Margens do Rio Pinheiros ganham rampas para capivaras; veja fotos

Estruturas ajudam a mitigar o impacto da construção de 18 quilômetros de muros sobre a fauna local

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

As 120 capivaras que vivem no Rio Pinheiros, na capital, ganharam atenção especial durante as obras de revitalização da ciclovia e do Parque Bruno Covas. Com a construção de 18 quilômetros de muros de gabião para a contenção das margens, foram construídas também 74 rampas de acesso para os animais. Com isso, as capivaras adultas e os filhotes podem deixar o rio e fazer caminhadas pelas margens quando tiverem vontade, sem serem contidas pelo muro íngreme. Especialistas dizem que as rampas mitigam o impacto da obra sobre a fauna do rio.

As obras foram concluídas em dois anos e abrangem também a restauração de 11 quilômetros da ciclovia da Marginal Pinheiros. Os muros de gabiões são estruturas de contenção e estabilidade das margens, compostas por pedras e arame galvanizado, que se adaptam ao formato do solo, suportando as deformações. Com o tempo, as estruturas são incorporadas à vegetação, tornando-se parte do ecossistema local, sem prejuízo estrutural.

Capivaras podem deixar o Pinheiros e fazer caminhadas sem serem contidas pelos muros construídos às margens do rio. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
  • As rampas têm cerca de 2,5 metros de largura e foram construídas com as mesmas pedras dos gabiões, mas possuem uma faixa central de cimento liso para facilitar o acesso de animais que rastejam, como cobras, lagartos e tartarugas.
  • A sugestão de construir os dispositivos foi feita pela ativista Mariana Aidar, do Centro de Apoio e Proteção Animal (Projeto Capa), e acatada pela equipe técnica do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), que elaborava o projeto da estrutura de contenção.

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O projeto oferece assistência e cuidados aos animais que vivem nas margens do rio e ao longo da ciclovia. “Quando vimos que estavam iniciando a construção dos gabiões, procuramos o DAEE e propusemos as rampas, o que foi acatado prontamente. Minha sugestão é de que houvesse rampas nos locais de concentração dos grupos, mas foram feitas em toda a extensão, o que é muito bom, pois permite o acesso também de outras espécies”, disse.

Segundo ela, são cerca de 20 espécies de animais silvestres que vivem no entorno do Rio Pinheiros. “Há muitas aves aquáticas, mas já vimos ratões-do-banhado, tartarugas e cágados, alguns inclusive usando as rampas. Elas servem também para répteis, como cobras e lagartos”, explicou. O Projeto Capa está realizando uma nova contagem das capivaras, trabalho que deve ser concluído em agosto. A população estimada é de 100 a 120 indivíduos.

Mariana defende que qualquer intervenção no Rio Pinheiros passe por licenciamento ambiental, devido à sua biodiversidade. “Em março, quando o nível do rio estava baixo, registramos a presença de um grupo de colhereiros, aves que não são comuns na capital. Elas estavam de passagem e pararam para colher alimento no lodo do Pinheiros”, contou. As aves pernaltas, de plumagem rosada e bico longo em forma de colher, chamaram a atenção de moradores.

Rampas têm cerca de 2,5 metros de largura e faixa central de cimento liso para facilitar o acesso de animais. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Para o biólogo Maurício Forlani, mestre em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP), o ideal seria um rio com suas margens naturais para o animal subir e descer onde quisesse, o que é difícil na região central de uma metrópole.

“O muro de gabião traz uma perda na mobilidade dos animais que é mitigada pela construção das rampas, que me pareceram ter dimensões apropriadas. É a solução possível, embora não estivesse no projeto original. Sem elas, provavelmente capivaras e ratões-do-banhado morreriam”, disse.

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Forlani esteve nas margens do rio e observou que as capivaras já estão usando as rampas. “Como estão instaladas a uma distância razoável uma da outra e nos dois lados do rio, acredito que elas estão dando conta da mobilidade da fauna, inclusive de tartarugas e outros animais. O que ainda falta é uma contenção com alambrado ou muros new jersey na parte final do Rio Pinheiros, próximo ao Cebolão, para evitar que as capivaras adentrem as pistas da marginal. Temos registros de acidentes e, como são animais de grande porte, há risco também para as pessoas”, disse.

A Companhia de Engenharia de Tráfego informou que existe sinalização de advertência de circulação de animais silvestres instalada ao longo das Marginais para orientar os motoristas a respeito da presença das capivaras.

A revitalização das ciclovias do Parque Bruno Covas e do Rio Pinheiros incluíram a melhoria do asfalto, pintura e sinalização. As obras foram realizadas pelo Consórcio Renova Pinheiros, formado pelas empresas FBS Construtora e DP Barros. Cerca de 350 colaboradores e 70 equipamentos, inclusive fluviais, como barcaças, plataformas e rebocadores, foram utilizados nas obras.

Foram construídas 74 rampas de acesso para os animais junto às obras de revitalização da ciclovia e do Parque Bruno Covas Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O engenheiro Emanuel Silva, da FBS Construtora, disse que as rampas foram dimensionadas no projeto para facilitar a mobilidade das capivaras, inclusive animais idosos e com filhotes. “Com as rampas, as capivaras que moram na região podem acessar normalmente o rio, principalmente para se alimentar, sem qualquer prejuízo ao ecossistema local”, afirmou.

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O DAEE confirmou que as rampas foram incluídas na obra por sugestão da ativista Mariana Aidar. Segundo o órgão regulador de recursos hídricos do Estado, a implantação de muros de gabiões evita a erosão e aumenta a capacidade do rio em absorver as chuvas e impedir enchentes. Os muros contam com uma rampa a cada 250 metros. O investimento no projeto foi de R$ 175,5 milhões.

A capivara, cujo nome na língua tupi significa ‘porco d’água comedor de capim’, é o maior roedor do mundo, chegando a pesar até 100 quilos. O animal tem hábitos semi aquáticos, alimentando-se de grama e vegetação aquática. Geralmente, a capivara vive em bandos, em banhados e locais próximos de cursos d’água, especialmente matas ciliares, mas também se adapta facilmente a ambientes urbanos, como aconteceu no Rio Pinheiros, em plena metrópole.

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