SÃO PAULO - O medo de um ataque do Primeiro Comando da Capital (PCC) levou moradores de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, a viverem uma quarta-feira atípica. Um boato sobre um suposto toque de recolher imposto em represália a um dos seis mortos pelas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na segunda-feira fechou escolas, creches, postos de saúde, uma unidade de pronto-atendimento e lojas do bairro.
José Carlos Arlindo Júnior, de 35 anos, era morador de Cidade Tiradentes e conhecido como um dos principais criminosos da região. Ele participava na noite de segunda-feira de uma reunião com outros suspeitos em um estacionamento na Penha, zona leste, quando foi morto pela Rota. Segundo a PM, uma denúncia anônima informou que o grupo planejava resgatar um preso no Centro de Detenção Provisória do Belém, também na zona leste.
Segundo moradores, os boatos começaram a circular na noite de terça-feira, 29. Supostos integrantes da facção teriam mandado que serviços públicos e comércio fechassem as portas depois do enterro do corpo de Arlindo, às 11horas de quarta. "Rolou esse papo e desisti de sair com as minhas amigas", disse uma atendente de 16 anos.
Nas ruas mais distantes, como a dos Gráficos, Pedreiros e Avenida dos Metalúrgicos, parte dos serviços públicos fechou. As Escolas Municipais Wladimir Herzog e Adoniran Barbosa e algumas creches também tiveram funcionamento prejudicado. "Pego crianças em nove escolas e todas estavam fechadas", disse uma condutora de van escolar, de 30 anos.
Fechado. No Pronto-Atendimento Doutora Glória Rodrigues dos Santos Bonfim, as portas de vidro estavam fechadas, apoiadas por cadeiras na parte interna. "Fiquei sabendo que tinha o toque de recolher, mas esperava que aqui estivesse aberto", afirmou uma garçonete de 25 anos que procurou a unidade para tratar uma conjuntivite. Nas ruas, porém, crianças sem aula brincavam à tarde. O transporte também funcionou.
Delegado titular do 54.º DP (Cidade Tiradentes), José Ademar de Souza afirmou que suas equipes fizeram diligências pelo bairro e não encontraram nada que justificasse o temor da população. "Quem fechou foi por conta própria."
Na terça-feira, 29, a polícia chegou a abordar cerca de 20 suspeitos que estavam reunidos na Rua Edson Danillo Dotto, mas eles negaram que pretendiam promover qualquer toque de recolher.
Segundo Souza, Arlindo era conhecido pela polícia e estava intimado a comparecer no dia 5 ao 54.º DP após uma denúncia de que ele e colegas consumiam drogas no condomínio onde vivia.
Execução. A polícia ainda não havia divulgado até as 20h desta quarta-feira, 30, o nome do suspeito executado pela guarnição da Rota onde estavam o sargento Carlos Aurélio Thomaz Nogueira, de 42 anos, soldado Marcos Aparecido da Silva, de 37, e cabo Levi Cosme da Silva Júnior, de 34. Os três foram presos em flagrante, depois que uma testemunha ligou para o 190 e narrou em tempo real a execução, na Rodovia Ayrton Senna. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.
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