Reportagem EspecialLitoral verticalizadoEspigões com estrutura de lazer comparável à de um clube estão mudando a orla da Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Os prédios chamam a atenção pelo tamanho - um deles tem 35 andares. Mais de perto, surpreendem pelo que oferecem, algo incomum na região: piscina de fundo infinito, parecida com a dos resorts, parques aquáticos de 700 metros quadrados e até quadra de squash. As construções na Praia Grande, aliás, seguem a todo vapor. Entre 2009 e 2010, a prefeitura do município aprovou mais de 750 mil metros quadrados de construções, totalizando 6.625 edificações - entre casas e prédios. "E a grande tendência é o condomínio-clube", diz Domingos Nini de Oliveira, diretor do sindicato da construção (Secovi) da Baixada Santista. "Os construtores achavam que as pessoas não investiam na Praia Grande porque não havia um produto diferenciado. Agora tem. E isso está mudando a imagem da cidade."Casado há 12 anos, o advogado Luiz Carlos Maciel, de 42 anos, e a mulher, Michele, de 36, estavam cansados do trânsito de São Paulo. O casal morava nos Jardins, a três quarteirões da Avenida Paulista. Há oito meses, mudaram-se para o 24.º andar de um condomínio-clube na orla da Praia Grande. "Nunca imaginei que tivesse um prédio assim nessa região. Quando comecei a procurar imóvel no litoral sul, achei que só encontraria em Santos. Talvez fosse até um pouco de preconceito da minha parte."Maciel comprou uma das 280 unidades do Condomínio A Ilha, formado por duas torres, quadra poliesportiva, academia de ginástica e duas piscinas, uma de fundo infinito e outra interna aquecida. O prédio fica na Vila Guilhermina, bairro conhecido por ter a melhor rede de serviços da cidade. O edifício ainda fica entre dois hipermercados. "Nunca imaginei que moraria de frente para a praia", diz ele, sentado em sua varanda gourmet de 14 metros quadrados. Michele deixou o emprego em um banco nas proximidades do bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, e está tentando a carreira de advogada autônoma. Maciel dá aulas na Fundação Getúlio Vargas e, por isso, costuma viajar País afora para dar palestras. "Quando sentimos falta das grande livrarias e dos restaurantes mais sofisticados, subimos para São Paulo", conta Michele. Entre os caiçaras, o edifício ganhou o apelido de Torres Gêmeas. "As pessoas que moram ali não precisam nem ir à praia", diz a professora paulistana Regina Célia de Oliveira, de 52 anos, que se mudou para um prédio na região em 2007. "Até as babás que passeiam com os bebês no sol ficam lá dentro. Nenhuma sai para o calçadão." Trata-se de uma rotina adotada em muitos condomínios de São Paulo, que temem pelas segurança das crianças. "Na Praia Grande tem assaltos", diz Regina. "Turista que chega de corrente de ouro e câmera fotográfica vira alvo de ladrão."Na mesma avenida, a 3 km de distância, na Vila Mirim, em 2008, a paulistana Eztec arrematou um terreno de 42 mil metros quadrados, o equivalente a cinco campos de futebol, onde inicialmente pretendia levantar 28 torres em 10 anos. Até agora, levantou somente o Costa do Sol, que está em fase de acabamento em parceria com a santista Phoenix e a Tecnisa e Stuhlberger. É o maior empreendimento da região, com 35 andares, 700 vagas de garagem, 490 apartamentos e um parque aquático de 700 metros quadrados que tem até piscina de biribol. Ao lado, a Rossi montou um estande para anunciar outro empreendimento com a Abyara Brokers. Uma maquete exibe um edifício-garagem de quatro andares, igual à de prédios comerciais modernos, que será construído ao lado das torres de apartamentos residenciais. Valorização. Os apartamentos são menores que os da Costa do Sol. O maior deles tem 75 metros quadrados. No 12.º andar, de frente para a praia, custa hoje na planta R$ 416 mil. Isso significa que o metro quadrado sai por R$ 5.546,66, 84,8% a mais que a média de preço dos empreendimentos da Praia Grande, de acordo com o Secovi. A valorização no centro da Praia Grande ainda levou muitos construtores a procurar bairros menos desenvolvidos e habitados na cidade, caso da Vila Caiçara, onde o metro quadrado continua na média do mercado. E é ali que a está em construção o prédio mais luxuoso do pedaço. Enquanto isso, a JM Incorporadora e Empreendimentos Imobiliários levantou um prédio com 21 andares, preenchidos com 90 apartamentos - seis deles tríplex. A maior unidade do Fontana di Trevi tem 750 metros quadrados e custa R$ 2,2 milhões."Estamos trabalhando com o mesmo conceito de construção de alto padrão de São Paulo", diz Luciano Seco, de 25 anos, um dos diretores e filho de José Antônio do Carmo Seco, dono da JM, construtora familiar da Praia Grande. Sob medida. "Fazemos todo tipo de alteração na planta que o comprador quiser", diz o engenheiro Daniel Lovisi, de 27 anos, irmão de Luciano, responsável pela obra. Os banheiros e lavabos têm acabamento de mármore travertino. Como uma das empresas da família é uma importadora de materiais de construção, o comprador ainda pode escolher entre 30 tipos de pastilhas. Na área comum, as unidades ainda têm depósitos e armários numerados de praia para guarda-sol e cadeiras. Ao lado deles, há um chuveirão, interligado com a sauna seca e úmida, além de uma ducha escocesa. "É o primeiro apartamento desse tipo na região", diz a paulistana Rosana Ribeiro, que se mudou para o litoral há 15 anos e acaba de adquirir uma unidade. "Fora da temporada, o bairro fica vazio. Por motivo de segurança, sempre morei em apartamento na praia, mas tenho medo de deixar meu filho por aí, na rua."1985 Rede de esgoto sem tratamento desembocava ao ar livre em vários pontos da praia, contaminando a areia e o mar da região.1993Com 22,5 quilômetros, a orla ganhou 20 mil palmeiras, instalação de câmeras de segurança, equipamentos de lazer, praças e iluminação.2010Foi o ano de conclusão do emissário submarino, com 4 quilômetros de extensão; mais 740 metros de ramificações e uma estação elevatória.Crescimento90% foi o porcentual do aumento das construções na última década na Praia Grande.34% foi o aumento da população, que deve chegar a meio milhão em 2018.
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