Linha 6-Laranja do Metrô tem atraso de mil dias e poderá ter obras aceleradas; custo vai aumentar

Promessa da gestão Tarcísio de Freitas é entregar o ramal completo até 2027; concessionária já pediu adicional de R$ 230 milhões

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Com mais de mil dias de atraso em relação ao cronograma inicial, as obras da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo estão sendo aceleradas para entrega no prazo estipulado pelo governo. Com isso, o custo final vai aumentar. A promessa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é entregar a linha completa até outubro de 2027, mas problemas geológicos não previstos no projeto já causaram um atraso de 1.096 dias no cronograma, o que levaria a entrega da obra para 2028.

O governo negocia com a concessionária Linha Uni uma aceleração nos trabalhos para que o prazo seja cumprido. A concessionária já pediu um adicional de R$ 230 milhões pelos gastos não previstos no contrato. A Linha Uni, concessionária responsável pela obra, disse que o governo responderia sobre o assunto. A empresa detalhou que nove estações já tem escavações finalizadas.

Obras da estação PUC-Cardoso de Almeida, na zona oeste; custo final da Linha 6-Laranja vai aumentar. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O governo foi informado do atraso pela concessionária em um documento público emitido no final de março deste ano, ao qual a reportagem teve acesso. Segundo a empresa, problemas geotecnológicos não previstos inicialmente resultaram em um acréscimo de três anos e um dia, considerando o cronograma inicial, que previa a conclusão da Linha 6-Laranja em 2025. A Linha Uni assumiu as obras em 2020.

  • O novo ramal terá 15 estações e ligará a estação de Brasilândia, no extremo noroeste da capital, à estação São Joaquim, no centro, em percurso de 15,3 quilômetros.

Publicidade

PUBLICIDADE

Entre os motivos do atraso estariam rochas e condições de solo não abordadas pelos estudos de geologia realizados para lançar a licitação.

“A obra está sendo impactada em seu cronograma com os atrasos na construção de algumas estações, devido a problemas encontrados durante a sua construção que não foram previstos nos estudos de geologia durante os levantamentos prévios para a preparação do edital de licitação”, diz um trecho do documento.

O relatório acrescenta que as condições do solo durante os trabalhos na construção levaram a concessionária a buscar soluções de engenharia para avançar, causando atraso na previsão de entrega.

“O Poder Concedente (governo de SP) já possui conhecimento dos impactos no cronograma inicial para entrega da obra e por isso houve comunicação formal e reconhecimento pelo governo do Estado com o acréscimo de 1.096 dias”, informou.

Publicidade

Linha 6 deve transportar 633 mil passageiros por dia. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Ao Estadão, o secretário-executivo da Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), André Isper Rodrigues Barnabé, explicou que os 1.096 dias devem ser entendidos como um valor de referência para eventual penalização da concessionária por atraso no cronograma prevista no contrato.

“O risco geotecnológico que ocorreu nas obras da linha 6 implicaram, tecnicamente, em um justificado atraso de até 1.096 dias. Não quer dizer que nós, governo, não possamos negociar dentro dessa margem uma solução que reduza esse prazo para cumprir nosso acordo, que é inaugurar uma primeira perna até a estação Perdizes em outubro de 2026 e até São Joaquim, a obra completa, até outubro de 2027″, disse.

O gestor confirma que haverá um custo adicional para acelerar as obras, mas não será arcado só pelo poder público, já que o contrato prevê que os riscos sejam compartilhados. Ele disse que ainda não é possível estimar os valores.

“A obra acaba custando mais porque você tem de mobilizar mais pessoal, mas o contrato não é só obra. A concessionária só vai ter receita quando começar a operar. Se por um lado a obra vai custar mais caro, por outro, encurtando o prazo, a concessionária começa a ter receita antes. A alternativa de acelerar o cronograma é vantajoso para o Estado, a concessionária e o usuário”, disse.

Publicidade

Barnabé confirmou que a concessionária encaminhou ao governo um pedido de reequilíbrio econômico financeiro no valor aproximado de R$ 230 milhões por conta do risco geotecnológico que implica em mais tempo e mais investimento na obra.

“Grandes obras, sobretudo quando envolvem túneis, têm risco de encontrar problemas que não foram detectados na análise do solo e, nesses casos, os atrasos não podem ser imputados à concessionária. No contrato há um limite de valor que a concessionária assume se esses eventos geotecnológicos acontecerem durante a obra. No caso, estamos falando de R$ 85 milhões em valores atualizados. A partir desse valor, o risco passa a ser assumido pelo Estado”, disse.

Tanto o pedido de reequilíbrio quanto os custos decorrentes do cronograma acelerado estão sendo analisados pelo governo.

Reduzir o atraso

Em 2020, quando o então governador João Doria anunciou a retomada das obras da Linha 6, ele afirmou que o tempo de construção seria de cinco anos, com entrega da obra concluída em 2025. Na época, Doria disse que a equipe da Acciona havia estudado o projeto e não havia obstáculo de natureza jurídica, administrativa, institucional ou de falta de recursos para o cumprimento do prazo. É além desse prazo que se contariam os 1.096 dias a mais.

Publicidade

Já na atual gestão, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que parte da linha, entre Brasilândia e Perdizes, com oito paradas no caminho, entraria em operação em setembro de 2026 e o restante da obra, em 2027.

O relatório informou que a Acciona Construcción, responsável pelas obras, realiza estudos para reduzir o tempo de atraso, com mudanças no método de construção e ampliando os esforços e recursos aplicados.

O documento não especifica os locais onde ocorreram os problemas geológicos, mas especialistas apontam dificuldade para o trabalho do ‘Tatuzão’ – máquina que escava os túneis, também conhecida como tuneladora – em áreas com muitos prédios com fundações profundas, como no trecho sul da linha.

Há ainda áreas com grandes rochas de granito no subsolo e outras com solo poroso, sendo necessária a injeção de concreto na terra. Durante as obras, foram encontrados 12 sítios arqueológicos, alguns bem relevantes, com fragmentos de cerâmica, louças e vidros de mais de um século, o que acabou causando mais lentidão nos serviços.

Publicidade

Projeto

A Linha Laranja é apontada como o maior projeto de infraestrutura público-privada em desenvolvimento na América Latina. A linha vai atender algumas das principais universidades da capital e deve transportar 633 mil passageiros por dia.

São 15,3 km de túneis cortando regiões densamente habitadas. Para quem usa ônibus para o mesmo trajeto, o tempo de percurso com o metrô será reduzido de cerca de 90 minutos para 23 minutos, segundo a concessionária.

A Parceria Público-Privada da Linha 6-Laranja foi lançada pelo governo do Estado no início da década passada e o consórcio Move SP, único participante, foi declarado vencedor.

Várias desapropriações e algumas obras chegaram a ser feitas, mas o consórcio suspendeu as atividades em 2016. O grupo Acciona, conglomerado espanhol que lidera o consórcio Linha Uni, assumiu as obras em 2020.

Publicidade

  • O percurso abrange as estações Brasilândia, Vila Cardoso, Itaberaba-Hospital Vila Penteado, João Paulo I, Freguesia do Ó, Santa Marina, Água Branca, Sesc Pompéia, Perdizes, PUC-Cardoso de Almeida, Faap-Pacaembu, Higienópolis-Mackenzie, 14 Bis, Bela Vista e São Joaquim.
  • Três estações serão interligadas a outras linhas: Água Branca, com a Linha 7-Rubi e Linha 8-Diamante; Higienópolis-Mackenzie, com a Linha 4-Amarela, e São Joaquim, com a Linha 1-Azul.

Atraso

Das 15 estações, seis estão com mais de 50% das obras já realizadas, situação em que se encontra também o Pátio Morro Grande, junto à Estação Brasilândia. O pátio é a obra mais adiantada, com 63,42% dos serviços concluídos.

Entre as estações, a Santa Marina teve o maior avanço (62,13%) e a 14 Bis é a mais atrasada, com apenas 8,58% dos serviços feitos, segundo a concessionária. Na média, o avanço das obras nas estações é de 46% em relação ao total a ser feito.

O secretário-executivo da SPI afirmou que as obras na estação 14 Bis sofreram paralisações devido aos achados arqueológicos, que exigiram estudos especiais e um projeto de resgate que foi submetido ao Iphan. “O resgate está acontecendo e a gente entende que o atraso é mitigável e que a estação também ficará pronta conforme o cronograma”, disse.

Publicidade

Procurada pela reportagem para comentar o relatório e o pedido de reequilíbrio do contrato, a Linha Uni informou que essa demanda seria respondida pelo governo. Sobre o atraso nas obras, a concessionária disse que a Linha 6-Laranja do Metrô já conta com mais de 8,2 km de túneis construídos com as tuneladoras norte e sul.

Estão sendo realizadas atividades nas 15 estações, no Pátio Morro Grande e nos 18 poços de VSE (ventilação e saída de emergência). “Já são nove estações com as escavações finalizadas e 2,2 km de túneis em método convencional (NATM). A Estação Marina, por exemplo, já conta com 62,1% das obras concluídas e o Pátio Morro Grande, com 63,4″, informou em nota.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.