Com 200 mil habitantes e 50 anos recém-completados, a maior favela de São Paulo, Heliópolis, enfim terá um parque. Projetado em um terreno linear na divisa com São Caetano do Sul, o equipamento já em construção pelo governo João Doria (PSDB) terá quadras, pista de skate, academia aberta e prédios destinados à cultura e qualificação profissional, como auditório, escola de circo e cinema ao ar livre. A previsão é abrir o espaço à comunidade ainda neste semestre, mesmo que incompleto.
Sonhado pelos moradores há mais de 20 anos, o Parque da Cidadania Heliópolis será tirado do papel de forma patrocinada. O desenho tem assinatura do arquiteto Roberto Loeb, um dos mais renomados do País, que doou o projeto e adaptou as demandas locais ao idealizar prédios específicos para cada atividade, como o centro comunitário. Com forma de um retângulo – tem 1,1 km de comprimento por 50 m a 70 m de largura –, o terreno trará 78 mil m² de lazer. Isso equivale a três áreas do Parque Augusta, no centro.
Com a janela virada para o local, a dona de casa Evanice Martins, de 48 anos, comemora a nova vista. “Por enquanto, ainda está bem cru, mas o projeto é muito bonito.” Segundo conta, o espaço já era usado pelos moradores como uma área para soltar pipa, por exemplo, mas sem a organização e a limpeza de um parque.
O terreno foi doado pela Sabesp e os serviços de terraplanagem e contenção são executados gratuitamente pela CCR a partir de negociação que envolveu o Fundo Social de São Paulo, entidades que atuam na região e a Prefeitura da capital. O investimento total chega a R$ 40 milhões.
Após a inauguração inicial – apenas com o paisagismo básico –, diferentes secretarias estaduais se dividirão na construção dos prédios. Posteriormente, haverá um chamamento público para definir a entidade que ficará responsável pela gestão do espaço e organização das atividades em parceria com projetos locais.
“Este espaço já estava destinado e sonhado, desde 2000, como um espaço de educação, contribuindo para a construção de um bairro educador. Sempre foi uma luta e um sonho de todas as associações”, diz a presidente da organização Unas Heliópolis e Região, Antonia Cleide Alves, que mora na favela desde o seu início.
A ocupação da área, aliás, tem o carimbo da própria Prefeitura que, em 1971 e 1972, resolveu acomodar ali moradores retirados de outras áreas da cidade. O que era para ser provisório virou permanente. Heliópolis cresceu e hoje se espalha por 1 milhão de m².
Colorido
Cerca de 1,2 mil casas viradas para o parque estão sendo pintadas e passando por melhorias internas proporcionadas pelo programa Viver Melhor, da Secretaria de Habitação. Os muros coloridos se espalham por toda a extensão do parque, mas as cores nem sempre agradam.
Corintiano, o fiscal de transporte público e MC Léo Bezerra, de 24 anos, brinca que, infelizmente, a casa de sua família foi pintada de verde. “É que a dona é palmeirense, deve ser por isso. Mas as cores estão bonitas, sim, dão uma ‘miragem’ melhor”, admite, em referência às cores do Palmeiras. Os moradores contam que puderam escolher as cores das fachadas, mas, na parte de trás, foram sugeridos tons específicas para dar contraste.
Responsável pela obra, o presidente do Fundo Social, Fernando Chucre, espera que o projeto gere impacto na comunidade. “Esse modelo, de inserção de equipamentos e serviços públicos de várias secretarias em áreas de extrema vulnerabilidade, tem um poder transformador territórios e sua população”, afirma.
“O parque está em um ponto estratégico da favela, atende a todos, e é isso mesmo que precisamos. Heliópolis tem potência, precisa de oportunidade”, resume o presidente da Central Única das Favelas (Cufa-SP), Marcivan Barreto.
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