Polêmicas, atrasos e rompimentos de contrato marcam a história da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo. Após quatro anos de paralisação, a construção da “linha das universidades” foi retomada em outubro de 2020, sob comando do grupo espanhol Acciona, que assumiu o lugar da Move São Paulo. Desde então, as obras estavam em plena expansão, com previsão de início das operações para 2025.
Um desmoronamento causado pelo rompimento de uma rede coletora de esgoto fez ceder parte das pistas da Marginal do Tietê nesta terça-feira, 1º. O acidente ocorreu em um canteiro de obras da Linha 6 na zona oeste da capital e não deixou vítimas. O governo disse que ainda será avaliado o impacto do caso nas estruturas da região e no futuro das obras.
A linha terá 15,3 km de extensão. Conectando Brasilândia, na zona norte, até a região da Liberdade, no centro, vai ligar 15 estações. A estimativa é de transportar 633 mil pessoas por dia.
A obra é fruto de uma parceria público-privada (PPP) do governo com a concessionária Linha Universidade, tendo sido anunciada como a primeira PPP de mobilidade urbana da América Latina.
Um ano após a retomada, a Acciona anunciava avanços significativos da obra. “Já estão abertas 19 frentes de trabalho e em agosto, ocorreu a descida da roda de corte da tuneladora - popularmente conhecida como tatuzão - que escavará o trajeto no sentido sul. Em seguida, também foi iniciada a montagem dos escudos - o que corresponde ao corpo (motor) dos equipamentos”, informou em comunicado.
A empresa destacou que o túnel de conexão do Pátio Morro Grande com a futura Estação Brasilândia já havia sido iniciado. Assim como a implantação do canteiro Higienópolis-Mackenzie - que vai fazer ligação com a Linha 4-Amarela. Tambéminformou que as escavações das estações Brasilândia, Itaberaba, Vila Cardoso e PUC-Cardoso de Almeida estavam sendo executadas.
Sucessivos atrasos
Em 2008, a prefeitura de São Paulo firmou o protocolo de intenções, transferindo R$75 milhões para o governo do Estado. Os recursos seriam usados para elaborar o projeto da Linha 6-Laranja do Metrô.
A expectativa era de que as obras começassem em 2010 e as primeiras estações fossem entregues já no fim de 2011, conforme informou comunicado da prefeitura. Na época, o plano era de que a linha tivesse 12 km de extensão, com 11 estações.
A expectativa do governo municipal estava relacionada à previsão do então governador do Estado José Serra (PSDB), que afirmou que as obras começariam em 2010. No entanto, os planos foram frustrados. No ano que as obras deveriam começar, houve o anúncio de que isso aconteceria em 2013.
O ano de 2010 também foi marcado por uma polêmica envolvendo moradores do bairro Higienópolis. Um grupo se mobilizou contra a construção de uma estação próximo a suas casas. Uma moradora chegou a dizer que o ponto atrairia “drogados, mendigos, uma gente diferenciada”.
O consórcio Move São Paulo venceu a licitação para construir e operar a linha e era formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC Engenharia e por um fundo de investimentos. O contrato foi assinado em 2013, mas as obras de escavação foram iniciadas apenas em abril de 2015 e paralisadas no ano seguinte.
Isso porque, conforme apurou o Estadão, em setembro de 2016, sem recursos em caixa e sem linhas de crédito após a Operação Lava Jato, as empresas desistiram da obra, que ficou parada. Desde então, a retomada das obras foi dificuldade para três gestões do governo estadual (Geraldo Alckmin, Márcio França e João Doria).
Durante todos esses anos, a obra teve vários anos de conclusão previstos: 2018, 2020, 2021 e, agora, 2025.
O contrato para a construção quase caducou. Mas, em agosto de 2019, o governo estadual publicou decreto que adiou até novembro o prazo para decretar caducidade. Na época, o Estadão informou que a gestão Doria conversava com três grupos para que assumissem o empreendimento.
Quando, em novembro de 2019, a empresa espanhola Acciona assumiu a obra e o governo de São Paulo estimou a retomada para “em breve”, a população que vive e trabalha no entorno do ramal viu o anúncio com cautela. Vizinhos dos canteiros de obras também relataram aumento da sensação de insegurança, por causa das áreas abandonadas.
“Fecharam lojas e desapropriaram casas. Depois abandonaram tudo. Será que vão retomar as obras mesmo?”, disse a aposentadangela Vasconcellos Siqueira, de 80 anos, que mora na Rua Cotoxó, na Pompeia, ao Estadão, em novembro de 2019.
Custo chega a R$ 15 bilhões
Em 2013, o custo anunciado das obras era de R$8,9 bilhões, a serem divididos entre Estado e concessionária. O governo teve custo extra de R$1,7 bilhão, principalmente para desapropriações - foram mais de 400 imóveis desapropriados.
O aporte financeiro para a obra cresceu desde então. Em agosto de 2021, quando Doria anunciou que o “tatuzão” começaria a perfurar o túnel, disse que o investimento era de R$ 15 bilhões.
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