Centro de São Paulo: Luta para sair do vício: ‘Antes, tinha trabalho’

Desempregado, Vanílson Conceição vive em um quarto de pensão mantido pelo projeto Teto, Trampo e Tratamento

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Quando desembarcou em São Paulo após 30 horas em um ônibus clandestino vindo da Bahia, Vanílson Conceição perambulou pelas ruas do centro, conseguiu alguns bicos na construção civil, mas parou na Cracolândia. Naquele época, o endereço era a Estação Julio Prestes e permaneceu assim por quase três décadas. Para ele, o centro é um lugar de conflito e sobrevivência. “Antes, tinha mais trabalho. Dava para fazer uns bicos. Os lugares com empregos ficam com medo e começam a fechar, com medo de serem depenados. Fica difícil”, diz o homem de 36 anos.

Vanílson Santos Conceição mora em um quarto de pensão no centro. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Vanílson diz fumar maconha e beber cachaça. Bebia – ele sorri ao dizer que faz um ano que não vira o copo. Jura que nunca usou crack e não tem passagens pela polícia. “Eu bebia 24 horas.” O centro deixa marcas, diz Vanílson. Ele conta que os guardas mais antigos sempre o param, mesmo que não tenha feito nada.

“O centro está bagunçado. Hoje, só tem operação policial. Só porrada. A polícia ataca e os usuários falam algumas besteiras para tentar se proteger e aí começa o quebra-quebra”, afirma Vanilson. “Os governantes não sabem administrar o local onde tem usuários.”

Jamaica (esse é seu apelido) está desempregado e vive em um quarto de pensão mantido pelo Teto, Trampo e Tratamento, projeto de redução de danos com usuários de drogas idealizado pelo médico psiquiatra Flávio Falcone.

Para o profissional de saúde mental que atua na região há mais de uma década, o centro é um território em disputa. “Não adianta internação, se a pessoa não tem para onde ir na saída. Ela volta a morar na rua e a usar a cachaça, o crack. A rua é uma selva.”

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