Marcada para ocupar o Largo do Arouche a partir das 10h da próxima sexta-feira, 17, dois dias antes da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a 5ª edição da Marcha do Orgulho Trans pretende recobrar o protagonismo de travestis e transexuais. Por anos, a população transgênera se queixa que não tem espaço entre as outras letras da sigla e que suas demandas não recebem o mesmo nível de atenção que a de homens gays ou mulheres lésbicas.
O movimento de “separar” os dois eventos com apenas dias de diferença entre um e outro não é novidade. Em São Paulo, a motivação por trás da Marcha do Orgulho Trans segue os mesmos princípios estabelecidos em outras capitais do mundo, como São Francisco, Londres e Nova York.
“Ela acontece na sexta antes da Parada porque é o mês do Orgulho LGBTQIAP+ e as pessoas conhecem a parada como ‘gay’. (A maioria) não fala LGBT, muito menos trans”, explica Pri Bertucci, idealizador e produtor executivo da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo. “Há muito tempo a gente reivindica espaço, mas não existe.”
À frente dessa primeira incursão da “marca” Trans Pride no Brasil, que reuniu 5 mil pessoas na primeira edição, Pri acredita que a parada virou “um carnaval fora de época, com uma indústria de milhões e que não fala de direitos”. Ele também defende que há uma “percepção geral da comunidade” de que não existem pessoas trans pretas nesses eventos, um problema não só no Brasil, mas no mundo. “Fomos nós que botamos a cara a tapa pra esse mês realmente acontecer.”
Já Roberto Viterbo, vice-presidente da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, defende em entrevista ao Estadão que o evento sempre teve a presença de pessoas trans, desde a primeira vez que ele foi, em 1999. Também aponta que pautas como a Lei de Identidade de Gênero são defendidas pelos organizadores e que apoia instituições como o Casarão Brasil e a Casa Florescer, voltadas para o acolhimento da população transgênera.
“Elas sempre estiveram ali com a gente, a participação sempre aconteceu. Mas não fazemos isso com uma pessoa individual. Mas o que essas pessoas fizeram na pandemia, por exemplo, para ajudar?”, questiona Viterbo.
Algo com que as duas partes concordam, entretanto, é que a Parada nem a Marcha devem ser espaços necessariamente de política partidária, por mais que a maioria ou totalidade dos parlamentares associados aos dois eventos seja de esquerda.
Enquanto Viterbo defende que o tema da Parada é por uma “política que representa, independente de ser esquerda ou direita”, Pri afirma que todos saímos perdendo “com a polaridade”. “Tudo é política. Política em ação e movimento é ter um trio na rua com homens trans pretos e travestis. A presença de parlamentares que estão mudando o cenário desse país”, aponta.
“A marcha é apartidária. Não vamos levantar bandeira de partido político, mas estamos fazendo política”, completa Pri. Mas apesar de tudo, ele também diz estar cansado de ver tanta “briga interna” na comunidade. “Quem ganha com isso é só o próprio sistema de opressão. Precisamos chegar a um lugar único e encontrar o que temos de denominador comum.”
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