Mãe faz ‘gambiarra’ e puxa energia do carro e de vizinho para manter filha viva: ‘Fiz de tudo’

Filha tem doença rara e precisa de respirador e outros aparelhos indispensáveis; Enel afirma que reforçou as equipes para reparar a rede elétrica

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Foto do author Isabela Moya
Atualização:

Luciana Nietto precisou conectar o aparelho respirador da filha no acendedor de cigarro do carro, por meio de três extensões, para garantir que Heloísa, de 18 anos, continuasse respirando. A jovem de 18 anos, que tem uma doença rara - Atrofia Muscular Espinhal (AME) - não pode ficar dez segundos longe do aparelho. Depois, precisou fazer um “gato” na casa do vizinho, que em solidariedade à situação da família, emprestou sua energia elétrica para a família.

As “gambiarras” foram necessárias porque a casa onde moram mãe e filha ficou cerca de 60 horas sem o serviço de energia elétrica, desde antes das 20 horas de sexta-feira, 11, após a tempestade que gerou um apagão na Grande São Paulo.

  • A Enel só foi religar a energia na residência da família, em São Bernardo do Campo, no final da manhã desta segunda-feira, 14, mesmo o imóvel tendo Cadastro de Cliente Sobrevida (Vital), onde há prioridade no atendimento de solicitações de emergência e no atendimento da religação.

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Em nota, a Enel diz que tem “trabalhado incessantemente” para reparar a rede elétrica. “A companhia reforçou as equipes próprias em campo, recebeu apoio de técnicos de outras distribuidoras e deslocou profissionais de outros Estados”, disse a companhia.

Luciana conta que passou noites em claro pela preocupação de que algum dos aparelhos parasse de funcionar devido à falta de energia. Entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, o respirador de Heloisa ficou ligado graças aos dois nobreaks (aparelho com bateria interna e evita desligamento repentino) que Luciana mantém em casa. Como ele aguenta apenas algumas horas fora da tomada, a mãe precisou ficar se deslocando com o equipamento de 50 quilos para casa de vizinhos que tinham energia para poder carregá-los, e precisou até mesmo emprestar um nobreak de outra pessoa.

Nesse meio tempo, ligava o respirador no carro como alternativa. Para isso, precisava deixar o veículo ligado e conectar três extensões, uma seguida da outra, da garagem da casa até o quarto da filha, onde mantém uma “mini UTI”, com diversos aparelhos que precisam de energia elétrica para funcionar.

“Como eu tenho um inversor, que conecta no acendedor do carro e vira uma tomada 110V, conectei e levei até o quarto da Helô. Primeiro eu testei no celular, vi que carregou, não explodiu nem nada, e aí pus no respirador”, conta a mãe.

Como o sinal de telefonia também estava instável após a tempestade, Luciana ficou com receio de ter alguma intercorrência e não conseguir chamar uma ambulância ou pedir ajuda.

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Entre várias ligações para a Enel - muitas das quais não foram atendidas, mesmo quase uma hora esperando - a mãe recebeu da empresa a sugestão de levar a filha para o hospital, mas Luciana evitou ao máximo essa opção. “Eu fiz de tudo para ela não ir para o hospital, porque a última internação dela foi um show de horror. O plano de saúde tirou o home care dela. E o que eram três dias de internação para extração de um dente, viraram 45 dias. Só consegui tirar ela de lá por causa de ação judicial”, relata.

Mesmo com as soluções improvisadas, alternando entre o fornecimento de energia dos nobreaks e do carro, a mãe percebeu que a saúde da filha estava prejudicada, porque não conseguia utilizar os demais aparelhos. Com isso, no domingo, ainda sem previsão de retorno do serviço, a família contou com a solidariedade de um vizinho, que permitiu que Luciana chamasse um eletricista para ligar sua caixa de energia à casa dele.

“Depois disso, a Enel mandou um caminhão com gerador, mas eu falei que não precisava, já estava conectada no meu vizinho. Eu fiquei com a energia dele cerca de 24 horas”, conta.

Luciana relata preocupação após ficar cerca de 60 horas sem energia elétrica em casa para abastecer respirador e aparelhos de saúde da filha. Foto: Arquivo Pessoal

Agora, mesmo com a energia elétrica restabelecida em sua casa, Luciana relata prejuízo devido à perda da medicação que Heloísa toma. “A medicação para tratamento da AME é de alto custo, R$ 164 mil por mês. É um remédio de refrigeração. Perdemos a medicação. Não sei quando a operadora vai enviar outro. O tratamento para a AME está interrompido”, diz.

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“É uma situação complicada porque eles sabem que é alta complexidade, tem o cadastro vital e não priorizaram. A gente cobrava eles, mas teve uma demora enorme. Graças a Deus não acabou o oxigênio, senão não teria um final feliz”, relata a mãe.

Ela afirma que a Enel só religou sua energia após publicar o vídeo contando a situação nas redes sociais. “Em questão de meia hora, quatro pessoas diferentes da Enel entraram em contato comigo e duas citaram a repercussão do vídeo. O motorista da Enel que veio restabelecer a energia elétrica do vizinho ontem à noite, falou também que se não fosse a repercussão, meus vizinhos ainda estariam sem energia elétrica provavelmente até quarta-feira”, diz.

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