente orientados por avisos sonoros emitidos nos trens e estações e pelos Agentes de Atendimento e Segurança (AAS) da concessionária”.
Funcionários da ViaQuatro que trabalham na Estação Paulista disseram à reportagem que a operação voltou a ocorrer nos dois sentidos em toda a linha pouco antes das 20h, mas com fluxo reduzido. Os ônibus do Plano de Apoio entre Empresas de transporte frente as Situações de Emergência (Paese), que foram disponibilizados para ajudar no transporte da população entre Butantã e Paulista, estavam sendo desmobilizados por conta da queda na demanda.
Falha começou pela manhã
A primeira falha teve início às 8h20 e foi normalizada oito minutos depois. A segunda começou por volta das 10 horas e ainda persiste no início da noite desta quarta-feira. “Técnicos atuam para restabelecer a circulação plena de trens na Linha 4-Amarela, que, às 10h13, apresentou falha elétrica”, informou a ViaQuatro durante o dia.
No caso da primeira falha, que durou entre 8h20 e 8h28, a circulação foi prejudicada neste período entre as estações Paulista e Pinheiros.
Ônibus do Plano de Apoio entre Empresas de transporte frente as Situações de Emergência (Paese) foram acionados para reforçar o transporte de passageiros entre Butantã e Paulista, de acordo com a concessionária. No entanto, os passageiros também reclamaram da superlotação dos veículos.
“Desci na Paulista e lá eles estavam encaminhando para a porta da estação, onde eles nos colocariam em um ônibus com sentido à Avenida Faria Lima, na região da Vila Olímpia. Mas estava um caos. Tudo muito desorganizado, com os ônibus lotados. Era impossível entrar. Eu decidi pedir um carro por aplicativo particular e gastei mais de uma hora para uma viagem que duraria 20 minutos”, disse a publicitária Bruna Oliveira, de 27 anos.
A psicóloga Rafaela de Souza, de 32 anos, é uma das centenas de pessoas que esperaram na fila dos ônibus do Paese para ir até a região da Paulista, na zona central. Ela chegou à Estação Pinheiros por volta de 13h. Uma hora depois, ainda não tinha conseguido embarcar em um ônibus gratuito.
“Espero conseguir chegar na região da Brigadeiro Luís Antônio para fazer os atendimentos seguintes”, disse. Após ver a situação na linha amarela, ela desmarcou a consulta de uma paciente agendada para as 14h20. “Eu nem almocei, espero que a situação se resolva logo.”
Após ir até a região do Berrini para um compromisso, o analista de segurança digital Felipe Silva, de 24 anos, esperava chegar em casa por volta de 15h. “Com essa situação toda, se chegar 17h já vai ser vantagem”, disse ele, que mora na região de Ermelino Matarazzo, na zona leste.
Além da demora, ele reclama da desorganização das filas para pegar os ônibus gratuitos. “Deixaram as pessoas que vão para a Luz e para a Vila Sônia na mesma fila, não explicam direito”, disse Felipe. “Ainda tem que torcer pra não chover.”
A espera para pegar os ônibus gratuitos era tanta que o analista financeiro Adailton Barros, de 26 anos, que trabalha com eventos, desistiu de ficar na fila. “Olha o tamanho, não tem como esperar tanto”, disse. Ele tinha uma reunião na região da Avenida Paulista. “Vou tentar pegar um ônibus pago, assim tento atrasar menos.”
Com a aproximação do horário de pico, a fila para os ônibus gratuitos se avolumou ainda mais. Há mais de horas na fila, alguns passageiros reclamaram com funcionários da ViaQuatro, que tentaram organizar a ida até os ônibus. “É uma falta de respeito isso tudo”, gritou uma mulher, que preferiu não se identificar.
Moradora da região do Grajaú, a estudante Maria Fernanda, de 18 anos, desistiu de ir até um curso às 14h30 na região da Sé por causa do caos que se instaurou na Estação Pinheiros. “Quando saí de casa para vir para cá não sabia que ia estar assim”, diz.
Ela afirma que não compensaria pegar dois ônibus pagos nem pedir carros por aplicativos de transporte – os valores estavam batendo os R$ 30. “Em compensação, se eu tentasse pegar o ônibus gratuito, só ia chegar no fim do curso pelo tamanho da fila.”
Além da demora, ele reclama da desorganização das filas para pegar os ônibus gratuitos. “Deixaram as pessoas que vão para a Luz e para a Vila Sônia na mesma fila, não explicam direito”, diz. “Ainda tem que torcer pra não chover.”
Após reclamação de passageiros, funcionários da ViaQuatro passaram a dividir as filas de acordo com o sentido dos ônibus (Luz ou Vila Sônia) por volta de 14h30. A quantidade de pessoas esperando, ainda assim, não apresentou melhora até o fim da tarde. Pelo contrário, se intensificou com o horário de pico.
Os ônibus do Paese estavam levando os passageiros apenas entre o trecho que vai do Butantã até a Paulista. Depois, eles ainda tinham de pegar o metrô caso tivessem que completar o trajeto até Luz ou Vila Sônia.
Na Estação Pinheiros, a linha começou a operar com viagens esporádicas até as estações Paulista (em via única) e Butantã (nas duas vias) por volta de 15h. O intervalo estimado entre as viagens era de 20 minutos, o que também superlotou as áreas de embarque.
A opção encontrada pela analista administrativa Vitória Neiva, de 27 anos, para chegar em casa após o trabalho foi pedir um carro por aplicativo de transporte. Assim como ela, dezenas de pessoas também esperaram veículos em uma rua próxima à saída da estação.
“Está dando R$ 16 a corrida, mas pelo menos volto tranquila para casa”, diz Vitória, que trabalha na região do Berrini e é moradora da Vila Madalena. Ela diz ter desistido de pegar ônibus ao ver o tamanho das filas. “Decidi pedir um carro rápido porque o preço também pode subir no fim da tarde.”
Redes sociais
Nas redes sociais, usuários relatam ainda que havia tumulto não somente nas plataformas, mas também no acesso de escadas rolantes das estações, entre elas a de Pinheiros e da Paulista. Eles também citam dificuldade no acesso das catracas.
Muitos reclamaram da falta de informação por parte da ViaQuatro, concessionária que administra a linha. Há queixas ainda de passageiros que ficaram presos dentro dos vagões, no momento em que o problema aconteceu. Eles relataram a falta de assistência e pessoas passando mal.
De acordo com a concessionária, os passageiros foram constantemente orientados por avisos sonoros emitidos nos trens e estações e também pelos Agentes de Atendimento e Segurança (AAS) da empresa.
Mais cedo, em razão da falha elétrica na Linha 4-Amarela, operada pela ViaQuatro, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) afirmou que a Linha 1-Azul, Linha 2-Verde e Linha 3-vermelha funcionavam com velocidade reduzida. Por volta das 13 horas, a situação nas três linhas administradas pelo Metrô já estava normalizada, segundo a companhia.
Volta para casa também enfrenta transtorno
A costureira Maria Isa Mendes, de 53 anos, decidiu não pegar o ônibus do Paese no sentido Luz para voltar para casa. “A fila está muito cheia e desorganizada, sem condições”, disse. “Vou ficar aqui flra esperando para ser o Metrô volta a funcionar.”
Moradora de Franco da Rocha, ela conta ter ido para a região de Pinheiros para trabalhar logo pela manhã. “Não estava como agora”, disse. O trajeto normalmente leva 1h30. “Na volta, costumo chegar em casa 18h30, hoje não tenho nem previsão.”
A situação piorou na Estação Pinheiros no fim da tarde, horário de pico. O portão que permitia a baldeação para a Linha 4-Amarela de quem estava dentro da estação foi fechado, e funcionários da ViaQuatro tentaram a todo momento redirecionar a multidão para os ônibus gratuitos. “Falam para ir pegar os ônibus Paese, mas a gente fica horas na fila. Não passa nenhum”, reclamou um homem, que preferiu não se identificar.
Morador de Vila Prudente, o analista de logística Leonardo Casarini, de 27 anos, foi um dos que optou por pedir carro de aplicativo assim que desembarcou de Osasco na estação. “Está dando R$ 90 reais, muito mais do que pago normalmente. Mas não tenho muito o que fazer”, diz.
À espera de carros de aplicativo, outras pessoas relataram à reportagem que as tarifas estão bem mais altas por conta da alta demanda no fim de tarde. Em alguns casos, o valor das corridas é mais do que o dobro do que seria pago normalmente. “E as corridas demoram mais que o normal ainda por cima. A cidade está um caos”, disse Leonardo.
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