A tentativa de assalto que terminou na morte do genro do ex-médico Roger Abdelmassih e de outros dois suspeitos no Morumbi, neste domingo, 26, surpreendeu e chocou moradores do bairro nobre da zona sul. Entre as marcas visíveis estão as de tiros na entrada da garagem do condomínio que foi palco do tiroteio. Entre os sinais menos explícitos estão o medo, a sensação de insegurança e a incredulidade dos vizinhos.
A estudante Morena Pamella, de 19 anos, ficou assustada por imaginar que toda a tragédia aconteceu num domingo à tarde, período em que os moradores saem para passear com os cachorros ou vão buscar uma pizza na esquina. “É assustador imaginar que três pessoas morreram quase do lado da sua casa.”
O crime assustou até quem está preparado para situações-limite. “Eu estava saindo do trabalho quando ouvi os tiros. Eu voltei para o prédio e fiquei dentro da guarita, que é blindada. Foram mais de dez tiros, uma sequência longa, que demorou um pouco”, contou um dos porteiros que trabalha na região há 19 anos.
Imagens de câmeras de segurança mostram quando Denis Roberto Piccoli Ramos, de 53 anos, chegou ao prédio onde mora, em uma motocicleta, com Soraya Ghilardi Abdelmassih, de 55, filha do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por crimes sexuais contra pacientes.
A abordagem dos bandidos aconteceu quando eles se aproximavam da garagem, na Rua Américo Alves Pereira Filho. Um dos criminosos apontou uma arma e atirou pelo menos duas vezes nas vítimas. Nesse momento, um policial militar de folga que passava pelo local, também em uma moto, parou na rua. Ele sacou a arma e atirou nos bandidos. Houve troca de tiros.
Os três criminosos acabaram baleados; o policial não se feriu. Denis e dois suspeitos acabaram mortos; um terceiro foi socorrido com vida para um hospital da região.
Testemunhas afirmam que os assaltantes perseguiam a moto de luxo BMW F 850 GS A, avaliada em cerca de R$ 80 mil, desde a Marginal do Pinheiros. O policial teria percebido a movimentação estranha e também acompanhou o grupo. A polícia confirma que as primeiras investigações apontam que o foco dos bandidos era mesmo a moto de luxo.
Segundo o registro do boletim de ocorrência, Soraya disse que notou quando o marido acelerou mais, “como se estivesse fugindo de algo”. Ela se abaixou ao ouvir os tiros e não conseguiu relatar mais detalhes. O boletim de ocorrência também não traz a dinâmica dos fatos relatada pelo agente no momento da intervenção. Moradores contam que tentaram se proteger quando ouviram os tiros.
Na manhã desta segunda-feira, as marcas dos tiros ainda eram perceptíveis nas paredes do condomínio, principalmente na entrada da garagem. Síndicos e zeladores não quiseram conceder entrevistas.
Moto de R$ 80 mil seria o alvo dos criminosos
Um vizinho conta que o modelo da moto conduzida por Denis tem atraído a atenção dos bandidos. “Um amigo foi perseguido na Marginal Pinheiros exatamente por causa dessa moto. Ele foi atingido pelos bandidos e acabou falecendo há dois meses. Levaram a moto”, conta o morador da região que prefere não se identificar.
A tentativa de assalto trouxe um clima de medo para os vizinhos. Uma moradora do prédio, que prefere não se identificar, afirma que todos ficaram proibidos de sair do prédio até o início da noite. “Nós recebíamos mensagens nos grupos de Whatsapp, mas muitas eram desencontradas. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo”, conta.
As pessoas estão tão assustadas que preferem não se identificar. E, quando relatam sua visão dos episódios, palavras como “medo”, “desespero” e “insegurança” são frequentes.
Ainda de acordo com os moradores, a região, área nobre da cidade, é relativamente tranquila e conta com a atuação de empresas de segurança privada. Os relatos de ocorrências mais graves se referem ao roubo de aparelhos celulares nos congestionamentos da Avenida Duquesa de Goiás.
Familiares e amigos de Abdelmassih não quiseram se manifestar sobre o assalto. O médico Roger Abdelmassih, 80 anos, foi condenado a uma pena de 173 anos de prisão após ter sido denunciado pelo abuso de 37 pacientes. Há duas semanas, o Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou o pedido de prisão domiciliar solicitado por sua defesa.
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